sexta-feira, 30 de novembro de 2007

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E lá longe, na terra em que a água corre de baixo para cima e os dias não acabam nem começam, nessa terra onde, se calhar, dançam pequenas criaturas verde-alface ou então enormes seres amarelos com pés de barro vermelho. No lugar que fica entre aquelas duas estrelas bem pequenas, mas nem por isso pouco brilhantes, lá, lá longe, haverá música?

Avesso

Como se no mais simples dos dias tudo houvesse à volta. O mar ali ao lado em forma de rio sujo, o horizonte em forma de casas que crescem rumo ao céu. Os sorrisos nas caras mais fechadas que nunca, os risos também nas discussões fúteis travadas nas esquinas. O querer no não querer de quase todos o sentir que sim no não dos seres à volta. O ver, o ver de olhos fechados, mais que ver para dentro, ver para fora. De olhos fechados.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

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Se calhar está mesmo escrito nas estrelas ou na palma da mão. Pode estar até rabiscado nesses graffities que se vêm nos comboios, Quem sabe se anda a a boiar numa garrafa fechada atirada ao mar num dia de sol. Andará a boiar numa garrafa fechada atirada ao mar num dia de chuva?

Vejo as frases espalhadas por ai como peças de um puzzle enorme, peças soltas, já vistas, todas, fora de ordem, algumas. Partes construidas, muitas por juntar ainda, vê-se um pouco de relva no chão, azul no céu, algumas nuvens e o que para já parece ser uma estrada. Há bocados de casas também, ou então são só casas aos bocados.

Num canto já acabado está uma lata velha, numa parte grande que parece ser o meio há uma mão pequena que segura um pedaço de corda. Olho outra vez para o grande monte e reparo que há uma peça branca, ou então em branco. Logo verei onde a encaixar, um destes dias em que o tempo queira voltar a correr sem ritmo, ora depressa, ora devagar e não nesta cadência certa de relógio afinado em que as horas teimam em durar da mesma maneira.

domingo, 25 de novembro de 2007

Histórias

E lá longe, quase no fim do mundo os carros despistam-se do nada. E do lado de cá ouvimos o que nos dizem e lemos o que nos escrevem, depois, há quem sinta o que os senhores pretendentes a deuses querem que se sinta.

Há quem não sinta assim, há até quem desconfie que como se acrescentam pontos à medida que os contos se vão espalhando por ai, também as linhas se podem tirar às histórias. Às histórias sim, à história não, porque essa fica lá parada algures no tempo até que haja quem a queira contar sem pontos a mais ou linhas a menos.

E um dia, talvez todos venham a saber que lá longe, quase no fim do mundo, os carros raramente se despistam do nada.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Mala

Ao fundo da rua tudo igual, como sempre. As caras ao longe parecem sempre iguais. E logo à noite, na televisão à hora certa lá estarão as noticias mais a novela a seguir. Tudo certo dia após dia.

No meio da estrada vai o cego, perdido que ficou pelo carro estacionado no passeio, segue rumo ao destino, rumo às quatro rodas que se aproximam pela frente. Houve uma mão desta vez, haverá da próxima?

Ao fundo da rua alguém mata, outro alguém morre, um pouco mais ao lado um carro bate, ouvem-se gritos, sente-se o cheiro da borracha no ar. Mais uma sirene, mais barulho, mais, mais, mais, sempre mais... Na porta da frente há quem dê por falta do velho, há quem o procure, há quem o encontre quase desfeito, ainda feito em manjar dos ratos que lhe vão devorando o que resta do pescoço, outrora suporte da cabeça.

No cimo da rua passa o homem com a vida na mão dentro de uma qualquer mala negra, vê casas e fatos, vê carros e luzes e folhas caídas e pouco mais, que a chuva molha-lhe os óculos e turva-lhe o olhar. Ah! Não tivesse ele os óculos e tudo seria diferente, aí sim, poderia sentir-se culpado pelo encontrão que deu ao puto que destilava sonhos encostado a um poste. Não os tivesse e já poderia sentir culpa em si. "Ainda bem que os tenho", logo sussurra aos seus botões enquanto apressa o passo para chegar a casa antes das oito.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

...

Não sei se tempo, não sei se espaço, não sei se deus ou diabo. Não sei o que me empurrou para esta espécie de lugar onde estou. Sei que estou longe, longe de tudo, longe de mim até. Em vez de arco-iris há só as cores desbotadas à minha frente. Persistem só os gritos e as frases de sempre daqueles que vivem em torno da linha traçada sabem lá por quem.

Tive um dia, uns dias, uns anos, um cão mais que gente. Curiosa esta maneira de olhar para as pessoas. Abaixo de cão, algumas, muitas. Morreu num dia de chuva com os olhos vermelhos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O drama em tons de amarelo

Estavam estragados, os ovos...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Entrelinhas

Mesmo quando não as há, perco-me nelas.

domingo, 11 de novembro de 2007

bip

Ecoam ainda as vozes nas ruas escuras, fazem-se ouvir silêncios nas praças vazias...

O castelo que sobrou do tempo

Olho agora do lado de fora para o castelo erguido. Reparo que está pintado de fresco. Tem paredes azuis e girassóis a florir nas varandas. Lá no cimo tem janelas largas, varandas grandes e um enorme terraço no topo, de onde se podem ver as estrelas nas noites quentes de verão quando o sol por fim se põe e o mundo pertence menos às pessoas e mais aos animais e sonhadores de sonhos(será redundante?).

Do lado de trás da torre redonda vê-se o mar ao longe, da frente avista-se um enorme jardim de flores de algodão plantado em dias de chuva miudinha que quase não podia molhar. Tem muralhas, o castelo, pequenas, mas muralhas. Tem também escadas em caracol e poemas nas paredes. É tudo isto e muito mais a espécie de fortaleza que fomos erguendo ao ritmo das palavras e das noites e dos sons e da vida e de tudo o que o tempo nos deixou. É nosso. É o nosso castelo e nada nem ninguém o pode deitar abaixo. Tanto tempo demorei a perceber o quase óbvio. Seria impossível que com alicerces tão bem feitos se desmoronasse assim de um dia para o outro.

Lá está, cá está no meio do nada e sei, sabemos, que a cada dia pintaremos mais uma parede, abriremos mais uma janela... Sei, sabemos, que a vida não pára, mas o castelo estará sempre lá para nós.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Azuis

O espaço em frente para lá do sufoco da cidade que se deixou ficar do lado de trás dos carris. A ténue linha que separa os dois azuis, a silêncio das garrafas espalhadas pelo chão, o murmurar calmo das ondas e o brilho da manta de água visto lá do cimo das pedras que impedem a passagem para outro lado.

Toda a paz do mundo, ali, numa meia dúzia de metros quadrados. E até lá, longe de tudo, há uma cara branca e sorridente que faz atravessar a estrada para colar os olhos a um vidro e pensar no corrupio da cidade sufocante onde não deixo de voltar.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

9:23

Rumo à paz do fim da terra...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

"Há quanto tempo não te via!"

E nos dias em que o sol teimava em não brilhar, chegavas com todas as tuas histórias e mundos e vidas e sei lá que mais e punhas-te a perguntar o porquê de haver pessoas de bigode. Depois, quando se acababa mais um cigarro e respiravas fundo pensando em tudo e no nada ao mesmo tempo, quando naquele instante todo o mundo se apoiava em ti e te secava, depois sorrias e tudo voltava a ser igual.

Agora voltas com a tua cara séria de menina grande que parece presa a um qualquer futuro e tens medo de sorrir, mas não não és capaz de deixar de ser o tal bicho com asas... Ao primeiro espaço divagas e falas de mundos que só podem ser teus, deixas-te levar até que chegam novamamente as correntes que te prendem a alma cansada que trocaste por um beijo de boa noite todos os dias.

Eu olho e sei que ainda és tu, sei que ainda estás ai, por detrás dos olhos azuis que também sabem sorrir. Ainda um dia vamos ajudar a mover o mundo a sonhos. E desta vez não estamos sós...

domingo, 4 de novembro de 2007

Fugir

Quero fugir. Quero fugir sabes?

Pegava ainda hoje no pouco que tenho e ia embora para um qualquer lado desde que fosse longe. Não sei para onde, se calhar nem queria mesmo saber para não correr o risco que me fossem buscar. Precisava de voltar a ver o sol morrer à tarde sem casas a frente, precisava de não ter de acordar e fazê-lo só porque sim, precisava de desligar. Sem rumo, sem lugar, sem destino.

Ando cansado, cansado dos vazios que vejo e sinto nos olhos que todos os dias me aparecem a frente. Tão frios, todos tão frios, tão distantes. Lá aparece de vez em quando um outro mais brilhante qual excepção que confirma a regra, mas nada mais que isso. Olhos tristes em corpos que se arrastam... Tanto cinzento, tanto, tanto.

E é por isso que me vou deixando ficar perto do arco-iris, quando o vejo, quando o sinto, porque fujo sem mexer os pés e descanso nesse gomo laranja que poucos conseguem ver, é por isso que o vou procurando. Pela paz que se forma entre dois sorrisos mesmo que por breves segundos, por vezes algumas horas. Ainda quero fugir sabes? Para algures onde haja azul e gritos de gaivotas pela manhã...

Algo

Uma espécie de maneira de dizer palavras a que alguém chamou lingua. É bom (re)encontrar pessoas que falam a mesma.

- E então aquelas pessoas sonhavam e a nave mexia-se com a energia libertada pelos seus pensamentos, através dos tais psitrões.
- Uma nave movida a sonhos?
- Isso, é isso.
- :)

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Hoje

Milhares de pessoas rumando a lugares próximos, cidades afastadas, aldeias distantes... Todas numa correria infernal para ver pedras brancas ou negras, até mesmo casas, campas e jazingos e montes de terra. E lá vão elas e levam as flores e gastam o dinheiro e acendem as velas e queimam a cera e observam as fotos meio amarelas para se lembrarem das caras que o tempo lhes foi apagando da memória.

Terra e pó, nada mais que isso, lá, no fim de tudo. E o que fica é tudo o resto, ficam as palavras e os olhares e as casas cor-de-rosa e o cheiro a café pela manhã e os frascos de doce com canela. Para lá do que existe, para lá das pedras frias que são nada, resiste o ser em quem o lembra, talvez por nunca ter esquecido.

Cai a noite e céu reflecte a luz que ainda vai ardendo em copos de plástico vermelho, murcham as flores. Para o ano voltarão sem saber bem porquê. Não vou, não preciso. As flores dão-se em vida...

#10

-Porque é que se morre?
-Talvez por não se sonhar bastante...

Fernado Pessoa, O Marinheiro

Upstairs