quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Cinza

O cinza de cima conta as núvens e um outro mostra o céu. Mais azul, um, mais negro, o outro. À frente, o cinzento das grades que encerram nada, e debaixo, a cor da cadeira que segura o corpo também não muda. Cinzento o rio que corre ao fundo e até o verde das árvores parece ter mudado de cor.

O chão sempre foi uma mistura de preto e branco e reparando bem, nem as telhas da casa velha são laranja como as restantes. Na linha passa o comboio, invariavelmente cinzento, agora limpo que foi dos graffitis arco-iris.

Ao lado, as caras cinzentas, falam do cinzentismo da vida e tudo parece ter sido pintado por um inconsciente qualquer. Talvez um daltónico a querer vingança.

Depois fecho os olhos e vejo as mil e uma cores dos peixes que teimam em saltar da àgua para os barcos que não há ao som de um qualquer louco que grita "PEIXE, PEIXE, PEIXE!", embalado por marés de campainhas. Saltam os peixes e chovem sapos. O cinzento deixa de fazer sentido com os olhos fechados, e ao voltar a abri-los a cidade é toda luzes.

As núvens foram empurradas pelo sol, o rasto laranja pintou o céu e o pescador terá um grande jantar ao chegar a casa.

1 comentário:

Sónia disse...

...uma das coisas que aprendi a ver nas cidades e a apreciar são as cores, hj vista da ponte, Lisboa era toda cinzenta... às vzs tem muitíssimas cores, realmente... ver as cores das cidades, como elas mudam diariamente, mensalmente, como mudam até em fragmentos de segundos... realmente as cores são uma das partes mais importante da paisagem... vendo bem, paisagem é isso mesmo, a soma das cores e das formas... é o que nos alegra, que nos entristece, que nos toca ou não... e dia após dia, cada vez tenho mais certeza que uma das melhores coisas que existem é apreciar a paisagem, paisagens naturais e humanizadas, mesmo que seja para dizer que não se gosta, porque ninguém pode não gostar senão apreciar...

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