quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

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"And I asked old Jack, "Do you remember the night
When the sky was so dark and the moon shone so bright?
When a million small children pretending to sleep
Nearly didn't have Christmas at all, so to speak?
And would, if you could, turn that mighty clock back,
To that long, fateful night. Now, think carefully, Jack.
Would you do the whole thing all over again,
Knowing what you know now, knowing what you knew then?"

And he smiled, like the old pumpkin king that I knew,
Then turned and asked softly of me, "Wouldn't you?""

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Passo

Estúpido engano este de pensar que os pés não são só nossos. Lembro-me de em tempos me criticarem o passo. Ora largo, ora breve, mas nunca o passo certo. O meu passo, sempre o meu passo.

Lembro também os dias em que as verdades absolutas eram nada mais que mentiras aos olhos dos outros, lembro tudo isso com o sorriso que se pode ter na cara tantos anos depois... Assim como recordo alguns dias, poucos, em que me apareciam certezas pela frente. Ir, ir, ir...

Falava contra o eco cruel das paredes pintadas de fresco. Ganhava forma o magro deus egipcio. O bem, o mal e a balança! Houve depois um dia em que tudo foi falso. Houve tempos para lá do dia em que tudo foi falso em que existir doía, doía demais. E doía querer e não ter, doía não poder ir. Mas a dor aguenta-se e faz-nos sentir. Transformei o não ter em não querer e o não poder ir em falta de vontade. No fundo, lá bem no fundo, continuavam a latejar os sonhos. Ir, ir, ir...

Tantas vezes a maré subiu e desceu, tantas vezes a vi depois de umas horas passadas entre carris e apostas. Tantos dias o sol se pôs. O passo. Mais uma vez o passo. Tentaram então acompanhá-lo. E acreditei que afinal fosse possível, acreditei que não poderia haver uma só medida criada propositadamente para mim. Acreditei até ao dia em que vi as cordas que prendiam as pernas. Era falso o andamento. O passo era só meu. De nada valia a vontade de o acompanhar por parte de outro alguém.

Segui sozinho o caminho, o meu caminho, por vezes sozinho demais, encontrei então à beira da estrada um pequeno monstro. Demos as mãos. Ouvi vezes sem conta as palavras que me mostrou. Ainda hoje as trago comigo.

Tempo, tempo, tempo... Passaram os dias e as gentes por mim, poucos guardei, poucos quis guardar. Eu e o monstro. À medida que os dias passavam perguntava a mim mesmo o quão justa seria a balança do tal senhor. Um deus por inteiro. Não era um semideus como se acham tantas das criaturas por este mundo fora, logo deveria ter alguma justiça em si. Morte, morte, morte, morte... Ir, ir, ir... O meu passo, eu e o monstro.

Subiram e desceram novamente mil e uma marés. Girou o mundo, cairam do frágil trapézio mihões de almas e mais uma vez pensei ser possível. Quatro pernas a caminhar lado a lado. Esquerda, direita, esquerda, direita, cadência quase perfeita. Quase. Isso. Quase, nada mais.

Sei agora mais que nunca que o passo é só meu e que a paz está no fim da linha, no fim do doce embalo da velha carruagem sem rumo. Ir, ir, ir...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Para lá do nevoeiro

A imagem de um velho de barbas conversando alegremente com uma menina simpatica. Juntaram-se por estes dias a uma qualquer esquina por mero acaso. Perderam-se nas palavras, inventaram jogos novos e riram, riram até não haver dias nem noites nem nuvens nem chão nem nada mais que não eles.

Sem tempo (coisa que não existe nas esquinas daquela terra) esqueceram-se do poder que têm, nem mais se lembraram que deles dependem algumas almas e muitos gestos. Então o riso não parou. Nem as brincadeiras por entre os olhares de uns quantos mais personagens daquele mundo estranho. Até Baco, por norma ausente da razão, se sentou por momentos a tentar perceber o porquê de tanta euforia.

Enquanto isso, longe, bem longe, tão longe que quase perto, vagueiam noutro mundo, noutra terra, outros seres. Incrédulos. As palavras, cruzadas, quase iguais, encontradas à mesma hora. O rio com dois sentidos, a mesma água. Toca o relógio, voam as letras. E por breves instantes, os risos e sorrisos não pertencem só ao velho de barbas e à menina simpática, mas também a quem nunca deixou de acreditar que eles existem algures...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

#16

E por meia duzia de papeis coloridos tudo se faz. Volta o corpo, fica o resto. Papoilas e memórias do pó e da falta. Falta de tudo, faltava tudo. E agora que tudo há, falta pouco.

Depois, já tudo se questiona. Para que serve um carro sem motor?

#15

Quando encontrar as palavras hei-de deixar aqui mais algumas...












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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Iguais

Um mundo à parte, um reino diferente. Todos iguais. Milhares de personagens frágeis em busca de um qualquer elixir mágico que lhes devolva um pouco de algo que nem sabiam ter. Centenas de batas brancas e um cheiro que se entranha no ser.

Formigueiro imenso. Trocam-se os papéis e quase rio ao pressentir a impotência de muitos que durante toda uma vida deram talvez importância demais a meia dúzia de números. Vergam-se agora ao peso das carteiras que trazem debaixo do braço.

Olham para o lado e vêm-se sós, num mundo que fingiam não conhecer. Chegados à fila da morte, tentam voltar atrás. Tarde demais. Ali são todos iguais e já não há excepcções à venda...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Quase

Tenho saudades dos dias em que quase chovia, em que quase aparecia o arco-iris, em que o quase era toda uma vida.

Saudades de não ter de marcar hora para a consulta, saudades das visitas de médico quando o tempo se fazia curto e mole.

Saudades das palavras que quase se diziam e dos saltos que quase se davam.

Saudades de acordar quase feliz.

Barco

Pouco acima do rio, há um barco que navega todos os dias ao sabor do vento. Pergunto-me quantos dos que passam por ele todos os dias já o viram.

Indiferente, a quem vê, a quem sabe, a quem olha, a quem sente, naufraga em torno do seu eixo ferrugento.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Rumo

Gostava por vezes de escolher o caminho. Pensar e ponderar e isso tudo. Fazer o mapa e tomar as decisões de amanhã e depois. E prever as viragens, congelar as palavras, pré-fabricar os gestos.

Lembo-me muita vez dos comboios e das linhas, tão certas, tão certas, tão certas... As agulhas lá no sitio. Esquerda, direita, linha um, linha dois, linha infinito mais mil. Tudo estudado e mais que previsto, ao minuto, ao segundo...

Mas não. Habituei-me a andar a pé e a desviar-me das pessoas mais mal cheirosas que encontro nos passeios. Na hora. E tantas vezes me engano no caminho, tantas vezes perco o fim, tantas vezes vagueio sem rumo.

E é por isso, só por isso e por algo mais que não sei explicar, só sentir. E há dias em que existir dói. Há dias em que ser cansa. Sobram outros em que se percebe que a dor nos lembra estarmos vivos e o cansaço nos ensina a aproveitar a paz saida de um mar laranja e feliz.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Tempos

são velhas as canções cantadas em dias de chuva no passar das horas que voltaram a perder o passo. são estranhos os refrões das canções velhas.

e no desenrolar vagaroso dos sons abre-se uma janela algures, para que o homem de dedos já queimados pelo tempo fume mais um cigarro ao ver os putos levados pela mão para longe. para bem longe do sonho cantado agora numa das velhas canções. é verde a janela. e de madeira.

amanhece mais uma vez...