quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Radar

Que somos nós? Navios que passam um pelo outro na noite,
Cada um a vida das linhas das vigias iluminadas
E cada um sabendo do outro só que há vida lá dentro e mais nada.
Navios que se afastam ponteados de luz na treva,
Cada um indeciso diminuindo para cada lado do negro
Tudo mais é a noite calada e o frio que sobe do mar.

Álvaro de Campos

2 comentários:

olhares... disse...

Compreendo a inquietação e questiono-me se não será esta aparente indiferença uma defesa... Enfrentar a realidade alheia chega a ser sufocante, de tão doloroso... E a impotência associada ao facto de não saber o que se fazer... ou de terem de ser tomadas medidas definitivas...

Viver consciente de que enquanto eu tenho uma cama e vários cobertores, há quem nem um tecto tenha para dormir pode ser perturbador demais...

continua a olhar...

Carla Luís disse...

Lindo, lindo!
Ando a ler Pessoa agora (de um modo geral, acho que agora é "moda"), veio mesmo a calhar. E a meditar... :)

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