sexta-feira, 26 de junho de 2009

Die mauer



às vezes parece que o tempo não nos ensinou nada...

Estações - Berlin

terça-feira, 23 de junho de 2009

Quase

A palavra toma a forma de algo mais e no fundo será sempre a falta de algo a comandar o lado para onde o mundo há-de girar enquanto, ironia estranha, as borboletas entram no quarto pela janela entreaberta e esvoaçam embalando os olhos de um corpo sem sono.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Tamanduá


"o sol espeta-me agulhas nos olhos: agulhas feitas de linhas de luz. Mas continuo sempre, continuo sempre, continuo"

José Luís Peixoto, Cemitério de Pianos

domingo, 21 de junho de 2009

Tijolo sete

O céu por cima, piceladas de nuvens no tecto azul. Um sotaque meio manhoso e a espécie de casa a muitos metros de distância. Talvez anos-luz. As mais que vistas uvas de barro coladas à parede e o chão quase de pó agora coberto por ladrilhos frios, gelados. A canção-vida-destino-história numa voz desafinada. Coisas simples. Tudo coisas simples e uma luz que teima em não acender.

Tic-tac...

da palavra

"Aprendemos desde pequenos que saudades são coisas boas. Vem nos livros. Conhecemos os poemas de cor. Se a alma dói, dizem-nos que é sinal que se tem qualquer coisa no peito com que doer. Se nos lembramos sem nos querermos lembrar de uma mão que não podemos agarrar, a deixar cair um cigarro, dum cais, dum riso, dizem-nos que isso é bom, que é uma prova de amor. É como dizer que deitar sangue da cabeça quando se bate com a cabeça no chão é bom, porque é sinal que se está vivo.

A ausência, estão sempre a ensinar-nos, é quase melhor do que a presença. A saudade embeleza os sentimentos. A memória melhora. As lágrimas lavam a vista. A saudade dói, mas é doce. É o que nos dizem."

Miguel Esteves Cardoso, A Aventura das Saudades
e era tão mais fácil quando num raio de sol se encontrava toda uma vida

terça-feira, 16 de junho de 2009

do ponteiro dos segundos

O bar mudou de nome, de cor, de gente, de gentes. Acabaram os pratos a voar e os gritos a meio da manhã e o relato da vida do Sr.Freitas. Acabou o preto sem que tal se pudesse evitar. Arrancaram primeiro o prego da parede para depois desaparecer a guitarra e qualquer dia serão as palavras na parede do outro lado...

E a Maggie, onde pára? E todos os outros que foram passando?

Agora até já se atravessa o rio por uma ponte nova. Apareceram livros, canções, filmes... Como é que é possível que se tenha vivido num tempo sem “Fon-fon-fon”? Criaram-se peças de teatro fantásticas e outras menos boas. Abriram bares, fecharam bares, bares mudaram de nome, mudaram de sitio. Acabou o D.D. e o karaoke da quarta também já não é na mesma rua. Também já não há a Chica para cantar e chorar depois aninhada no meio de um corredor.

Descobriram-se varandas, túneis, caves e peles de javali penduradas no tecto.

Dezenas de ovos a voar, um fósforo queimado, centenas de nomes, milhares de gritos. Quantos quilos de carne e batatas? Oito dias passaram a dez.

Rosas, girassois e flores de imitação. Comboios, aviões, autocarros, carros, pés, quilómetros, metros. Chãos de pó, chuva miuda, sol abrasador, brisas leves, areia, jardins. Caixas, ferramentas, o primeiro sábado do primeiro fim-de-semana de Setembro por volta das três da tarde.

Palavras a fazer doer mais que ferros em brasa cravados no peito.

Morte, morte, morte.

Casamentos, divórcios, zangas, partidas, ilhas.

Bengalas e identidades queimadas, fogo, chamas, quente. Andarilhos, sapatilhas amarelas, amanhecer, escadas, ruelas, pés descalços, corridas, “foda-se!”.

Caixas de correio, quartos, barris e copos. Personagens que vão e vêm e passam e entram e saem e desaparecem e reaparecem e desaparecem de vez e tudo isto ao ritmo marcado pelo tic-tac do velho relógio. Latas, garrafas, papel, preto, preto, preto, “vai!”.

Os mapas agora alinhados à direita da estante, o algodão a repousar ao lado e uma aranha a brincar no fio de teia que pende do tecto.

“O mundo nunca deixou de mudar mas lá no fundo é sempre igual”
.

Eles existem I

Enquanto as moscas batem na janela...

...descobri que tenho muitos problemas o número 2.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Não cá

Uma casa ao lado, trinta ruas à esquerda, no andar de cima, três andares acima, três quartos para a direita, algumas centenas de quilómetros para oeste, mil para sul. Algures noutro lado que não aqui, noutro eu que não eu mesmo, lá, além.

Restam os espelhos e os olhos para que o engano persista, para que tudo seja, aparentemente, normal.

Dói-me a cabeça embora não doia.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

(Um)a ironia

"Uma cidadã italiana que devia ter embarcado no voo 447 da Air France, mas não chegou a horas ao aeroporto, morreu num acidente de automóvel na Áustria."

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Junho, 10

No dia em que deixemos de pensar pequeno. No dia em que não se sonhe mais em ser a Califórnia da Europa.

No dia em que a Califórnia deseje ser o Portugal da América.

Será aí cumprido o destino.

Que levante

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!

Valete, Fratres.

Fernando Pessoa, "Nevoeiro"

terça-feira, 9 de junho de 2009

A cabeça explode ao som de gargalhadas mil dentro do sonho mal sonhado

Gargalhadas mil a acabar o sonho. Mais um.

Junho, 9

O medo.

O medo de abrir a porta e não haver mais chão para pisar como acontece naqueles sotãos, que por vezes se encontram por ai no meio de ruas semi desertas, sem escadas, só com um buraco tapado por uma porta de madeira.

Duas agulhas pequenas.

O papel de parede já gasto a chamar as unhas roidas, a noite na rua e o candeeiro de luz amarelada. Sempre a luz amarela a iluminar os sonhos. Amarelo até que nem é uma palavra feia. Outras há mais bonitas, alalia, por exemplo. Andarilho, terrina, lápis... Divagações parvas e o medo escondido debaixo do tapete.

Números na ponta dos dedos, à frente dos olhos, medidas e contas agora cada vez mais difíceis de fazer que isto das contas nunca foi simples que há sempre sempre alguém para lembrar que a distância entre dois pontos é sempre infinito. Sempre!

Lá em baixo há corpos que se arrastam rumo ao nada um pouco mais abaixo, ao fim da rua que é a descer. Lá em baixo não há sótãos e os monstros vivem na terceira casa do lado direito, toda a gente sabe.

É mais um segundo, minuto, hora, dia, mês.

Mas há frases que existem escritas por dentro da pele.

E o sol nasce às quatro e meia da manhã.

domingo, 7 de junho de 2009

Contas

1,
29,
682,
770,
68,
120,

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Junho, 4


"que a vida sem ti morreu"

terça-feira, 2 de junho de 2009

Números

Os aviões vão caindo pelo mundo,

"Todos os dias, há mais 6.800 pessoas infectadas pelo vírus da sida e morrem 5.700 doentes, de acordo com o relatório da ONU sobre a doença no mundo em 2007"

"Mais de três mil crianças morrem de malária por dia na África"

"Mais de dois milhões de pessoas morrem de fome a cada dia"

e ao cairem até que sentimos coisas estranhas e até que aparece logo alguém a falar nas mensagens de ultima hora, logo num lugar onde há tudo menos rede. Whisky, café e chá, vinho tinto talvez haja... Rede, podia haver até uma rede antes de chegar ao mar. E se houvesse tinham morrido menos duzentos e qualquer coisa. Duzentos e qualquer coisa mais um ou dois, os importantes, os que se conhecem que os outros serão sempre só numeros... Como os 5700 + 3000 + 2000000.

Afinal de contas não há-de ficar ninguém por cá. Mas quantos de nós não gastávamos um euro que fosse para salvar uma daquelas vidas? Até um bebé morreu...

Lembro-me agora dos que acusam o senhor Adolfo de ter tentado matar seis milhões. Isso dá três dias dos nossos não é? Ou será menos?

Matámos quantos hoje?

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Notícias

Junho, 1

Praha, 2009