terça-feira, 3 de janeiro de 2006

Vozes

Hoje ao passar os olhos pelo jornal cá do sitio descubro a carta de um senhor que acusa os estudantes universitários de serem grandes poluidores desta cidade. Diz a tal pessoa que frequentemente encontra garrafas de vidro aqui e ali, e que por vezes chega mesmo a ver passeios vomitados.

Eu nunca vomitei nos passeios de Coimbra e as garrafas vazias, ponho-as no vidrão. Está dito.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

O Concerto

Quase 48 horas após ter começado um novo ano o corpo ainda se ressente da última noite de 2005, ou será da primeira de 2006? Como não me lembro de muito mais para escrever, a propósito da sugestão da Carla, digam lá qual o concerto que escolhem para ver neste novo ano… Escolham a banda, ou os dias, ou os sítios… Ah, e ponham o Rock in Rio de parte. A minha sugestão é o "The Wall", no Atlântico, em Março.

sábado, 31 de dezembro de 2005

A new year is rising...

Hoje sem tempo para escrever mails, venho só desejar um bom ano a todos aqueles que aqui passarem.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

Lista de espera

Esta menina deixou aqui a deixa, para uma lista de desejos não realizados este ano. Aqui está:

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Vazia como não podia deixar de ser. Podia escrever que não ganhei o euromilhões, que não vou passar o ano onde quero e com quem quero, que a minha equipa continua uma miséria, que não consegui ir ver os U2 nem os Coldplay, os últimos por causa de uns ridículos 5 euros no dia errado. Que mais terei perdido este ano? Não sei, mas na verdade isso também pouco interessa, porque ganhei muito, e sem o que ganhei alguns destes desejos não realizados, nem sequer teriam sido idealizados, quanto mais cumpridos.

Balanço

Este ano que está a ir embora foi quase tudo menos monótono. Tirando certos dias é claro, mas há sempre uma excepção a confirmar a regra. Posso até dizer que tive um ano cheio, não necessariamente um ano em cheio.

Dividindo a coisa por partes:
- Conheci duas grandes pessoas, das melhores que já passaram pela minha vida;

- Comecei este blog, e hoje não passo um dia sem vir dar uma olhada (ao meu e aos outros);

- Descobri que nada é impossível e que sempre que acreditamos, somos capazes de tudo;

- Percebi que o mundo é muito mais pequeno do que imaginamos, e que no fundo somos todos iguais;

- Comecei a preocupar-me mais com certas pessoas que nunca vi do que com outras que passam todos os dias por mim;

- Aprendi a gostar de vinho tinto no dia em que reavivei uma amizade que estava quase esquecida;

- Descobri também uma menina que é uma excelente escritora e cantora;

- De repente ganhei a confiança de muita gente, não sei bem porquê;

Não sei que mais escreva, tenho tanta coisa na memória como por exemplo o dia em que fui apanhado no meio de um incêndio e vi a minha vida de pernas para o ar. E agora ao olhar para trás ainda me lembro como começou este 2005. Foi na Figueira, a ver foguetes estalar e a abrir garrafas de espumante reles… Este ano mais do que nunca tenho olhado para o mapa que tenho à minha frente e imagino-me em lugares onde nunca estive, mas onde espero vir a estar. E quero, quero que todos aqueles que andam por aqui e por ali à minha volta tenham muitos momentos de felicidade antes de morrer. Porque, mais cedo ou mas tarde, no dia em que menos esperarmos, lá estará ela a entrar sem bater à porta para levar mais um de nós ou então aqueles que andam cá por perto.

Seja como for para além de tudo isto encontrei-me outra vez, eu que andava perdido há três anos voltei. Consegui construir outra vez o meu mundo, pois só nele é que sei viver, só espero que agora que todas as pecas estão no lugar não apareça um qualquer tremor de terra ou tsunami que volte a deitar tudo abaixo. É o meu desejo para 2006!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

2005 Playlist (Qual foi a vossa?)

Acorda menina linda, Jorge Palma;

Breathe, Pink Floyd;

Consumado, Clã & Arnaldo Antunes;

Dumb, Nirvana;

Escuridão, Jorge Palma;

Fio de ariane, Clã;

Gelado de verão, António Variações;

Hearth shaped box, Nirvana;

Iquietação, J.P. Simões & Miguel Nogueira;

Jeremias o fora da lei, Jorge Palma;

King of pain, Alanis Morissette;

Letra S, Ornatos Violeta;

Music, The Gift;

Nós dois, Xutos & Pontapés

Outro mundo, Toranja;

Primeiro gomo da tangerina, Sérgio Godinho;

Que será de ti Lisboa, Quinta do Bill;

Rain, Guano Apes;

Serafim Saudade, Herman José;

Toi toi song, Southpaw;

Uma mulher da vida, Clã;

Vertigo, U2;

With my own two hands, Ben Harper;

X&Y, Coldplay;

You owe us blood, Blind Zero ;

Zombie, The Cranberries;

Uma música por letra, foram estes os sons que mais entraram pelos meus ouvidos este ano. Podem não ter sido as músicas do ano, mas ao ouvi-las daqui a algum tempo irei lembrar-me deste 2005 que está quase a acabar.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

O Ano em 26 Letras...

Alegre - O Manuel que não desiste;

Blogs - Um novo vício que me contagiou;

Clã - Cada vez mais a melhor banda nacional;

Dedos grandes dos pés - Um martírio de dores;

Erasmus - Outra maneira de ver o mundo;

Fogo - A vergonha Nacional, ano após ano;

Google - Os novos donos do mundo;

Helicópteros - Não temos;

Indonésia e não só - Depois do tsunami esgotar as objectivas o esquecimento impera…

Julho, dia 2, Live 8 - “We are not looking for charity, we are looking for justice”;

K - A minha;

Lisboa - Cada vez mais gosto mais da nossa Capital;

Mortes - As pessoas que me habituei a ver desde pequeno estão a ir embora…

Nata, a revolta dos pastéis de – Um grande programa de televisão;

Ornatos Violeta - Porque recordar é viver;

Praxe - Após um ano sabático regressou no seu melhor;

Queima - A melhor de sempre;

Raquel - O que hoje é verdade amanhã é mentira;

Sudão - Para que a memória não se apague;

Telemóvel - O fim de uma dependência;

Urso - Foi incendiado por um grupo de vândalos há dias;

Voluntariado - Deveriam experimentar;

World - What´s going on? London, Paris…

Xcrevemos cada vex pior;

Yellow - Deveria ser a cor dos nossos novos submarinos;

Zé Milho & companhia - O retrato de uma terra decadente;

26. São as letras do nosso alfabeto, e em jeito de balanço fica aqui o que penso ao ouvir cada uma delas. Isto foi feito um bocado em cima do joelho, mas acho que assim tem mais graça.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

Bom Natal

Comam muitos doces, abram muitas prendas e tentem ser felizes...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Tempo

Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an off hand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
You are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun

And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in the relative way, but you're older
And shorter of breath and one day closer to death

Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation is the English way
The time is gone the song is over, thought I'd something more to say

Pink Floyd, Time

domingo, 18 de dezembro de 2005

De férias

Ainda me lembro de quando, há uns anos atrás esperava ansiosamente pelas férias de Natal. Não pelo Natal em si, mas sim porque apareciam do nada duas semanas de férias para aproveitar até à ultima gota. Que importava se era de noite e chovia se a bola não estava furada...

Havia um dia de ansiedade, aquele em que era preciso ir buscar as notas à escola, mas como nunca fui mau aluno o único problema era ficar sem um ou dois colegas para brincar, os castigos eram assim...

Agora estou oficilamente de férias e não fossem os dois trabalhos que tenho para entregar, um já nesta quarta, e os exames que começam a 4 de Janeiro, acredito que estas duas semanas fossem outra coisa.

sábado, 17 de dezembro de 2005

Apeteceu-me pôr aqui

Acende mais um cigarro, irmão
inventa alguma paz interior
esconde essas sombras no teu olhar
tenta mexer-te com mais vigor
abre o teu saco de recordações
e guarda só o essencial
o mundo nunca deixou de mudar
mas lá no fundo é sempre igual

E agora, que a lua escureceu
e a guitarra se partiu
D. Quixote foi-se embora
com o amigo que a tudo assistiu
as cores do teu arco-íris
estão todas a desbotar
e o que te parecia uma bela sinfonia
é só mais uma banda a passar

A chuva encharcou-te os sapatos
e não sabes p'ra onde vais
tu desprezavas uma simples fatia
e o bolo inteiro era grande demais
agarras-te a mais uma cerveja
vazia como um fim de verão
perdeste a direcção de casa
com a tua sede de perfeição

Tens um peso enorme nos ombros
os braços que pareciam voar
tu continuas a falar de amor
mas qualquer coisa deixou de vibrar
os teus sonhos de infância já foram
velas brancas ao longo do rio
hoje não passam de farrapos
feitos de medo, solidão e frio

Jorge Palma, D.Quixote foi-se embora

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

Frio

Tem feito muito frio nestes dias. Frio que eu simplesmente não consigo suportar. Onde é que se meteu o sol?

sábado, 10 de dezembro de 2005

Natal

O Natal cada vez mais me diz menos. Na minha família nunca houve o acto de reunião, por isso as noites de Natal para mim não são mais do que as outras. Acredito que em tempos pudesse partilhar um pouco do espírito que se vive nesta altura, até perceber que estar alegre por uma época é ser demasiado hipócrita.

E que dizer da enorme solidariedade do nosso povo que vê mendigos na rua, de mão estendida, dia após dia, a implorar por uma pequena moeda, ou um bocado de comida -já experimentaram oferecer? – e que nesta altura logo se apressa a encher os sacos do banco alimentar para fazer ver ao vizinho da caixa ao lado. E dos velhos brinquedos oferecidos ás crianças que nada têm. Quem tem nada o pouco agradece, mas dar restos tem muito pouco de partilha…

Nem queria falar do gajo das barbas que aparece em todas as esquinas, pois irrita-me profundamente, mais aqueles que andam com os barretes comprados numa qualquer loja chinesa. Também acho graça aos outros que afirmam não acreditar em nenhum tipo de Deus e que embarcam nesta ridícula onda de consumismo. Gostava de saber o que celebram eles nesta altura.

Este Natal vai ser passado, como sempre, em casa sentado no sofá com os pés à lareira, então depois da meia-noite lá estarei ansioso a contar os dias para a passagem de ano.

sábado, 3 de dezembro de 2005

Bairro

Há em Coimbra dois locais onde me gosto de “perder”. Para além da alta que é uma espécie de recuo no tempo e que tem dos mais belos monumentos do nosso país, a Sé velha, existe outro local que irradia uma espécie de magia. Estou a falar do Bairro Norton de Matos, ou Bairro, como toda a gente o conhece. Este sítio é uma espécie de ilha, é como ter uma pequena vila dentro de uma cidade. Por lá as casas são pequeninas e quase todas têm um pequeno jardim, há cafezinhos onde todos conhecem todos, é possível ir a passar na rua e ouvir um bom-dia, podem ver-se senhoras de idade a colher flores no jardim para por na jarra da cómoda, em cada esquina os amigos de infância que sempre ali moraram e hoje estão um pouco mais velhos conversam sem ter noção do tempo. Há lojinhas pequenas onde se compra o almoço e se paga no fim do mês, há os quiosques onde não é preciso pedir o jornal, pois este já está guardado. E há simpatia na cara das pessoas que passam na rua, até aqueles que já não esperam muito desta vida senão vê-la acabar trazem consigo um sorriso.

Mas o bairro não é só isto. É também “casa” de centenas de estudantes que por ali vão passando, por vezes sem dar valor ao local onde moram. Há dias, duas amigas minhas chegaram a casa e não encontraram a roupa onde a tinham deixado a secar, minutos depois chegou a senhoria, que por acaso mora perto, com a roupa na mão, pois tinha começado a chover e a roupa podia molhar-se, então ela tinha-a apanhado. Acho que cada vez se torna mais raro encontrar lugares assim dentro de uma cidade cada vez mais cheia de pessoas que só pensam em si próprias.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

Vale a Pena?

Nós somos o que somos, por mais voltas que o mundo dê. E podemos tentar mudar, normalmente para melhor. Mas será que aquilo que nos faz mudar vale a pena?

Acredito que há qualquer coisa dentro de nós que é imutável. Certas coisas que faço, faço involuntariamente, mas sempre. São hábitos que vêm de longe e que não consigo controlar. Que culpa é que tenho de por vezes me preocupar com coisas ou pessoas que não me dizem respeito? Não há nada a fazer e nada nem ninguém me pode fazer mudar, porque em sou assim. Deixei aqui uma pergunta há dias e estava curioso para ler as vossas respostas. A minha é não.

Pode Alguém ser quem não é?

Senhora de preto
diga o que lhe dói
é dor ou saudade
que o peito lhe rói
o que tem, o que foi
o que dói no peito?
- É que o meu homem partiu

Disse-me na praia
frente ao paredão
“tira a tua saia
dá-me a tua mão
o teu corpo, o teu mar
teu andar, teu passo
que vai sobre as ondas, vem”

Pode alguém ser quem não é?

Seja um bom agoiro
ou seja um mau presságio
sonhei com o choro
de alguém num naufrágio
não tenho confiança
já cansa este esperar
por uma carta em vão
“por cá me governo”
escreveu-me então
“aqui é quase Inverno
aí quase Verão
mês d’Abril, águas mil
no Brasil também tem
noites de S. João e mar”

Pode alguém ser quem não é?

É estranho no ventre
ser de outro lugar
e tão confusamente
ver desmoronar
um a um sonhos sãos
duas mãos
passando da alegria ao desamor

Pode alguém ser livre
se outro alguém não é
a algema dum outro
serve-me no pé
nas duas mãos,
sonhos vãos, pesadelos
diz-me:
Pode alguém ser quem não é?

Sérgio Godinho, Pode alguém ser quem não é?

sábado, 26 de novembro de 2005

Estou à espera de respostas...

Pode alguém ser quem não é?

Terça-Feira

Eu sou daquelas pessoas que acreditam que há sempre algo mais a descobrir para além daquilo que conhecemos. Para mim é ridículo viver numa cidade sem conhecer os seus recantos, as ruas escuras, as tascas escondidas e os monumentos imponentes. Como grande parte dos caloiros do meu curso que aqui estudam são de outros lados decidimos fazer uma espécie de visita guiada pela alta de Coimbra na passada terça-feira.

Ora uma visita destas implica praxe, em cada paragem havia uma prova a cumprir e por cada prova cumprida havia bebida à espera. Beberam-se uns bons litrinhos nessa noite. Terminada a visita, por acaso, formaram-se duas trupes, uma masculina e outra feminina, que trataram de dar um novo visual aos caloiros que por ali andavam depois da meia-noite. Acabou por ser algo memorável para eles, que estiveram em lugares que nem sequer sabiam que existiam, e também para nós pois tivemos a certeza que durante mais alguns anos a praxe vai continuar viva, apesar de cada vez mais a quererem matar. Nesse dia Coimbra tal como a conheço vai acabar, e é assim que eu gosto dela. Velha.

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Sem Palavras

Ainda estou à espera de encontrar palavras que possam descrever a minha noite de terça-feira, passada na alta de Coimbra.

Quando as encontrar venho aqui escrever qualquer coisa...

segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Ao sabor da corrente

Buscando sem saber bem o quê
Perdido como quem não vê
Calado como quem não tem resposta para quem o chama
Desesperado, como quem por ter medo da desilusão não ama

Yogi Pijama
Se deixas apagar a chama, estás virado para o desastre
Como uma vela sem mastro
Ou um barco sem leme
Condenado a andar à toa conforme o vento lhe dá
Ao sabor da corrente

Yogi Pijama
Olha que andar ao deus dará nunca foi coisa boa
Yogi Pijama Quebrando os seus ossos na rua
Fugindo da verdade nua
Como se abrir as portas ao Mundo fosse uma coisa obscena
Desencontrado como quem por ter medo da foz o rio condena

Yogi Pijama
Se deixas apagar a chama, estás virado para o desastre
Como uma vela sem mastro
Ou um barco sem leme
Condenado a andar à toa conforme o vento lhe dá
Ao sabor da corrente

Yogi Pijama
Olha que andar ao deus dará nunca foi coisa boa
Yogi Pijama E já que nós nunca estamos sós
Vamos lá desatar os nós
E vamos lá chegar inteiros, onde quer que a vida nos leve
E enquanto é tempo
Deixa ver esse sorriso, que isso torna a pena mais leve

Yogi Pijama
Se deixas apagar a chama, estás virado para o desastre
Como uma vela sem mastro
Ou um barco sem leme
Condenado a andar à toa conforme o vento lhe dá
Ao sabor da corrente Yogi Pijama
Olha que andar ao deus dará nunca foi coisa boa
Yogi Pijama

Jorge Palma, Yogi pijama

domingo, 20 de novembro de 2005

Fim

Dia após dia, cada vez mais me vou apercebendo que cada vez mais damos menos valor ao que temos. Morreram duas pessoas estas semana que me eram próximas, uma mais do que outra. Uma delas tinha tido anteriormente uma trombose, estava frágil, a outra morreu durante o sono. Em ambos os casos o coração achou por bem parar de trabalhar. Há várias maneiras de encarar a morte, mas à medida que vemos partir pessoas à nossa volta vamos pensando de maneira diferente.
As primeiras perdas são vividas com revolta, um porquê ecoa da nossa mente. Especialmente se não houve tempo para um último adeus… Os anos vão passando e cada vez mais são os que nos deixam. Vezes há em que vão todos de uma vez, como há um par de anos em que perdi três pessoas. Nesta altura instala-se um certo conformismo. E quando finalmente morre um colega nosso num acidente de carro a apatia toma conta de nós. Os porquês e desaparecem e a inevitabilidade torna-se numa espécie de fantasma que vai aparecendo de vez em quando.
Por norma as pessoas têm um certo receio em abordar o tema morte. Arrepia quando nos vemos numa situação de aflição extrema, quer seja por termos comido um “after-eight” na altura errada ou por haver um pesadelo qualquer que nos faz acordar num sobressalto.

Também eu tenho medo, medo de cair numa cama e não me poder voltar a levantar, medo de ter de ficar completamente dependente de alguém até para satisfazer as minhas necessidades mais básicas. Tenho medo da doença. E de uma coisa eu tenho a certeza. Não quero morrer devagar.

terça-feira, 15 de novembro de 2005

Morte

Morreu no Domingo uma das pessoas que mais marcaram a minha vida. Apesar de tudo, só soube hoje. O funeral foi ontem.

Chamava-se Alexandre, tinha 72 anos e foi a primeira pessoa a cortar o meu cabelo.

domingo, 13 de novembro de 2005

Semelhanças em décibeis...

Sempre fui um bocado curioso. A minha “aventura” pelos blogs começou aqui, ouvia o programa, de vez em quando dava um salto ao blog, via quem por lá andava a comentar, por vezes ia saltando de blog em blog mas nada mais.

Até que um dia cheguei, não sei como a um blog desta menina. O já extinto Brainstorming, agora substituído pelo Escritonauta. O salto até ao Voz Obliqua foi inevitável. Por esta altura comecei a ver também o Sol de Londres, agora Maria Lua. De salto em salto descobri mais uns quantos até que chegou a altura de fazer um.

O objectivo principal era escrever coisas. Mais nada do que coisas. Coisas que tivessem qualquer coisa a ver com Coimbra. Depressa o objectivo principal passou para segundo plano. E lentamente comecei a deixar por aqui pequenos pedaços de mim.

Esperava também, neste mundo que é a blogosfera, poder trocar ideias e “conhecer” pessoas que de uma maneira ou outra tivessem qualquer coisa a ver comigo.

Ora quem vai passando por aqui já deve ter percebido que a musica é algo que para mim tem uma importância tão grande que chega quase a ser absurda.

E tendo eu uns gostos musicais esquisitos para grande parte das pessoas, pelo que me vão dizendo, a coisa que menos estava à espera era de encontrar por aqui alguém que ouve o mesmo que eu. Não é normal, acho eu, estar a ouvir um CD e imediatamente lembrar-me de alguém que não sei sequer quem é…

Há sons que ficam nos nossos ouvidos. Sons que fazem as palavras sairem de uma forma diferente. Como estas. E porque ao ler isto arrepiei-me ligeiramente. Semelhanças? Ou será que este é mesmo feiticeiro?

Como o mar...

Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer

Anda ver que lindo presente
A aurora trouxe para te prendar
Uma coroa de brilhantes para iluminar
O teu cabelo revolto como o mar

Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer

Porque terras de sonho andaste
Que Mundo te recebeu
Que monstro te meteu medo
Que anjo te protegeu
Quem foi o menino que o teu coração prendeu ?

Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer

Anda a ver o gato vadio
À caça do pássaro cantor
Vem respirar o perfume
Das amendoeiras em flor
Salta da cama
Anda viver, meu amor

Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer

Jorge Palma, Acorda Menina Linda

terça-feira, 8 de novembro de 2005

Manif

Amanhã há mais uma manifestação de estudantes do ensino superior, e após várias horas a pensar na coisa decidi ficar em casa (nas aulas). É a primeira a que vou faltar. Eu acho que temos que protestar, acho que nos estão a cortar cada vez mais direitos. Reconheço isto tudo. Agora não acho que todas estas coisas possam ser feitas de ânimo leve e com um fim que não o previsto. Sendo eu de Coimbra tenho a certeza que a AAC vai para a cabeça da Manif, não porque seja melhor para os estudantes, mas única e exclusivamente para autopromoção. Fica sempre bem aparecer nos telejornais!

E mais uma vez. Pelo que tenho visto aqui por Coimbra os verdadeiros prejudicados com a situação são os que menos se importam. E quando chega a hora de tomar alguma atitude não a tomam.

Eu imagino o que seriam vinte mil estudantes (falando só de Coimbra) a “caminhar” para Lisboa. Eu imagino esses estudantes juntos com os do Norte a chegar a Lisboa. E vejo também os do Sul a vir para cima. Esta imagem só em sonhos.

Por agora fico em casa, mas não me calo.

“Não adianta olhar para o céu com muita fé e pouca luta”

Emigrante

Eu quero ser emigrante. Não sei quando, mas qualquer dia quero ir embora deste país em busca de um lugar melhor.

Apesar de gostar deste país onde nasci, sempre me vi como cidadão do mundo. Do mesmo mundo onde morre uma pessoa de fome a cada três segundos, do mesmo mundo onde na sede de uma igreja se bebe vinho por cálices de ouro.

E como cidadão do mundo quero ser aceite como sou em qualquer parte deste, com as minhas virtudes e os meus defeitos. E quando sair desta terra, espero poder encontrar uma cidade que me acolha, e quero fundir-me nela, e se possível mudá-la. Por esta altura vejo que muita gente pensa como eu…

“Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual…”

O que eu acho que vai acontecer graças aos incidentes de Paris

Nas próximas presidenciais o Le Pen é eleito;

A França entra em ruptura com a EU;

Após a França, sai a Alemanha;

Com a divisão Portugal e Espanha ficam isolados;

Espanha anexa Portugal e vamos passar a viver na Ibéria;


Parece-me que em 2010 vamos viver melhor.

sábado, 5 de novembro de 2005

Chuva (to C.F.)

Adoro chuva. Dá-me um gozo especial andar pela rua com a água a cair-me em cima. Nem sei porque é que as pessoas se recolhem tanto…

Se repararmos bem as crianças também gostam de andar à chuva, até que aparece um adulto refilão a dizer “Sai da chuva que te faz mal…”.

Se não aproveitarmos nesta vida tudo o que nos faz sentir bem, mesmo que depois haja algumas consequências que andamos nós a fazem neste mundo?

A chuva é boa e lava a alma (se é que ela existe…). E eu gosto de andar à chuva!

Já tinha escrito este post antes de ler isto. É preciso navegar, antes que o barco se afunde...

Acaso

A vida é feita de escolhas e mudanças, mas também de acasos que não procuramos de forma alguma. São estes momentos que permitem quebrar a rotina do dia a dia e lembrar-nos que existe sempre algo mais para além daquilo que esperamos. É curioso de ver que depois de estar há três anos na mesma escola, volto a ser algo que já tinha sido há algum tempo atrás, noutro sitio, com outras pessoas, noutro tempo. Eu estou a tornar-me novamente numa espécie de ombro, e não só. Aquelas historias perdidas que quase ninguém sabe vêm todas ter comigo. Sim, porque nestas coisas eu não sou de procurar nada. Eu gosto e sempre gostei de ajudar, de dizer, da tal parte de confidencia, quase segredo sem ser preciso dizer no fim o tal ”Não contes a ninguém…”. Curioso que ainda ontem tenha ficado com uma ideia completamente diferente de uma pessoa depois de uma longa conversa… Mas todas as moedas têm duas faces. Apesar de toda esta situação permitir que estreite laços com pessoas que há uns tempos eram simples desconhecidos (para mim, é claro), também me faz pensar no passado. No que fiz, no que disse e no que acabei por perder sem nunca chegar a ter ganho. Ai a teoria da combustão… Fico a pensar em todos aqueles que hoje, por um motivo ou por outro estão longe de mim e que há um par de anos estavam aqui ao lado. E penso que vou perder todos estes com quem agora estou, mais dia menos dia. Nem sei que nome lhes dê. Mais que colegas, menos que amigos. Encalhados ali no meio de coisa alguma. Como aquela chuva miudinha que não é nevoeiro nem chuva a sério, mas que apesar de tudo molha na mesma. Demora é mais tempo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Coimbra tem mais encanto

Coimbra tem ainda mais encanto coberta por uma cortina de gotas de àgua.

terça-feira, 1 de novembro de 2005

O Mundo é uma tangerina

Já muita gente tentou definir o conceito de mundo. Mas o que é o mundo? Será que existe só um? De certeza que não, ou não andasse eu constantemente a saltar de um para outro.

Uma definição original é aquela que diz que "O mundo é um ovo". Ora, eu discordo. Para mim o mundo é uma tangerina. Eu adoro tangerinas, tal como diz a canção, conseguem ser amargas e doces ao mesmo tempo. Os gomos da tangerina somos nós, pois estamos todos ligados de uma maneira ou de outra. Se assim não for, quero que me expliquem como é que das pessoas que mais me marcaram, e não são tantas quanto isso, uma é Checa e outra Venezuelana. E já agora como é que o melhor dia da minha vida, até hoje, foi passado em França! Pois a terra é grande, mas pequenina, do tamanho de uma tangerina.

Ainda falta a parte dos salpicos que por vezes nos fazem chorar, e que dizer dos caroços que por vezes custam a engolir. Temos que abrir a tangerina que é o mundo e saborear até ao fim o seu sabor. Mesmo que pelo meio haja um gomo menos sumarento, não passa da mera excepcção que confirma a regra.

O primeiro gomo da tangerina

Todos vieram
ver a menina
ao primeiro gomo da tangerina
menina atenta
não experimenta
sem primeiro
saber do cheiro
o sabor nos lábios
gestos sábios

Fruta esquisita
menina aflita
ao primeiro gomo da tangerina
amarga e doce
como se fosse
essa a hora
em que chora
e depois dobra o riso
e assim faz seu juízo

Sumo na vida
é o que eu te desejo
rumo na vida
um beijo
um beijo

Ah, que se lembre
Sempre a menina
do primeiro gomo da tangerina
p’la vida dentro
é esse o centro
da parede da vitamina
que a faz crescer sempre menina

A terra é grande
é pequenina
do tamanho apenas da tangerina
quem mata e morre
nunca percorre
os caminhos do que há de melhor
nesse sumo
a vida, gomo a gomo

Sumo na vida
é o que eu te desejo
rumo na vida
um beijo
um beijo

Sérgio Godinho, O primeiro gomo da tangerina

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

"Svět je Mandarinka"


Convite

A todos aqueles que estiverem este fim de semana por Coimbra. Aparecam no pavilhão multiusos (aquele por trás da aberração chamada "Dolce Vita"). Está a decorrer o campeonato europeu de fitness e ginástica acrobática, e pelo que tenho visto nos treinos é algo a não perder.

De 27 a 30 de Outubro. Apareçam, não se vão arrepender...

Latada I

Apesar de ter partido para esta latada completamente deprimido e sem um único "plano" digno desse nome, as coisas correram melhor do que esperava. Aquilo que estava à espera de ser um fracasso do tamanho do mundo, tornou-se numa noite engraçada. Aqueles moços que se dão pelo nome de "Xutos" conseguiram surpreender-me ao fazer um concerto com músicas antigas, muitas delas dos anos 80, ou seja, as que eu mais gosto. Fui para o recinto só por ir e sai de lá estupidemente feliz, não só pelo concerto em si mas também porque consegui encontrar gente que já não via hà algum tempo. Quem não entende o conceito "Aldeia global" devia vir estudar uns tempos para Coimbra.

O cortejo da Latada deste ano também foi algo para mais tarde recordar. Por incrivel que possa parecer, ao contrário dos outros anos em que me farto de perder gente, este ano consegui unir muitos daqueles que, há partida estariam separados. Há qualquer coisa que me anda a escapar no meio disto tudo... O grande Quim esteve à sua altura, mas melhor ainda esteve a Orxestra que tocou para um pavilhao cheio que neu um ovo. O pessoal "Erasmus" ficou parvo com aquele espectáculo...

Há muito mais para dizer, mas não por hoje.

#1

"A dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe o quanto vale um beijo "

Jorge Palma "A Gente vai Continuar"

Pedaços

Estou metido em tanta coisa neste momento que nem sequer tenho tido tempo para pensar.

-Aulas
-Latada
-Organização da festa da terrinha
-Campeonato europeu de ginastica e fitness, como voluntário
-O part-time
-O outro part-time não remunerado
-Curso de Alemão
-E as guitarradas...

E pensar que há alturas em que não tenho nada que fazer...

Tempo

Por vezes o tempo atraiçoa-nos e temos que fazer escolhas. Nem sempre essas escolhas são as que queremos fazer mas sim as que tiveram de ser feitas. Mais uma vez afastei-me daqui... Estou a voltar aos bocadinhos.

Obrigado aos que não deixaram de cá vir. Voltem que eu tenho muito para escrever.

domingo, 23 de outubro de 2005

Upside down...

Tombo para a esquerda, tombo para a direita, o meu mundo está novamente virado ao contrário. E não deverá voltar ao seu estado normal. Pelo menos num futuro próximo...

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Serenata

Após três anos a estudar em Coimbra consegui ver ontem a minha primeira serenata (falando da queima e da latada) e devo dizer que superou as minhas espectativas. Politiquices à parte, penso que o largo da Sé Nova foi uma boa escolha. É curioso ver as caras dos caloiros, especialmente dos que chegaram de longe, ao ver tal espectáculo.

Aliás a coisa mais comum de se ver são lágrimas e sorrisos, também ao mesmo tempo. O que foi estranho foi a sensação de vazio que senti no fim. Lá (cá) no fundo faltava qualquer coisa, as memórias da queima ainda não me deixam sossegar a mente. Nem os convivios deram para atenuar a saudade que teima em não me largar...

Pode ser que o grande Quim, na Terça me anime mais o espirito...

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

Grito

Apetece-me gritar como se não houvesse amanhã. Quem sabe se irá haver?

sábado, 15 de outubro de 2005

Baco & Companhia

Ontem de manhã, ainda meio a dormir e, também, com toda a paciência do mundo, fui abordado por duas senhoras idosas cujos tempos livres são ocupados, pelo que me pareceu, a tentar fazer as pessoas acreditar no que está escrito no livro mais vendido do mundo. A Biblia, segundo elas.

Dez minutos de conversa e pus-me a pensar em tudo aquilo que elas me tinham dito. Pensei, pensei e acho que talvez devêssemos regredir um pouco no tempo e passar a acreditar nos deuses de Roma (ou  da Grécia, como preferirem). Para mim, o objectivo de toda e qualquer religião é nada mais do que dar uma hipotética segurança às pessoas que nela acreditam. No caso da "minha" disseram-me que existe um deus que cuida de nós e que não castiga, e, em último caso, julga para depois perdoar. Ora, pelo que vejo as pessoas culpam o "nosso" deus por tudo... Será justo?

Não querendo discutir verdades ou mentiras, muito menos crenças, acho que neste campo os Romanos eram muito mais evoluídos. Para cada função existia um deus, como agora temos ministros. Apesar de estarem todos ligados e pedirem favores uns aos outros cada um tratava da sua pasta.

Nestas coisas sempre adorei o Baco, e apesar de já quase ninguém falar nele eu acho que anda por ai. Com uma pequena condicionante, aparece mais vezes de noite. Mas quando aparece faz-se notar. Normalmente vem acompanhado por Vénus, as coisas ficam sempre mais bonitas... Não sei se existia algum Deus da verdade, mas se o houve, também acompanha os outros dois. E mais interessante é quando os outros são tomados por Baco, e por momentos o mundo tal como o conheciamos dá uma volta e a partir daí nada fica igual.

Uma das coisas que não entendo é por que é que há pessoas que precisam de beber para dizer certas coisas, ou para agir de certa maneira. Mas ainda bem que Ele anda por ai. Quero desejar-Lhe boa sorte, pois vai ter muito trabalho esta latada...

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

E a Sé tão perto...

"For long you live and high you fly
And smiles you'll give and tears you'll cry
And all you touch and all you see
Is all your life will ever be."

Pink Floyd "Breathe"

terça-feira, 11 de outubro de 2005

As Trupes, outra vez

Coimbra, apesar de ser a cidade dos estudantes nem sempre gostou muito deles. No século XIX, a cidade estava dividida em duas partes, a alta e a baixa, sendo que a alta “pertencia” aos estudantes, que por sua vez eram tidos como intrusos quando se aventuravam pelas ruas da baixa, pertencentes ao comércio, ou seja à classe trabalhadora.
Esta rivalidade entre estudantes e fútricas não vinha só das diferenças sociais, mas também de um pequeno pormenor: os estudantes tinham o hábito de se “atirarem” às lavadeiras do Mondego. É desse tempo que vêm as famosas serenatas. Sendo assim era perigoso andar pela baixa, e quando se aventuravam, as sessões de pancada eram intermináveis, pelo menos até ao momento em que chegavam as autoridades. Não que elas resolvessem alguma coisa, mas todos se viravam contra as forças policiais. Para proteger os estudantes foram criadas as Trupes, que tinham como função não só punir aqueles que se aventuravam a andar pela rua a horas menos próprias, mas também proteger as “fronteiras” da alta. Não é por acaso que as insígnias da praxe são a tesoura, a colher de pau e a moca. Se bem que o objectivo da tesoura e da colher de pau era a praxe punitiva (aos caloiros era rapado o cabelo, e aos doutores era aplicada a sanção de unhas), já a moca servia de defesa contra possíveis invasores. Nessa altura as Trupes poderiam actuar a partir das seis da tarde, hora em que a Cabra tocava pela última vez. Segundo o actual código da praxe as Trupes podem ser formadas a partir da meia-noite, junto à porta férrea. Os caloiros que forem apanhados na rua depois da meia-noite são rapados. Aos doutores é aplicada a sanção de unhas que consiste em apanhar com a colher de pau nas unhas tantas vezes quantas as matrículas (em número impar, quando em número par arredonda-se para cima) de cada elemento da Trupe. As horas a que os doutores podem andar na rua variam consoante a sua hierarquia na praxe. Os elementos da Trupe devem andar de cara tapada com a capa traçada de modo a que não se veja branco no traje. Os membros da trupe também não podem ser reconhecidos sob pena de a Trupe ser desmobilizada. A tradição é para ser mantida, e quem aceita a praxe tem de a aceitar tal como é. Com todas as suas virtudes e defeitos.

Dura Praxis, Sed Praxis
A Praxe é dura mas é a Praxe.

domingo, 9 de outubro de 2005

Ciclo

Dizem os entendidos nestas coisas que a história é ciclica, repete-se ao longo do tempo, tal como um disco de vinyl riscado onde a música é sempre a mesma.

Dia após dia, ano após ano, as situações vividas vão sendo idênticas, embora com pessoas diferentes em locais distintos. Mas as palavras, o modo de ver as coisas, a construção de uma amizade, as afinidades que vem ao cimo, tudo isto é igual. Sempre!

Na quinta-feira, fiz parte de uma trupe. Durou pouco tempo, foi verdade, mas o mais importante dessa noite nem sequer foram os cabelos que cairam no chão. Tudo o que fizemos antes e depois é o que torna certas noites em momentos para recordar um dia mais tarde.

E o grupo de pessoas que gira à minha volta vai sendo cada vez maior (e melhor)...

"O que presta é o que resta em nós..."

Porque hoje é dia de Eleições

Estimado ouvinte já que agora estou consigo
peço apenas dois minutos de atenção
é pra contar a história de um amigo
Casimiro Baltazar da Conceição

O Casimiro talvez você não conheça
a aldeia donde ele vinha nem vem no mapa
mas lá no burgo por incrível que pareça
era mais famoso que no Vaticano o Papa

O Casimiro era assim como um vidente
tinha um olho mesmo no meio da testa
isto para lá dos outros dois é evidente
por isso façamos que ia dormir a sesta

Ficava de olho aberto
via as coisas de perto
que é uma maneira de melhor pensar
via o que estava mal
e como é natural
tentava sempre não se deixar enganar
e dizia ele com os seus botões

Cuidado Casimiro
cuidado com as imitações
cuidado minha gente
cuidado justamente com as imitações

Lá na aldeia havia um homem que mandava
toda a gente um por um pôr-se na bicha
e votar nele e se votassem lá lhes dava
um bacalhau um pão-de-ló uma salsicha

E prometeu que construía um hospital
uma escola e prédios de habitação
e uma capela maior que uma catedral
pelo menos a julgar pela descrição

Mas o Casimiro que era fino de ouvido
tinha as orelhas equipadas com radar
ouvia o tipo muito sério e comedido
mas lá por dentro com o rabinho a dar a dar

E punha o ouvido atento
via as coisas por dentro
que é uma maneira de melhor pensar
via o que estava mal
e como é natural
tentava sempre não se deixar enganar
e dizia ele com os seus botões

Cuidado Casimiro ...

Ora o tal tipo que mandava lá na aldeia
estava doido já se vê com o Casimiro
de cada vez que sorria à plateia
lá se lhe viam os dentes de vampiro

De forma que para comprar o Casimiro
em vez do insulto do boicote ou da ameaça
disse-lhe Sabe que no fundo o admiro
vou erguer-lhe uma estátua aqui na praça

Mas o Casimiro que era tudo menos burro
e tinha um nariz que parecia um elefante
sentiu logo que aquilo cheirava a esturro
ser honesto não é só ser bem-falante

A moral deste conto
vou resumi-la e pronto
cada qual faz o que melhor pensar
não é preciso ser
Casimiro para ter
sempre cuidado para não se deixar levar

Cuidado Casimiro ...

Sérgio Godinho, Cuidado com as Imitações

Hora da sesta

O meu blog adormeceu por uns dias. Mas já acordou. Obrigado a todos os que vieram aconchegar os lencóis.

segunda-feira, 3 de outubro de 2005

MFA III

Para quem quiser assinar e apoiar, aqui.

Dois Mundos

Ultimamente tenho vivido entre dois mundos, o que me anda a fazer uma confusão de todo o tamanho. Um dos mundos, aquele que prefiro, fica na margem direita, Coimbra. O outro é aquele onde estou agora, na margem esquerda, a alguns quilómetros, numa pequena aldeia.

Embora prefira estar em Coimbra, não consigo deixar a minha aldeola para trás. Não só por não ter muita lógica, dada a distância, mas também porque há algo que me prende aqui. E é dessa tal coisa que ando à procura. As pessoas não são concerteza, uma vez que ao nascer foram dotadas de umas pálas que não lhes permitem ver mais nada se não aquilo que têm à frente. Para elas o mundo é assim (como o vêm, não como ele existe) e assim mesmo. Talvez seja a minha casa... Não sei. A familia também não é o que me prende. Mas dia após dia sinto vontade de voltar...

De manhã, ao passar a ponte entro num mundo novo, onde tenho os meus amigos, onde posso sair à noite sem me importar se salto se grito ou se vomito, onde tenho meia duzia de casas para ficar quando quiser, onde está a minha escola em que passo grande parte do tempo (bar incluido), onde ando trajado sem ter meio mundo a olhar para mim. Foi também em Coimbra que tive alguns dos melhores dias da minha vida, por entre queimas, latadas e noites bem passadas. Foi em Coimbra que me perdi tantas vezes quando nem sequer sabia que autocarros apanhar. É sem duvida a minha terra, não de sempre mas para sempre.

sábado, 1 de outubro de 2005

Afinidades

É estranho como a musica pode unir as pessoas. Isto que vos vou contar passou-se o ano passado.

Uma guitarra no canto do bar a tocar uns acordes de "Frágil", eu no canto oposto a cantarolar, a "I" (como é moda, também vou tratar as pessoas assim...) noutro
canto também a esboçar uns sorrisos. Próxima musica "Deixa-me rir", "Dá-me lume" de seguida, e não deu para resistir. Foi o "Jeremias o fora da lei" que nos uniu. Já depois de ter ganho um amigo por causa da "Pequenina", vieram mais estes dois pelo Jorge.

Lembrei-me desta história porque veio à baila no outro dia. Já agora a "I", também cantarolava esta o ano passado em casa. Descobri na quinta-feira. Adoro estas afinidades...


"Não estando disposto a esperar que a humanidade venha alguma vez a ser melhor
Jeremias escolheu o seu lugar do lado de fora"