sábado, 21 de março de 2009

Dez

Dez, dois, quatro, seis... É um bocado estranho isto de falar de números e números e conversões de metros em coroas e quilómetros em dias, anos-luz em algo que se entenda...

A distância que a luz percorre num ano? Como se não fosse do senso comum que a luz é uma coisa que simplesmente é... Anda lá agora ela a passear pelo espaço, do sol à terra, da terra à lua de uns olhos para os outros. A luz é quieta e a terra redonda e está quieta também e o sol é que gira.

Lembro-me da aranha e antes de dormir como papas de leite mesmo que só a fazer de conta, mesmo sem sono nem dormir nem cama nem lugar nem leite nem nada. Resta o pão.

Tem uma certa graça tudo isto.

Talvez agora seja já nove. Sejam. E de caminho, quantas partes tem um frango? Um frango assado...

Estações - Milan

quarta-feira, 18 de março de 2009

#29

E sem que ninguém o pense, pela noite letras vermelhas vão fazendo frases nas paredes que por acaso nem são de papel mas sim de madeira, primeiro timidamente, mais tarde, subitamente, ganhando proporções equivalentes a um banho de sangue.

Se bem que poucos alguma vez as entendam, que há coisas completamente independentes da lingua e um um pato-vampiro pode perfeitamente ser um chinês mal-cheiroso, lá estão a sorrir para quem passa.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Rae

Dizia a lili que estar vivo é o contrário de estar morto, talvez não fosse assim tão absurda a frase embora o pareça.

Mozart, está vivo ou morto? Shakespeare, Orwell, Saint-Exupéry, Cobain... Estes todos que se conhecem só das palavras e ainda mais alguns que pudémos abraçar antes de dormir e sussurrar meia dúzia de palavras ao ouvido. Mortos ou vivos?

E quantos mortos andam pendurados pelo mundo mesmo que respirem todos os dias, que o coração lhes bata a todos os segundos?

No meio disto tudo, os sonhos. Aqueles de dormir, e os outros de olhos abertos que fazem olhar para o lado e estender a mão mesmo que agora nada tenha que ver com vida e morte mas sim com outra qualquer coisa também quase surreal, como o facto de as formigas trabalharem para o formigueiro enorme e eu não achar grande piada a abelhas a não ser desenhadas em qualquer coisa, se não também podia falar de hexágonos perfeitos.

Porque hoje havia alguém que vendia girassóis na rua.

Estações - Wien

segunda-feira, 9 de março de 2009

Preço

Dois cêntimos. Valem quanto? Tanto quanto a vida dizem uns, mais que ela dirão outros. E o sol? Vale o quê? A algazarra nas ruas, o barulho dos autocarros, o poder ver um planeta estrela durante quase todos os dias que o ano tem, o saber em que estado está a lua -se bolacha trincada, se bola redonda e brilhante-, o sorriso do puto reguila às primeiras horas da manhã, a gorda do café que anda arrastando os pés tal a falta de força que tem -para viver também-, o travo amargo do café tantas vezes bebido só porque sim, o frio das pedras húmidas, tudo coisas que são quase nada para quem não repara.

Ouço uma velha canção que fala de gente que vive sem dar por nada.

Sim, que há quem viva sem saber da festa e dos foguetes, sem saber da primeira estrela que se mostra todos os dias, da cidade debaixo da cidade, da beleza das letras independentemente da forma com que as juntam, da distância que a luz percorre num ano e que comparados com a dimensão de um formigueiro à escala da formiga tudo o que os homens erguem soa a minúsculo. E as pontes? O cerco às cidades? Coisas, são tudo coisas...

Do fundo do tempo fala uma voz rouca e cansada, diz que o amanhã não existe, fala de meteoritos e bombas, carteiras roubadas e sorrisos. Sorrio também e adormeço embalado pelas palavras, afinal, nem todos tiveram o prazer de pisar um chão-obra-de-arte enquanto o tempo parava de dois lados da mesma rua.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Das coisas que levam a todo o lado




Brno Technical Museum

segunda-feira, 2 de março de 2009

Da torre


A vista...

sábado, 28 de fevereiro de 2009

E depois há os outros

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria…
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente…
Talvez, acabando, comeces…
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém…
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te…
Talvez peses mais durando, que deixando de durar…

A mágoa dos outros?… Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão…
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros…

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada…
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas…
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além…
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido…
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia…

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos…
Se queres matar-te, mata-te…
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! …
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?

Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo…

Álvaro de Campos

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Horas

O gelo derrete num barulho irritante. Um tic-tac diferente daquele dos segundos, como se o tempo tomasse outro compasso marcado por gotas de água. E num repente, entre duas, que vão caindo, notam-se coisas que nunca antes se tinham visto, como aquele rasgo pequeno no papel de parede já gasto, ou até mesmo as estrelas deixadas no tecto por alguém que gostava de adormecer a olhá-las. Perderam o brilho entretanto e já nem o sorriso desenhado na lua apresenta a mesma nitidez.

O crocodilo de neve desapareceu e há perguntas ainda sem resposta.

Porque é que os pinguins não congelam?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

(0.01€)x2


E quanto podem valer dois cêntimos?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Paprika

imaginem
um abraço
o meu queixo
pousado no teu ombro
e eu viajando
no teu cheiro
pelos trilhos do silêncio

é o cenário possível
de um homem sozinho
de cerveja na mão

sentado na varanda
olhando a lua
e a comer pimentos padrão
comê-los contigo era perfeito

como olhar esta cidade à noite
olhá-la contigo era pensar
noutras formas de ver

Manel Cruz, O Cenário Possível

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Clio

há uma linha-fio-se-seda à qual não se pode fugir nunca. as aranhas são muitas e todas "falam" com todas como se toda a vida fosse um qualquer "complot" engendrado por elas. recuso-me a matar uma aranha que seja. nem sei bem porquê, mas a história da teia fascina-me desde sempre.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Rua

As árvores vergam-se ao peso da água que passa e numa delas um melro de bico mais vermelho que laranja, canta, uma melodia quase tão melancólica quanto alegre. Deve sentir, concerteza. Deve sentir o frio nas asas, o arrepio na pele, o vento nos olhos... Mesmo assim, canta. Faz frio lá fora. Talvez tenha descoberto que as canções aquecem a alma.

Os melros têm alma?

Há tartarugas no alasca?

Caixa


"e bebo as palavras e quase que me engasgo"

Tururu...


"Andamos todos uma casa ao nosso lado"

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Estações - Brno



Estações - Bratislava




sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

das mãos compridas

Houve um tempo em que os anjos da guarda sobreviviam e viviam felizes e contentes e faziam o seu trabalho das nove às cinco. Horas extra, se fosse preciso. Era outro tempo. Agora prostituem-se pelas ruas do seu mundo e esquecem-se porque existem.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

!Frio

Um crocodilo de neve abre a boca para o pato que não passa. Uma bola vermelha a voar por entre os ramos e tudo o que era verdade num repente transforma-se em quase nada.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

É bom saber que os há

ouvi dizer que o nosso amor acabou
pois eu não tive a noção do seu fim
pelo que eu já tentei
eu não vou vê-lo em mim
se eu não tive a noção de ver nascer um homem
e ao que eu vejo
tudo foi para ti
uma estúpida canção que só eu ouvi
e eu fiquei com tanto para dar
e agora
não vais achar nada bem
que eu pague a conta em raiva

e pudesse eu pagar de outra forma

ouvi dizer que o mundo acaba amanhã
e eu tinha tantos planos pra depois
fui eu quem virou as páginas
na pressa de chegar até nós
sem tirar das palavras seu cruel sentido
sobre a razão estar cega
resta-me apenas uma razão
um dia vais ser tu
e um homem como tu
como eu não fui
um dia vou-te ouvir dizer

e pudesse eu pagar de outra forma
sei que um dia vais dizer
e pudesse eu pagar de outra forma

a cidade está deserta
e alguém escreveu o teu nome em toda a parte
nos carros, nas casas, nas pontes, nas ruas
em todo o lado essa palavra
ora amarga, ora doce
repetida ao expoente da loucura
pra nos lembrar que o amor é uma doença
quando nele julgamos ver a nossa cura


não quis guardá-lo para mim
e com a dimensão da dor
legitimar o fim
eu dei
mas foi para mostrar
não havendo amor de volta
nada impede a fonte de secar
mas tanto pior
e quem sou eu para te ensinar agora
a ver o lado claro de um dia mau

eu sei
a tua vida foi
marcada pela dor de não saber aonde dói
mas vê bem
não houve à luz do dia
quem não tenha provado
o travo amargo da melancolia
e então rapaz então porquê a raiva
se a culpa não é minha
serão efeitos secundários da poesia

mas para quê gastar o meu tempo
a ver se aperto a tua mão
eu tenho andado a pensar em nós
já que os teus pés não descolam do chão
dizes que eu dou só por gostar
pois vou dar-te a provar
o travo amargo da solidão

é só mais um dia mau


para ver
para dar
para estar
para ter
para ir
pra ouvir
pra sorrir e entrar
para rir
pra voltar a tentar
pra sentir
e mudar
pra voltar a cair
para me levantar
para nunca mais tentar mentir
pra crescer
para amar

para ser o lugar
pra viver
e gostar de gostar de viver
pra fugir
pra mostrar
pra dizer
pra ter paz
pra dormir

pra fingir acordar

para ser derramar
para nunca mais tentar
mentir


vi do meu quarto a nuvem-mãe
em negra carga a par do fim
vibrou no vidro até se ouvir
eu abro a dor de ser quem sou
de tudo amar
vai pra casa
esquece a rua
que eu vi
hoje o tempo vai mudar

eu já trinquei a maçã
deixei-me olhar a fundo
mas eu acordo a cada dia
eu abro a dor de ser quem sou
de tudo amar
vai pra casa
esquece a rua
que eu vi
hoje o tempo vai mudar


estranha forma de acordar
que é estar pronto pra dormir
abre a porta e vê se o mundo ainda é teu
cedo vais-nos dar razão
como a vida nos convém
cedo irá arder nas minhas mãos

não vejo um homem para trás
não vejo medo para trás
não vejo portas para trás

meu mal é ver que eu vou bem

todo o mal e todo o bem
cedo voltará nós
inocente e trágica lição
se uma vida não chegar
hei-de ter cem vidas mais
quantas mais ditar o coração

não vejo estrada para trás
não vejo medo para trás
não há mais nada para trás

estranha forma de acordar
que é estar pronto pra dormir
abre a porta e vê se o mundo ainda é teu
cedo vai-nos dar razão
como a vida nos convém
cedo irá arder nas tuas mãos

meu mal é ver que eu vou bem


sente o nervo da manhã
vê como vibra para ti
vai ditar o rumo da razão
vê como olham para trás
vê como aguardam tua vez
do prisma inverso da ascenção
ascender
e acordei na minha cruz
a mesma carne
a mesma luz
um nada após a mortificação
e o melhor é que aprendi
a minha luta por aqui
voltámos a pisar o chão

dá-me a tua mão
e vamos ser alguém
a vida é feita para nós
acordar é bom
mais fácil é dormir
mas nem dormindo estamos sós

eu fui tão mau para mim
eu fui tão pouco para nós
bem que o meu pai quase me avisou
eu nasci sem entender
a forma certa de viver
até que a vida me ensinou
aprender
o que eu quis mostrar ao mundo
era tão forte e tão profundo
eu quase me afoguei na emoção
visitou-me um velho amigo
outrora solto em meu umbigo
eu dei-lhe abrigo na prisão
só que eu já não sei
mudou a força da razão
e não fui eu que a mudei
a vida tem um peso para nós
e pesa quando estamos sós

dá-me a tua mão
e vamos ser alguém
a vida é feita para nós
acordar é bom
mais fácil é dormir
mas nem dormindo estamos sós

O.M.E.M.
Oh mãe!

foi tão bom para ti
como foi para mim


leva qualquer eu a meu dia
da-me paz eu só quero estar bem
foi só mais um quarto uma cama
no meu sonho era tudo o que eu queria

quando alguém deixar de viver aqui
espera que ao voltar seja para ti
nada vai ser facil
nunca foi
quando alguém deixar de te dar amor
pensa que ha quem viva do teu calor
hoje é só um dia
e vai voltar amanha
e nao foi assim que o tempo nos fez
e fez assim com todos nós
e nao foi assim que a razao nos amou
e fez assim com todos nós
sao coisas
sao só coisas

se uma voz nos diz que é viver em vão
pra que raio fiz eu esta cancão
e se o fim é certo
eu quero estar ca amanhã
e nao foi assim que o tempo nos fez
e fez assim com todos nós
e nao foi assim que a razao nos amou
e fez assim com todos nós
sao coisas
sao só coisas

eu estou bem
quase tao bem
vê como é bom voltar a dizer
eu estou bem
quase tao bem
vê como é bom voltar a dizer
eu estou quase a viver


ao ver meu quarto aberto
alguém entrou
só no acender da luz
vê que eu não estou
eu jurei
quando eu voltar
ninguém mais vai entrar
para sempre eu vou esperar por ti

pára de olhar para mim
deixa-me ser alguém
tão cedo não vais ver ninguém

ao ver meu quarto aberto
alguém pensou
foi para mim que alguém assim o deixou
para quê mentir
se eu bem sei
que não há ninguém igual
para sempre eu vou esperar por ti

pára de olhar para mim
deixa-me ser alguém
tão cedo não vais ver ninguém

guardar cá dentro amor
não nos faz nada bem
quando cá fora o ódio quer entrar
fui morar pra paixão
pois eu sei
que não há melhor lugar
para sempre eu vou esperar por ti

pára de olhar para mim
deixa-me ser alguém
tão cedo não vais ver ninguém
eu só quero dar-te alguém melhor


eu vi que eu sou capaz
eu posso até sentir
isso vai fazer-nos tão bem
não nos deixei mentir
e agora tanto faz
vou dar o mundo a quem

e aparece assim
acendeu-se a luz
estão vivos outra vez

amar é bom se houver
no fundo de um de nós
alguma solidão
eu calo a minha voz
é tão bom ser mulher
descobrir quais são

e aparece assim
acendeu-se a luz
estão vivos outra vez
se é tão bom de ouvir
vivo para ti
até o nosso amor morrer

se eu não for capaz
eu espero vê-lo em ti
eis como me ajudar
sentir não é mostrar
e dar não é sentir
é morrer em paz

e aparece assim
acendeu-se a luz
estão vivos outra vez
se é tão bom de ouvir
vivo para ti
até o nosso amor morrer

mas deixa o nosso amor morrer


foi como entrar
foi como arder
para ti nem foi viver
foi mudar o mundo
sem pensar em mim
mas o tempo até passou
e és o que ele me ensinou
uma chaga pra lembrar que há um fim

diz sem querer poupar meu corpo
eu ja nao sei quem te abraçou
diz que eu não senti teu corpo sobre o meu
quando eu cair
eu espero ao menos que olhes para trás
diz que não te afastas de algo que é também teu
não vai haver um novo amor
tão capaz e tão maior
para mim será melhor assim
vê como eu quero
e vou tentar
sem matar o nosso amor
não achar que o mundo é feito para nós

foi como entrar
foi como arder
para ti nem foi viver
foi mudar o mundo
sem pensar em mim
mas o tempo até passou
e és o que ele me ensinou
uma chaga pra lembrar que há um fim


dá notícias do fundo
como passam teus dias
diz se a razão nos chega para viver
se amor nos serve
amor não dá de comer
fico melhor assim
em todo o caso vai pensando em mim

se tocámos em alguma coisa
se me chamas por algum motivo
se nos podem ver
se nos podem tocar

meu desejo
é morrer na paz do teu beijo
sem futuro
é lutar por um beijo mais puro

eu vou estar sempre aqui
nada vai mudar
sinto-te arder no meu fundo
eu vou estar sempre aqui
nada vai mudar
sinto-te entrar no meu mundo
fundo

nós tocámos em algumas coisas
nós seguimos por alguns sentidos
se nos podem ver
não nos podem tocar

meu desejo
é morrer na paz do teu beijo
sem futuro
é lutar por um beijo mais puro


não vou procurar quem espero
se o que quero é navegar
pelo tamanho das ondas
conto não voltar
parto rumo à primavera
que em meu fundo se escondeu
esqueço tudo do que sou capaz
hoje o mar sou eu
esperam-me ondas que presistem
nunca param de bater
esperam-me homens que desistem
antes de morrer
por querer mais que a vida
sou a sombra do que sou
e ao fim não toquei em nada
do que em mim tocou

eu vi
mas não agarrei

parto rumo à maravilha
rumo à dor que houver pra vir
se eu encontrar uma ilha
paro pra sentir
e dar sentido à viagem
pra sentir que eu sou capaz
se o meu peito diz coragem
volto a partir em paz

eu vi
mas não agarrei


chegámos ao fim da canção
e paro um pouco pra dormir
é tarde pra voltarmos atrás
já nem há motivo algum para rir
é como ouvir alguém dizer
vê nessa procura
uma razão
pra virar a dor para dentro
que é virar o amor para dentro
falo de um amar para dentro
que é virar a dor para dentro

eu vou dizer até me ouvir
a dor chegou para ficar
eu vou parar quando eu sentir
não haver motivo algum pra negar
é como ouvir alguém dizer
vê nessa procura
uma razão
pra virar a dor para dentro
que é virar o amor para dentro
falo de um amar para dentro
que é virar a dor para dentro

chegámos ao fim da canção
e paro um pouco pra dormir

Ornatos Violeta, "O Monstro Precisa de Amigos"

sábado, 31 de janeiro de 2009

do amarelo das caras

Boca e olhos e tudo mais dentro de um sonho. Vozes e risos dignos de um qualquer prémio nobel ainda por inventar. Dos dias, ficam as horas presas ao papel de parede com pionés ferrugentos, à espera de partir, só isso. Partir como as pedras da calçada nas mãos de um qualquer artista incógnito, pintor de ruas mais apreciadas pelas solas de sapatos do que por olhos. É uma pena que andem tantos fechados, mesmo que aparentemente abertos.

(Tenta dormir uma noite de olhos abertos e conta depois da tua manhã. Conta do que viste. Talvez um reino de batas brancas de gotas em punho. Talvez isso, talvez nada.)

Gritam-me aos ouvidos. Gritos sem voz, seja lá o que isso for, ensurdecem na mesma.

-E o vidro é castanho porquê?

"Se calhar nem temos o direito de...", se calhar até não, mas o mundo perfeito é ali ao virar da esquina, onde toda a gente estudou para tudo e nunca um livro foi trocado por uma garrafa. Pena que daqui ao virar da esquina seja mais longe do que o espaço que os olhos mostram ser daqui ao virar da esquina.

Enquanto tudo, o sol teima em não aparecer, continua a haver café com leite e pão com manteiga às quatro da tarde num reino não muito longe de nós e o relógio da estação continua preso num tempo que é de ninguém. Mesmo assim, certo, duas vezes por dia...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

coiso

"fechas a porta à chave com duas voltas e sais". mas a casa é grande. grande demais. e no silêncio imenso que deixas para lá dos passos a velha aranha conversa sem tempo com a formiga pequena. baixo. quase em surdina. não se pode assustar a mosca almoço. da aranha ou do camaleão. vida tão reles a da mosca, a poisar de merda em merda, dia após dia, sem rumo aparente. ainda foge da mão humana mas voa alegremente em direcção à teia sem evitar o olhar do bicho verde. a porta está fechada e daqui a pouco, a casa mais vazia.

sábado, 24 de janeiro de 2009

pfff

Cascas de noz num mar imenso à descoberta de novos lugares, rumo ao fim do mundo que não existia -as rodas não têm fim. nem começo-. Nem antípodas, nem adamastor, só o mar a frente e a terra longe mais o resto que por lá havia. A gente de muita coragem em busca da glória.

A coragem do El-Rei sentado no trono de veludo. Ontem, como hoje, mesmo sem Rei. Mudam os nomes e os lugares onde se sentam, que agora também já temos cadeiras suecas a preços baixos, não muito longe de Belém. Da nossa Belém, ali ao pé do tejo, sem fome, nem mortos a tiro pela madrugada.

É uma pena ver as figurinhas de papel todas amarrotadas dentro de uma caixa vazia. Tenho esperança mesmo assim. O benfica jogou ontem e amanhã não é dia de trabalho, não se tem falado de dores de barriga e com este tempo não há muito que fazer, também não se consta que haja engarrafamentos ao domingo. Que sejam muitos, vão pela manhã, bem cedo. Não me esperem. Vou lá ter...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

#28

E todos os dias havia mais uns metros de calçada para polir. Gastavam-se as solas dia após dia ao mesmo tempo que o ar salgado enchia o peito.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Radar

Que somos nós? Navios que passam um pelo outro na noite,
Cada um a vida das linhas das vigias iluminadas
E cada um sabendo do outro só que há vida lá dentro e mais nada.
Navios que se afastam ponteados de luz na treva,
Cada um indeciso diminuindo para cada lado do negro
Tudo mais é a noite calada e o frio que sobe do mar.

Álvaro de Campos

domingo, 11 de janeiro de 2009

Dantes

quantos "dantes", quantos? quando a escola era ali ao lado e os postes de telefone ainda não tinham sido plantados. ou então, quando ali em baixo, junto ao rio, o ar era diferente, mais leve... dantes. quando os comboios eram movidos a pouco mais que vapor de água e até se podiam apanhar em andamento. e os dias em que à porta de uma qualquer tabacaria também nossa se ouvia um "Adeus ó Esteves!" -todos tivemos um Esteves num dantes qualquer da nossa vida-.

e dantes, quando um quilo de arroz custava não sei quanto, as madrugadas dormiam-se num pesado sono de inverno.

"mas tudo isso passou
foi o tempo que nos matou."

da última batida

A anestesia fraca faz tremer o corpo. Bisturi na mão. Copo na outra. Seis vidas mais uma, como os gatos.

Afogamento na piscina.

Atropelamento.

Overdose.

Acidente de carro.

Tiro nas costas.

Queda de ponte.

Seis mais uma, como os gatos. Bisturi na mão, lâmina no peito, mão no coração e à sétima é de vez.

sábado, 10 de janeiro de 2009

fm...

"Tolerância! Nós agora somos todos muito tolerantes... Cada um tem a sua liberdade, todos podemos fazer tudo -ou quase tudo- sem sermos incomodados... Interessa lá ser pobre ou rico... Com isto da tolerância agora... Temos é que ser tolerantes... E se há gente pobre a dormir debaixo das pontes não importa -tolerância- não os vamos incomodar, afinal os ricos também o podem fazer, têm liberdade para isso... É a igualdade de oportunidades..."

José Mário Branco

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Flight lesson # 2

E se a fome for muita e a escolha recair entre um pedaço de pão e um prato de sopa ou uns sapatos escolhe os sapatos pois o pão e a sopa acalmam o vazio do estomâgo mas logo acabam e descalço no meio da neve e do gelo não podes ir em busca de mais comida e depressa acabarás por morrer, com os sapatos nos pés podes.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Meias palavras

Ouve-se daqui as vozes na casa ao lado. Caem pelo tecto oco -que agora até os tectos são falsos-. Caem as palavras e uns sons de xilofone velho, mais o leve bater de chinelos no corredor que leva da varanda ao quarto.

Numa casa aqui ao lado. Sempre ao lado e tudo deixa de fazer sentido se é que é suposto haver algum em tudo isto que é a coisa a que se deu o nome de vida. Ou vidinha, que um diminuitivo fica sempre bem...

Depois, um pouco mais tarde, pego nas letras e junto-as todas. Faço palavras e deixo as frases de parte que o sentido é sempre uma coisa muito abstracta e do lado de fora nada soa como no lado de dentro -e estas coisas são já divagações estranhas aos crocodilos que caem de paraquedas em plena Patagónia- como tudo o que é visto pelo lado errado da folha de papel.

O chá sabe a verde e mel. Sabe a maçãs e canela. Sabe a tudo e a nada e os espelhos reflectem coisas.

E se é possível que haja gémeos diferentes, saidos da mesma mãe à mesma hora mais minuto menos minuto -um preto e outro branco, ou negro e mais clarinho que isto são só palavras- é para mim também possível uma espécie de contrário.

Na rua não faz sol nem frio nem chuva nem vento nem luar nem nada. Pelo menos hoje e agora que escrevo.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Redundante

E se tivesses de escolher entre uma garrafa de ácido derramada sobre a pele ou outra de álcool vertida sobre uma qualquer ferida aberta?

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Dias cicatriz

Dos dias que ficam marcados no calendário como na pele a cicatriz de cor diferente para lembrar que a ferida existiu. Dias cicatriz, como a que tenho na mão. Como os dias em que a noite chega sem a hora de dormir mesmo que o corpo anseie o descanso. Dias em que na mesa os bancos vazios ganham outra cor pela falta dela mesma. Dias em que se é nada sobre um passeio sujo. Dias em que a areia molha os pés mas nada se sente. Dias assim, sem fim, nem começo, nem sentido, nem nada.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Hands up!

"Se um dia o diabo quiser faremos o crime perfeito..."

Donna Maria, Quase Perfeito

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

"Lisboa não é a cidade perfeita"

O mondego é sempre da cor que se quer e os peixes para além de rir também saltam. 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Tarde

Ah a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros.
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte... Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.

Àlvaro de Campos
O homem sai do carro devagar, atravessa a estrada e desliza pelas pedras ate assentar os pés na areia ainda quase molhada do mar que recua. 

Escassos minutos passam. Regressa.

E depois é ver que neste mundo há quem vá buscar lenha ao mar. 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Pescadinha de rabo na boca

A distância nunca foi uma coisa física. Fecha-se mais uma roda. Mais uma roda dentro da roda gigante que...

Volta tudo ao início, ao primeiro estender de mão e palavras num qualquer dia de sol refém de uma primavera já distante -tão distante quanto próxima-, muda o verbo e mudam as horas, o resto é sempre igual, déjà vu infinito no bater dos sinos. Sempre igual... Sempre!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

pois o bem e o mal andam de mãos dadas e pés atados. atados a tudo e um ao outro.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Cacos

O barulho é imenso e a mente como que fica demente demais, refém de todo o ruído que dança à volta. Na rua os cacos vão sendo amontoados num qualquer pedaço de chão. 

Cacos. Só isso. Sem forma nem ser nem nada. Pedaços de loiça e vidro e barro e papel e gente... Tudo misturado e abandonado num pedaço de chão ao fim da rua.

Cheira mal a rua, cheira a cebolas podres. Mas não há cebolas à vista.

Ao fundo há um homem quase sem vida que se acha capaz de tornar a ver o chão que já foi praça e depois estrada e depois passeio pintado a pedras de calçada e que agora é só um qualquer pedaço de chão ao fundo da rua onde está um monte de cacos. Acha-se capaz também de transformar os cacos em coisas e algumas dessas coisas em gente. Chamam-lhe louco, alguns, quando o vêm a vasculhar o monte em busca daquela rodinha laranja que falta para completar o olho da boneca que até já tem nome. Ri-se de todos, e de si mesmo, ao olhar a grande lata de cola pousada mesmo ao lado das linhas e agulhas, haveres de um ser que nem sabe bem o que é. Ri-se e continua. Sem pressa nem grandes porquês. 

O monte cresce, dia após dia, "mas um dia há-de não mais existir". 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Lugar

Do fogo, da chama, da fogueira, do quente, fica o lugar. O lugar no chão, o lugar no tempo, o lugar na memória, o lugar nos olhos que ainda vêm os pedaços de cinza esvoaçante, o lugar no nariz que cheira o plástico ardido, o lugar nos ouvidos que ainda ouvem as quatro letras com dois acentos, o lugar no espaço-tempo que é assim uma coisa inexplicável.



O lugar de onde se podia ver o sol nascer, de onde quem era capaz de ver o sol nascer via o sol nascer, o lugar casa com a vista de casa ali mesmo ao lado e a brisa leve da manhã a bater no sorriso nunca fechado.


O lugar que havia sem nada no bolso, nem truques na manga, nem nada mais que não fosse ele mesmo. Mas as pessoas grandes querem sempre ver o chapéu onde estava um elefante dentro de uma jibóia...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Isto

Isto é tudo um sonho do qual um dia se há-de acordar. Somos todos homens e mulheres das cavernas, esfomeados e mal-cheirosos que nem o fogo conhecemos, quanto mais este mar de tudo.

Isto é tudo um sonho e metade do que sonhámos, do que sonhamos, não há, como nos sonhos que vamos tendo dentro deste. Naqueles onde as nuvens se comem e sabem a algodão-doce, naqueles onde cheira a café acabado de fazer, nesses.

Isto é tudo um sonho e o "para sempre" não existe, nem a noção de tempo, de tempos. Nada!

Nos sonhos há sempre uma parte em que se acorda. Gosto especialmente quando caio de uma qualquer altura para o chão.

domingo, 30 de novembro de 2008

se

Hoje não, só amanhã, mas isso não existe, que o hoje é eterno. Hoje, agora, e nada mais há. Nem horas, nem tempo, nem dias...

Algures não sei bem onde alguém acabou de ser morto a tiro neste mesmo instante, o mesmo em que não sei quantos putos mosca respiram pela ultima vez. Mas nada disso importa, são só estatística.

E nada de sentir demais hoje, que mais dias virão –se nenhum meteorito nos cair em cima- logo depois de acordar -se-.

sábado, 29 de novembro de 2008

#27

Ora até que enfim..., perfeitamente...
Cá está ela!
Tenho a loucura exactamente na cabeça.

Meu coração estoirou como uma bomba de pataco,
E a minha cabeça teve o sobressalto pela espinha acima...

Graças a Deus que estou doido!
Que tudo quanto dei me voltou em lixo,
E, como cuspo atirado ao vento,
Me dispersou pela cara livre!
Que tudo quanto fui se me atou aos pés,
Como a serapilheira para embrulhar coisa nenhuma!
Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta
E me quer fazer vomitar sem eu ter comido nada!
Graças a Deus, porque, como na bebedeira,
Isto é uma solução.
Arre, encontrei uma solução, e foi preciso o estômago!
Encontrei uma verdade, senti-a com os intestinos!

Poesia transcendental, já a fiz também!
Grandes raptos líricos, também já por cá passaram!
A organização de poemas relativos à vastidão de cada assunto resolvido em vários —
Também não é novidade.
Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim...
Tenho uma náusea que, se pudesse comer o universo para o despejar na pia, comia-o.
Com esforço, mas era para bom fim.
Ao menos era para um fim.
E assim como sou não tenho nem fim nem vida...

Álvaro de Campos

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Quase-susto

Vi um fantasma. Por isso quase não existi hoje. Que existir não é só estar.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Escalas

O chamamento, a chama, a dor, ou tudo isso junto. Tudo junto com um pouco de nada. E pronto. Já está e não doeu. Ou doeu e o resto é fazer de conta.

Mas a vida já é um pouco isso também, fazer de conta e contar. Os dias, as horas, o dinheiro... Contar as histórias e as estórias. Fazer contas e resolver matemáticas difíceis...

Acho que devem ser as conversões que confundem o mundo. Ainda vai alguma diferença do euro ao dólar e do fahrenheit ao celsius. E trinta graus podem não ser bem a mesma coisa. Depende. Como tudo. Depende de tudo.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Sopro

O tropeçar e a queda, o abismo ao fundo, metros sem rede e as asas abertas quase ao bater no chão. Abertas mas frágeis. Logo quebram e o corpo cai sem amparo. Quebram-se depois os ossos e rasgam-se as carnes. Mas há sempre um canto para servir de abrigo e uma manta para não deixar escapar o calor que ainda resta.

Depois as escadas voltam a chamar. Sobem-se os degraus um a um esquecendo que tudo tem um fim - e a escada não será diferente -. Último degrau, próxima queda, ciclo infinito, grande roda ou qualquer outro nome. A vida, talvez.

[ao lado, outras escadas, outras quedas, outros corpos. nas pontas do mundo as cordas da rede cortadas por quem a não quer esticada]

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Coiso...

Canções, escadas e moinhos de vento movidos a água. Seres pequeninos, gigantes, algodão aos molhos e tangerinas. Escadas, casas, ruas, a quase chuva e as pedras da calçada debaixo dos pés. Comboios, estacões, paragens, viagens. Árvores e grades e relógios partidos contra o céu. E palavras. Porque sim, eis tudo!

domingo, 16 de novembro de 2008

Porque as casas não são só paredes e tecto, portas e escadas...

Porque

Porque as casas não são paredes e tecto, portas e escadas...

Casas são cheiros e sorrisos, barcos a vapor e aquecedores ferrugentos, são ruas íngremes e caranguejos pequenos, torradas com manteiga e vento nas varandas.