quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Cada dia é mais evidente que partimos
Sem nenhum possível regresso no que fomos,
Cada dia as horas se despem mais do alimento:
Não há saudades nem terror que baste.



Sophia de Mello Breyner Andresen
as canções são isso mesmo, canções. o isso mesmo é que pode ser grande demais, enorme até.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

quarta-feira, 28 de junho de 2017

A pressa matou os dias
gosto de amoras e de laranjas. um gosto especial por tangerinas. cerejas também. cerejas brinco. lembrei-me das silvas e das amoras quentes em dias de sol. pretas e vermelhas. e tinha um cão com nome de música que as comia também.
"Ser solidário sim, por sobre a morte
Que depois dela só o tempo é forte
E a morte nunca o tempo a redime
Mas sim o amor dos homens que se exprime"

José Mário Branco

quarta-feira, 20 de julho de 2016

decepemo-nos

Dois mil anos depois. Mil anos depois. Quinhentos anos depois. Torres no deserto, ilhas em forma de palmeira, chineses ainda ricos - mas agora de dinheiro, ocidentais a comer pimenta que não têm, guerra santa, cabeças cortadas, machados e facas. Tudo diferente. Tudo mais ou menos igual.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Temos mar chão e peixe

quarta-feira, 10 de junho de 2015

do remorso

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!


*

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há “papo-de-anjo” que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...
Alexandre O'Neill

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

o louco à beira do hospital cor de rosa a pedir ar de mão aberta e a não perceber porque lhe dão dinheiro apenas. quando dão. o santo a olha a rua. antónio. roma. as senhoras da avenida, finíssimas, como as outras da canção. os velhos sem jardim a tropeçar na calçada. cagalhões de cão e merda de pombo. cada cidade terá a sua escatologia própria.