Mostrar mensagens com a etiqueta Papel. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Papel. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 20 de julho de 2016

decepemo-nos

Dois mil anos depois. Mil anos depois. Quinhentos anos depois. Torres no deserto, ilhas em forma de palmeira, chineses ainda ricos - mas agora de dinheiro, ocidentais a comer pimenta que não têm, guerra santa, cabeças cortadas, machados e facas. Tudo diferente. Tudo mais ou menos igual.

sábado, 5 de abril de 2014

Eles existem II

"Paraquedista escapa por pouco a meteorito"

http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3795528&seccao=Europa&page=-1

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

eu que nasci em 1984

os Winston Smith deste país andarão cheios de trabalho. lufa lufa constante. aqui fica, até que a não apaguem: http://www.portaldealbergaria.pt/2014/01/matou-se-frente-a-autarquia-onde-dormia-ha-semanas-a-suplicar-por-um-teto/

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

o Mar enrola na areia

serão os assobios a salvar o mundo. outra vez.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

maio

se houvesse uma prateleira para guardar concertos este havia de estar lá. e depois pensar que dez, vinte, trinta maios depois ainda faz sentido haver um dia primeiro. porque ainda há sangue, manadas, vampiros e carraças. e há palcos à beira lago-rio-mar-qualquer-coisa. e há dias assim.


terça-feira, 2 de agosto de 2011

Fe

flor. uma cortina verde-castanha-riscas à frente do palco arredondado, antes branca. é o mundo grande-pequeno visto do pássaro de ferro com asas de ferro também.

onomatopeias agora. clac clac, vrrrrr vrrrrr, pfffff pfffff. vira um pouco e torce-se a vista. tanta volta para chegar ao mesmo sitio.

começo.

a flor-conjunto-de-átomos e os povos das (re)encarnações ou (re)florações se é que as acreditam é que devem ter razão. eis. é o ferro desta vez. ferro espada, ferro sangue, ferro cheiro, ferro cor. boi, a chave.

do alto, a cortina branca foge, abre e deixa perceber a outra, a tal verde-castanha ora riscas ora quadrados ora o bonito não padrão. há mais debaixo. terra. o mundo por baixo do mundo e lá, lá fundo, a emergir, o ferro. o mesmo do sangue nosso e das ervilhas, o mesmo da ponte feita por medida, o de que é feita a cor que o pinta, o dos barcos, o de quase tudo.

flor. é de ferro o xilofone que toca melodias flor e horas no por entre o pó de um dia de sol.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Phaseolus vulgaris

Imagina-te de novo de volta à escola. O quadro preto em frente, a cruz por cima, um cristo magro e pintalgado de verde a olhar para o vazio.

Dois mais dois são quatro sem nunca se explicar ou perceber bem porquê. Números são números e estes não enganam. Tudo isto na altura em que havia um senhor de fato preto às riscas a convencer-nos que o também o algodão podia ser um número. "Não engana" dizia. Falava do algodão.

Um frasco. Protocolo (palavra nova só mais tarde aprendida já em quadro branco, não melhor que o preto). Material: àgua, armário, frasco, algodão, feijão e sol.

Depois era o feijão no frasco e o ridiculo de tudo aquilo num lugar onde depois das quatro nos rebolávamos pela terra.

Era na terra que a realidade fazia mais sentido. Um dia despontava um pouco de verde, no outro uma outra folha, regar, mais uns centimetros dia após dia. Esperar. Devagar até ao grão final.

Lição primeira: é preciso tempo;
Lição segunda: a história do João pode ser verdade numa tarde de sol;
Lição terceira: por mais que repetidos sejam os gestos nunca o resultado é o mesmo.

Três lições num feijão. Hoje em dia já não devem aprender estas coisas na escola. Muito menos terão terra para a cheirar molhada.

Fim.

Irrita-me a urgência dos tempos mais modernos que os do senhor Charlie. Vi, sem ver, alguém chorar por não ver um filme no dia da estreia.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

dos impérios que não caem




sonhei esta noite com o FMI. fazia sol. estava ali na praça do imperio e eram cinco. iamos reunir nos jerónimos. escorriam restos de marisco pelo canto da boca. alimentam-se bem, pensei. acordei depois. nem tempo tive de lhes dizer de quem é a culpa de tudo isto. dos espelhos. os espelhos pendurados pelos cantos que fazem as pessoas sorrir mais para elas do que para os outros. eles que venham. os impérios não caem. talvez seja por isso que se pede pão de maneira igual em mértola e tokyo. e somos maiores. maiores que eles mesmo que debaixo do braço tragam pastas ruças pelo tempo e cheias de notas. é bonita a nossa terra. e tem também jacarandás. e barcos. e mar. e um império em forma de praça. e o outro.

domingo, 5 de dezembro de 2010

a distância lá no muito alto mede-se em pés

Quatro e meia da tarde. A cidade grande aos pés. Homens formiga e carrinhos de brinquedo. Da varanda vejo o longe pintado nas latas dos aviões que vão passando, como uma maçã de Carrazeda de Ansiães, vejo o Tejo já sem falar espanhol, consigo ver a outra banda até em dias como não hoje, de cinza e água caída em gotas.

Sopro o café vindo sei lá de onde. O cheiro quente do grão abafa o de alguma gota de suor caída meses antes. Quero que seja do Brasil, dá-me jeito, até porque é fácil de imaginar com a cabeça do Rei um pouco à vista. É novo. Soube que fez cinquenta anos há pouco tempo.

Arrefece, não gosto de café quente. Tic-tac e volto à cadeira. A partir de agora é China. Os chinesinhos alinhados de cara igual para um dia igual ao outro igual ao outro igual de cara igual a colar pedaços de ouro com colas estranhas. Os computadores são feitos de ouro sabias? Também de silício mas isso seria outra conversa que iria terminar num vale. Pena não ser o vale do Ave. Pena que por lá já não se transformem partes de ovelha em almoços e camisolas. Talvez em almoços ainda. Por enquanto. Tenho os pés aquecidos por três putos tailandeses cheios de fome e tosse convulsa. 

Tal como a cerveja, o café é um diurético. Carrego no botão e imagino a tainha de boca aberta para a fotografia. Mais uma semana e a capital do país onde vivo deixará de ter os esgotos ligados directamente ao rio. Coisas que o progresso faz. Não sei se alguém pensou na desgraça dos peixes, falta-nos o pregador Vieira.

Suspiro. É tarde. Na rua o queixume de sempre. Ou faz sol ou frio, acaso chove, nevar, isso, já é raro. Uma desgraça, no fundo. Dizia o poeta que “não importa sol ou sombra” mas a verdade é que tudo importa demais. De duas ribeiras nasceram as duas principais avenidas da cidade, sabias? A da Liberdade, liberdade, fica melhor assim com letra pequena e a Almirante Reis, o homem que com medo de morrer se matou sem que fosse preciso, a vergonha é uma coisa fodida. Eram ribeiras as avenidas. Teorizo que talvez as pessoas se assemelhem a água, eventualmente tem que ver com os setenta e tal por cento, basta um olhar pouco atento para ver onde se vão estendendo os corpos que pouco já vão devendo à outra parte do mundo, e a esta também, afinal. Lá estão eles nas ribeiras antigas, nas margens, a confluir lentamente para baixo, cada vez mais para baixo, fundo. Diz-se que no dia em que um dos elefantes fugir do zoológico poderá passear por baixo da rua Augusta sem grandes apertos. Dos corpos na margem digo que não gostam de maçãs. Até os esfomeados têm direito a ser esquisitos, percebo-os, mas deixei de dar chocolates.
Hei-de aprender a dizer alguma coisa em Indiano.

Nem tudo é mau, desenganem-se os que nos querem dar como perdidos. Temos agora também blindados. Dão um jeito enorme para as cimeiras. Podem dar jeito para quando numa eventualidade desmentida por todos os quase mil anos de história o povo pegar em tudo o que tiver à mão e marchar rumo a qualquer lado (guardo num postal a preto e branco memórias bonitas de outros tempos no largo do Carmo) para espetar uma facada nos organizadores desta excursão reles prometida para o céu mas onde pelo caminho apenas se vêm placas a indicar o abismo. 

Já comprei o pão para a noite. Dezasseis cêntimos. Trinta e dois escudos, um pão. Ainda puto, levava cinquenta escudos para uma manhã de escola, cem para o dia todo. Pão, sumo, batatas fritas e rebuçados. Já fui rico.

Ainda não sei dizer uma palavra em Indiano, apesar de ter mais indianos que Portugueses como vizinhos.
Perdi a fome com tudo isto. Antes de ir sonhar com a paz nuns braços pequenos de sorriso aberto vou à janela olhar para a lua escondida pelas nuvens. E lá, na lua que não vejo, milhões de olhos reflectem luz e sonhos também. Talvez maiores que os meus, que os nossos todos juntos. 

Sete andares abaixo, os homens parecem menos formigas e mais humanos. Coisas piores, portanto. Quase todos. Quase…

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

cinco

a gota de água à escala da formiga. depende da formiga, depende da água. a descrição da gota de água, separada de todas as gotas de água que são a chuva, observada à escala da formiga. depende, ainda, da água e da formiga. trocar a formiga por aranha. muda o quê? muda? trocar a água por pó. grão de pó do meio dos olhos de um beduino. camelo. baba.

agora a sério. não sei porquê mas engano-me a escrever a palavra água. troco o acento. assento. àgua. brincar. com as palavras também. livro? riso encolhido. nomes estranhos. de novo. agua. o salazar caiu de uma cadeira, o salazar é uma espátula, os cavacos queimam-se na lareira. o cavaco é de pau. que se foda o cavaco. pim!. (obrigado Almada)

tempo

o tempo

o tempo à escala humana e do universo. à escala dos milhões de planetas e homenzinhos verdes talvez azulados. sei lá. o tempo à escala da humanidade e da vida. gota de água. formiga. cronómetro. pessoa. 

acordar

o homem vestido de branco usa sapatos vermelhos. nas colunas faz frio. vendem-se dinossauros dados. o tempo. dinossauros no seculo XXI. dragões são dinossauros com asas que cospem fogo a pilhas. o fogo dos dragões não serve para aquecer mãos. mãos aquecem mãos. olhos são espelhos-porta e o coração é mais que algo bom para arranjar de cebolada. soubessem as tainhas de tudo o que se lhes passa por perto. soubessem elas... 

o tempo à escala humana. cinco meses de humanidade são pouco mais que mortos e vivos contados em estatistica bonita. cinco meses de humanidade. suspiro. mas a minha humanidade é maior que a do mundo. é a minha. egoista. egoista. outra vez egoista. cinco meses. não quero saber dos minutos. prefiro ir juntando os segundos no bolso, junta-los com os barcos e os pés e os grãos de areia e as marés vivas do tejo à uma menos vinte e os peixes artistas e os poços mágicos e tudo tudo tudo. sei de uma humanidade parecida. sorriso. sei de um rio ribeirinho fio de água que até uma formiga seria capaz de atravessar.

é outubro. dia 13.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

também de um relvado sintéctico algures no oeste por entre os moinhos que D.Quixote não viu

são dias. são histórias e são horas a pingar histórias no correr dos dias. é qualquer coisa assim ou algo parecido. sonhei outro dia com um alfarrabista do tempo. talvez seja profissão de futuro. um pouco de mil  novecentos e catorze e bancos de palha se ainda houver. alguns cêntimos, ou escudos, talvez reis, dinheiro romano, azeite grego. tábua de barco. colinas trilhadas por carris e pés.

o tejo ja não tem canoas, o que é uma pena. tem tainhas e merda fresca ao fim da tarde quando a maré está baixa. devia haver qualquer coisa em atravessar o tejo numa canoa. se bem que o barco bebedor de nome serve bem para ver o lençol estendido cada vez mais perto. pontos de luz. luz.

ainda tenho uma aranha.

tenho uma aranha pendurada no tecto. tenho uma teia de aranha pendurada no tecto. estou em crer que a dona se passeia pela casa enquanto não estou. comem formigas também, as aranhas. deve ser por isso que teimo em não limpar as migalhas espalhadas pelo chão. ou por qualquer outra coisa.

seja como for, gosto de tapetes que não o são.

sábado, 19 de junho de 2010

onomatopeia

linha. linhas. palma da mão. escasseiam as palavras mas por vezes não há muito que dizer. o corpo fala. os corpos falam quando as letras não saltam dos dedos.

alfama é linda, a bica é linda. lisboa é linda. o bom das cidades é que são muito mais que isso. mais que todas as palavras e imagens juntas. a minha varanda é linda. e o sol que morre mais a sul também merece ser (re)visto. 

podia escrever da luz no branco das paredes e do chão. do reflexo azulejo e da brisa na base do pinheiro mais alto que as muralhas do castelo. a cor que não é vermelho nem encarnado nem qualquer outro tom de vinho. sangue-de-boi. sangue-de-boi, como o sangue dos bois touros caido na praça (des)feita  (também) cinema. bifanas de pato. o cheiro das bifanas de pato e a fita a rolar. era uma vez uma casa que tinha um arco e onde morava um cego...

bancos de jardim. verdes. quase todos. havia uma princesa nas mil e uma noites, não me lembro de ler acerca de unhas cravadas na pele.

[barulho-melodia-de-ferro-e-borracha-e-oscilações-metálicas]

alcântara, القنطرة, al-qantara, a ponte, é linda.

tenho uma varanda linda e o fado não tem de ser triste. gosto de tangerinas e de contar as horas pela oscilação das marés. gosto de desenhos. gosto de dias de sol e de chuva. gosto da paz dos dias que nascem devagar quando a luz entra pelo buraco aberto por entre as telhas já senhoras de muita chuva caida. e dos sorrisos que surgem nos dias que nascem devagar quando a luz entra pelo buraco aberto por entre as telhas já senhoras de muita chuva caida. 
linha
s. f.
1. Fio para coser.
2. Linho.
3. Fio de pesca.
4. Fila, fileira, renque, direcção!direção. Raia.
5. Arame para comunicações telegráficas ou telefónicas.
6. Via-férrea.
7. Meio de comunicação entre dois pontos.
8. Traço geométrico que representa uma direcção!.
9. Equador.
10. Série de letras numa direcção!.
11. Cada um dos traços horizontais do papel pautado, do pentagrama, etc.
12. Traço, risca.
13. Trave horizontal em que assentam as pernas da asna.
14. Linhote.
15. Frente das tropas em ordem de batalha.
16. Duodécima parte da polegada.
17. Sinal gráfico com que em matemática uma letra se distingue de outra (ex.: p + p´).
18. Série de gerações numa família.
19. Fig. Categoria; norma, regra.
20. Tip. Filete com que se divide uma página em colunas.

linhas
s. f. pl.
21. Infrm. Carta.
22. Feições.
23. Veios na palma da mão.
Tecnol. em linhacom ligação directa!direta ou remota a um computador ou a uma rede de computadores, como a Internet. = on-line
em fila.
Fís. linha isóbarao mesmo que linha isobárica.
Fís. linha isobáricalinha que passa pelos pontos terrestres em que a amplitude média das variações barométricas é a mesma. = isóbara, isóbare, isobárica, linha isóbara
Fís. linha isotérmicaa que passa pelos pontos de igual temperatura média anual.
Fís. linhas climatéricasas isoquiménicas e as isotérmicas.
ter a linhater o porte ou o aprumo conveniente.

domingo, 6 de junho de 2010

dias úteis

é domingo.

divago acerca do porquê da aparente cor da água vista do cimo da serra. incolor, insípida e inodora. aprendi assim na escola. por vezes desconfio das coisas que lá me ensinaram. era para beber. o mar não se bebe. dizem. irrito-me com o que dizem. pergunta: os olhos comem?



acho que sim. depois há castelos no alto e estradas que levam aos castelos a serpentear pela encosta. viagens. fins de terra ventosos e estradas que não se sabe muito bem onde vão dar. dias de sol. úteis.

domingo, 30 de maio de 2010

dias

os dias são coisas com vinte e quatro horas. as horas são coisas. os dias dividem-se neles mesmos, dias, e nas noites. as horas têm coisas dentro, segundos. os segundos dividem-se até ao infinito. tic-tac.

os dias começam quando o sol nasce. na verdade o sol não nasce, mas os dias começam. pela definição de segundo as horas não passam.

gosto de aranhas, já devo ter escrito. gosto delas quando se passeiam pelos cantos. e gosto dos dias que não o são por serem diferentes disso mesmo.

sábado, 29 de maio de 2010

arrabalde

diz-se que pode passar um elefante debaixo da rua augusta. coisas que poucos sabem, também não é fácil descer ao esgoto. e se fosse, saberiam?

lembro-me do elefante e da lua feita lençol no espelho rio. e quantos sabem do estender de luz à frente da praça? e do resto? das sardinhas penduradas entre telhas e do macaco da esquina.

colam-se os passos ao chão. bancos de jardim. uma pergunta: os bancos das praças são bancos de jardim? importa pouco no desenrolar das horas. correm. as horas e os passos. 

cais. talvez seja a palavra. dois e o espaço entre eles. andam a fazer um jardim na ribeira das naus.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

chinelos

A normalidade. Anormalidade. 

Uma letra é também uma palavra? Sei agora da variância da água e do sal ao longo do muro. Maré. Não sei ainda do dormir dos pombos nas paredes das igrejas. A questão é: dormem sempre no mesmo sitio ou alternam? Atormenta-me muito mais que a subida do IVA. Outra: porque é que os cães teimam em cair nos poços?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

caracol

macacos nas esquinas, ou não macacos nas esquinas. eis a questão, mas não há questão, não importa. está lá o que é e é um macaco não macaco pintado de azul. e uma borboleta. e há quem saiba que lá está a olhar pelos passos vagarosos estendidos dia após dia, noite após noite. passos vagarosos e sorrisos longos.

e gárgulas sedentas de laranjas. e tudo. montes pintados de branco, as luzes longe no sangue vivo. de boi. um suspiro. dois. e no direito de.

no fundo, creio que gosto de varandas. de nêsperas também. e de nuvens a pairar, algodão.

domingo, 25 de abril de 2010

alguns

não sei do dia nem da hora. era inverno e quase noite. eramos muitos e eramos mil. dez. dez mil dizia-se na altura.

não sei também das queixas. talvez propinas e bolonha. sei que fui pela razão de sempre. a que não há. 

não sei também do nome da rua, hoje é Amália. sei sim de um segundo andar, ou terceiro, e sei de uma velha muito velha e vestida de preto à janela. lembro-me de um punho fechado e de lágrimas nos olhos. lembro-me disso e de ouvir que éramos muitos e sentir que ao mesmo tempo tão poucos.
 
a velha dizia força como quem parte pedra com um martelo. a velha chorava e a rua era cheia. eramos muitos, mil, dez, dizia-se.

(ainda) somos muitos muitos mil

a vida é uma merda. queixemo-nos então. queixemo-nos bem alto para toda a gente ouvir. seis lamentos por dia, um por refeição, são tudo o que basta para que isto mude.

as pessoas dantes eram tão limitadas. acreditavam que para mudar as coisas era preciso agir e viver na sombra e abdicar e ter ideias e sujar as mãos de tinta em tipografias clandestinas e fugir de guitarra às costas e escrever o que olhos ansiosos esperavam por ler. acreditavam que podiam mudar o mundo se um dia, por volta da meia noite, ouvissem uma pergunta simples na rádio. acreditavam no sempre e no nunca e em revoluções à quinta-feira. definitivamente limitadas. 

seis refeições por dia. um lamento por refeição. as revoluções que fiquem para os outros. afinal de contas, aquilo das balas pode ser chato.