domingo, 10 de agosto de 2008

Sol

De um lado, o sol queima as palavras, do outro, seca as ideias. O mesmo sol que é bom de ver por entre as folhas das árvores e que convida ao torpor. O sol que gira sempre sem parar. E depois sobra pouco para dizer quando as palavras não surgem...

sábado, 9 de agosto de 2008

Momento

Tenho a perna dormente e há um desconforto enorme em tudo isto.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Manhã


e depois acordar na areia e não saber se a conversa existiu ou foi um só mais um sonho...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

#

"e dizem e falam, falam demais sabes? farto-me de as ouvir... porque depois pensam assim e assim mesmo e eu estou-me bem a cagar se os putos comeram a papa ou não. uma ilusão... tudo não passa disso. porque depois no fundo sinto-me a andar às voltas como os hamsters sabes? ando e ando mas acabo por nunca sair do lugar. e depois não sei porque já não tenho a certeza de nada. só os fantasmas, sempre os fantasmas atrás de mim. por mais que mude, por mais que fuja eles simplesmente não me largam. e aqui estou a dar voltinhas na roda... às vezes penso em saltar, mas é impossível fugir..."

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

(...)


"And if the dam breaks open many years too soon
And if there is no room upon the hill
And if your head explodes with dark forbodings too
I'll see you on the dark side of the moon"

Pink Floyd, Brain Damage

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Vozes

Disseram no outro dia que éramos iguais. Fiz de conta que não ouvi.

Depois pensei nas palavras e nos metros e nas pedras e nas varandas e nas viagens e nos comboios e nas pistas e nos carros e nos silêncios e nas horas perdidas a fazer nada.

Olhei-os de lado e ri-me contigo.

#23

- Não sentes, às vezes que isto não é teu? Que te limitas a ir andando e que por mais que faças acabas sempre parado no mesmo sitio....
- ...
- É como a história do hamster, que anda ali às voltas na roda. Anda, anda, anda, mas nunca dali sai. Sinto isso, sabes? Como se houvesse qualquer coisa a controlar-nos...

domingo, 27 de julho de 2008

Nadas...

No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de conseqüências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...

Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive).
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em todo o novo...

Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?

Gado vestido dos currais dos Deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, álacre, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer...

No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...

Álvaro de Campos

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Jardim

Num canto, girassóis, no outro uma roseira. Uma grande árvore no meio, daquelas que se não abraçam de uma vez só. Alguma relva, um banco verde e pedras com vista para o rio.

Enterrada na terra está uma caixa. Folhas e mais folhas. Brancas e lápis coloridos. Pendurado na árvore, um arco-íris pintado a mil cores num dia em que choveu miudinho.

Olhando de baixo, a árvore desenha-se núvem e dos ramos pende um pequeno trapézio que baloiça ao sabor do vento. Lá, no sitio onde não há tempo e o ar não sufoca nunca.

"Não vês que é de nós o jardim..."

#

Vagarosamente, como se aquele copo de leite quente agora já quase frio fosse toda a sua vida. Nem hoje, nem amanhã. Tudo o que pode existir no universo condensado na nata que se ia colando à colher ja tonta de tanta volta dada em torno do vidro grosso.

Cega, talvez, ou só de olhar preso ao infinito da parede meio suja. Ou então a parede já não era parede e sim um qualquer espelho da alma. Chorou em poucos minutos todas as lágrimas que em si cabiam.

Tirou do bolso o lenço amarrotado e limpou o que restava dos olhos feitos cascata. Do mesmo bolso tirou também a moeda que abandonou em cima da mesa. Deixou o leite, deixou o lenço. Encontrou numa cara à sua frente um sorriso, pegou nele e foi embora. Bateu com a porta, partiu o vidro, riu e correu.