domingo, 20 de novembro de 2005

Fim

Dia após dia, cada vez mais me vou apercebendo que cada vez mais damos menos valor ao que temos. Morreram duas pessoas estas semana que me eram próximas, uma mais do que outra. Uma delas tinha tido anteriormente uma trombose, estava frágil, a outra morreu durante o sono. Em ambos os casos o coração achou por bem parar de trabalhar. Há várias maneiras de encarar a morte, mas à medida que vemos partir pessoas à nossa volta vamos pensando de maneira diferente.
As primeiras perdas são vividas com revolta, um porquê ecoa da nossa mente. Especialmente se não houve tempo para um último adeus… Os anos vão passando e cada vez mais são os que nos deixam. Vezes há em que vão todos de uma vez, como há um par de anos em que perdi três pessoas. Nesta altura instala-se um certo conformismo. E quando finalmente morre um colega nosso num acidente de carro a apatia toma conta de nós. Os porquês e desaparecem e a inevitabilidade torna-se numa espécie de fantasma que vai aparecendo de vez em quando.
Por norma as pessoas têm um certo receio em abordar o tema morte. Arrepia quando nos vemos numa situação de aflição extrema, quer seja por termos comido um “after-eight” na altura errada ou por haver um pesadelo qualquer que nos faz acordar num sobressalto.

Também eu tenho medo, medo de cair numa cama e não me poder voltar a levantar, medo de ter de ficar completamente dependente de alguém até para satisfazer as minhas necessidades mais básicas. Tenho medo da doença. E de uma coisa eu tenho a certeza. Não quero morrer devagar.

4 comentários:

Taina disse...

Todos morremos devagar...afinal estamos todos a morrer. Vi pessoas a morrer muito devagar... e chega-se a um ponto que o egoísmo de querer essa pessoa junto de nós se dissipa e apenas queremos que acabe o sofrimento da pessoa.

Costumo ouvir dizer q, após chegar a um ponto, é preferivel não termos lucidez para não encarar o sofrimento em poderemos viver... eu quero essa lucidez! Já vi q custa, mas eu quero-a. Quero ser como aquelas velhotas porreiras, que não têm medo do inevitável e sempre bem dispostas. E sim, quero q o meu suspiro final seja rápido e indolor, por mim e pelos q ficam que conseguem sempre achar algum conforto nisso.

Dps as mortes de pessoas tão jovens ou mais q nós são como um soco no estômago... a imprevisibilidade do futuro, o porquê eles.... um ataque cardiaco fatal aos 21... dá-nos uma perspectiva complicada...

Receio mais no que haverá ou não após a morte, do q a minha morte. Mas deve ser pq sou nova....

Shootingstar disse...

Podemos ter medo de morrer, mas é bem mais assustador viver. Saber que a cada dia vamos enfrentar situações novas que escapam ao nosso controlo e que de um momento para o outro perdemos o controlo da nossa vida. Apercebi-me bem disso agora, me menos de 15 dias e por duas vezes. Posso ficar com sequelas a vida toda, mas mais me assusta o dia de amanhã, o desconhecido e não saber que novas situações vout er de enfrentar. Morrer acontece naturalmente, devagar ou não, mas sempre do mesmo modo. Mais desafiante é viver e saber viver cada dia. Acho que nós, vivos, devemos bater palmas a cada dia pois o maior desafio das nossas vidas foi vencido, um dia mais.

Mais um dia, mais uma vitória.

Always Keep Smiling. Um beijinho, e espero que compreendas a minha divagação.

(A propósito, estou de volta)

babygirl disse...

E por isso mesmo temos que aproveitar a vida e cada dia que passa! Existe lá bem mais precioso?
Bjs***

Margarida disse...

É-nos difícil aceitar que a morte está perto e que pode acontecer a qualquer momento.

Eu também não quero morrer devagar. Há tempos morreu uma pessoa que me era muito querida devido a um cancro e foi morrendo muito lentamente. Doeu tanto vê-la ficar cada dia mais magra e dependente dos outros, vê-la o dia todo deitada na cama a respirar com a ajuda de uma garrafa de oxigénio, vê-la a não conseguir reconhecer os próprios filhos. É difícil, difícil para o que sofre com aquilo a destruir-lhe lentamente o corpo, difícil para aqueles que estão de fora e que assistem a tudo sem poder fazer nada.

Beijinho*

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