domingo, 10 de junho de 2007

Portugal, Portugal

Hoje é dia de Portugal, este belo país à beira mar plantado.

É nestas alturas que me ponho a tentar descobrir o que "nos" aconteceu. Fomos donos de meio mundo e mais um pouco, descobrimos que o chão não acababa lá em baixo ,perto do pólo, e que o caminho não era só um, pela direita também dava.

E depois? Que fizeram os nossos egrégios avós para no deixar assim? Tentaram enriquecer, pois claro, e para isso, roubaram e mataram até não haver amanhã.

É claro que hoje somos ainda maiores, temos o Cristiano e o Figo, esses grandes jogadores da bola para distrair o povo enquanto nos afundamos...

E enquanto o povo se distrai, o país muda. Onde haviam àrvores, há cinza, onde havia cinza, há terra, onde havia terra, há casas. Há também casas em cima do mar, esse malvado que de vez em quando as inunda.

Enquanto o povo se distrai, vai sendo controlado. O cartãozinho de cliente da loja A, B e C é muito bom, e se por acaso amanhã um gajo qualquer sentado num gabinete quiser saber o que comprou o Zé no sábado à tarde não há-de fazer mais que carregar em meia duzia de teclas.

Enquanto o povo se distrai, vai sendo roubado como se não houvesse amanhã. Só o simples facto de ter dinheiro no banco, custa dinheiro, muito dinheiro. Um euro para isto mais dois para aquilo e no fim do ano, lá foi uma noite bem passada para o bolso de alguém.

Enquanto o povo se distrai, tentam convencer o povo que a culpa é de todos e não de meia dúzia de gajos comandados por seitas manhosas que só querem ser um pouco mais ricos.

Nestas alturas lembro-me sempre do Jorge e do seu Portugal. Não sei do que estamos à espera, eu até que não me importo de levar umas bastonadas se for por uma boa causa...

Depois há os bons a quem ninguém dá valor e que tentam calar à força. Há muitos, vou recordar um, Gonçalo Ribeiro Telles. Um pregador, que ainda há-de viver para dizer "Eu tinha razão!".

3 comentários:

D disse...

verdade.. ando ha tempos para encontrar o meu livro d historia da primaria,para reler a nossa grandeza em tempos...
como deixamos perder tudo isto?
e pior.. como é que hoje as pessoas so se queixam, em vez de fazer por algo mudar?
priveligia-se mais o que vem de fora, do que o que está ca dentro..

leonoreta disse...

não sejas pessimista e assume-te como português para tirares este pais da cepa torta. tivémos Pedro Nunes e Agostinho da Silva. ´so me lembro destes agora mas ha mais.

abraço da leonoreta

Carla Luís disse...

Olá!
Não tive tempo para ler tudo agora (amanhã fa-lo-ei), mas não resisto a deixar aqui um poema que acabei de blogar - Jorge de Sousa Braga. É grande, mas merece a leitura. "A bem danação!" :p
Baci! ***

Portugal

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se eu tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África
Só porque não conseguia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais
E nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira, que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
E o Nuno Álvares Pereira um reles imitação do Príncipe valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
Àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas

Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império
Mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse
Das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
Mas que tem o coração doce ainda mais doce, que os pastéis de Tentúgal
E o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?

Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete, Salazar estava no poder, nada de ressentimentos
O meu irmão esteve na guerra, tenho amigos que emigraram, nada de ressentimentos
Um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga
Ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional
Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que Camões lá deixou
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
Gostava de te beijar muito apaixonadamente na boca

Jorge de Sousa Braga,
O Poeta Nú, Fenda Edições

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