Lia todos os dias, no jornal do café, com especial atenção as páginas da necrologia. Quase todos os dias lhe eram estranhos os nomes e as caras. Entretinha-se assim durante uns bons minutos, dia após dia. Enquanto outros imaginavam o novo reforço do clube a marcar um grande golo, ele via caras coladas a um corpo imaginário. Arranjava-lhes uma vida. A todas.
Jogavam cartas no jardim do bairro à sombra de uma árvore o Manuel Carvalho (76 anos, 3 filhos e 7 netos) com o José Silva (80 anos, solteiro), observados de perto pela Amélia Santos (94 anos, cara de 60). Todos os dias uma história diferente feita com nomes e caras encontradas numa página negra.
Certo dia, à hora certa, chegou com o olhar molhado, pediu o mesmo de sempre e sentou-se no lugar do costume a folhear o jornal, mas desta houve uma página que virou sem sequer olhar. Já não havia o gozo de dar largas à imaginação. Não era preciso inventar uma história para o nome que conhecia tão bem, quase desde que nascera.
Mas as páginas estavam lá para o lembrar, que por mais que se tente não ver, a verdade existe e mais cedo ou mais tarde acaba por aparecer, como quando chegou a criança que pegou nas folhas soltas e quase por ironia deixou só uma sobre a mesa. A tal, para que não tinha sequer olhado.
Jogavam cartas no jardim do bairro à sombra de uma árvore o Manuel Carvalho (76 anos, 3 filhos e 7 netos) com o José Silva (80 anos, solteiro), observados de perto pela Amélia Santos (94 anos, cara de 60). Todos os dias uma história diferente feita com nomes e caras encontradas numa página negra.
Certo dia, à hora certa, chegou com o olhar molhado, pediu o mesmo de sempre e sentou-se no lugar do costume a folhear o jornal, mas desta houve uma página que virou sem sequer olhar. Já não havia o gozo de dar largas à imaginação. Não era preciso inventar uma história para o nome que conhecia tão bem, quase desde que nascera.
Mas as páginas estavam lá para o lembrar, que por mais que se tente não ver, a verdade existe e mais cedo ou mais tarde acaba por aparecer, como quando chegou a criança que pegou nas folhas soltas e quase por ironia deixou só uma sobre a mesa. A tal, para que não tinha sequer olhado.
5 comentários:
Números que passam a vidas...Tristeza infinita, que ninguém consegue transmitir por palavras!
ah pois...
Somos sempre confrontados nos nossos medos!Reconhecer alguém querido nessa página negra é um dos meus!!
Costumo virá-la sem olhar. Acho-a triste.
Que pesadelo.. :/
Aquilo que não queremos ver é normalmente aquilo fica para olharmos para ele...
Escreves lindamente... Mais uma vez =)
Continua e um beijinho***
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