quinta-feira, 5 de julho de 2007

Menina

Tinha a vida na mão, o destino traçado. O futuro certo, sem margem para qualquer duvida. Estava tudo escrito, desde há muitos anos. A menina nasceu, cresceu, estudou, casou. Vivia feliz na sua espécie de fortaleza até que um dia teve que se mudar.Era um castelo pequeno, este para onde ia viver agora, nem muralhas tinha, só janelas com portadas escuras que nunca tinham sido abertas. Os vizinhos novos eram,no entanto, maiores que os que tinha conhecido desde sempre. A menina ouvia-os falar e não percebia grande coisa do que diziam. Mais tarde comecou a falar também, aos poucos. As conversas ao inicio estranhas, despertavam-lhe a imaginação, começava a ver mais longe. Numa manhã abriu as janelas e observou o horizonte que até então estava escondido pelas portadas negras. Gostou.

Chegou o dia em que quase implorou por companhia para a viagem que imaginava mais curta, afinal eram só uns dias longe do castelo. Os companheiros de viagem surgiram e no dia marcado lá estavam á espera, mas ninguém apareceu. Com o bilhete comprado na mão, aguardava ansiosamente a partida. Talvez por medo ou algo mais não partiu logo, esperou um dia mais. Talvez soubesse agora, depois de poder olhar as estrelas, que assim que embarcasse não mais iria ver o seu castelo com os mesmos olhos.

A viagem foi grande, tão grande que nunca acabou. Espalha-se por dias e lugares e conversas estranhas a horas dispersas...
Agora, ao castelo todas as noites regressa um corpo. Um corpo vazio que já não encontra nada que o preencha dentro daquelas quatro paredes. Enquanto lá está, sonha com o próximo lugar a conhecer, espera ainda poder ser gigante e sentir-se grande numa liliput perto de si.

Gostava de sair do castelo e ir morar para uma barraca onde o sol entrasse todas as manhãs pela fresta da janela e o ar fresco lhe enchesse os pulmões de alegria. Sonha ainda poder adormeçer de novo com o coração cheio, nem que seja cheio de alegria. Uma noite, enquanto dormia, viu uma fada abrir-lhe a mão e mostrar-lhe que aquele sinal, não era uma chaga, nao era o fim da linha como pensava, mas sim o inicio. A partir dali haviam vários caminhos. A menina pensa agora qual há-de escolher.

Sem comentários:

Enviar um comentário