quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Hoje

Milhares de pessoas rumando a lugares próximos, cidades afastadas, aldeias distantes... Todas numa correria infernal para ver pedras brancas ou negras, até mesmo casas, campas e jazingos e montes de terra. E lá vão elas e levam as flores e gastam o dinheiro e acendem as velas e queimam a cera e observam as fotos meio amarelas para se lembrarem das caras que o tempo lhes foi apagando da memória.

Terra e pó, nada mais que isso, lá, no fim de tudo. E o que fica é tudo o resto, ficam as palavras e os olhares e as casas cor-de-rosa e o cheiro a café pela manhã e os frascos de doce com canela. Para lá do que existe, para lá das pedras frias que são nada, resiste o ser em quem o lembra, talvez por nunca ter esquecido.

Cai a noite e céu reflecte a luz que ainda vai ardendo em copos de plástico vermelho, murcham as flores. Para o ano voltarão sem saber bem porquê. Não vou, não preciso. As flores dão-se em vida...

2 comentários:

Sónia disse...

É verdade, é verdade... porque é que hoje, não se visitaram antes os vivos... porque não lhes demos mais um beijo, pq n rimos mais uma vez com eles... dps da morte é desses momentos que vamos sentir falta...

Queui disse...

Reli-me ao ler o teu texto.. Penso muito nisso... não fui 'ver' alguém que me era bastante querido, por isso mesmo, 'não preciso', se eles estão lá em cima a olhar por nós como se diz, sabem que não nos esquecemos dos momentos e de tudo.. Sabem também porque é que não aparecemos...

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