sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Contradições

É se calhar fácil matar, pela madrugada será melhor segundo dizem alguns. Não sei se acredite. Talvez pela noite não seja tão mau assim, os gritos a rasgar o silêncio... Gritos? Há quem morra sem gritar, até quem morra sem dar por nada, sem ter dado por nada, pelo nada da (sua) vida e das vidas que lhe giravam à volta. Devem haver os outros que dão por tudo até à ultima gota de sangue que cai na lama. O mundo a girar e as mãos quentes, metálicas demais do cheiro rubro.

O corpo frio no chão quente, a lâmpada partida a enfeitar o céu, mais um menos um, mais carne menos carne, mais homem menos homem, mais ser menos ser. Na grande mesa comprida (se calhar redonda) não faltarão razões para celebrar outro dia que passou.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Natal

Dia de Natal e de lua cheia. Imagem curiosa ao fundo da rua. Haverá algures uma espécie de precipicio, haverá lá espaço também, faltará sempre um par de braços.

#11

Memórias e sonhos misturados com sorrisos de algodão e palavras mágicas. Tanto tempo, (meu Deus), tanto, tão pouco. Olho para as palavras cheias de pó e não lhes vejo já sentido, leio as entrelinhas mas não as entendo agora. Passam os dias, os meses, os anos, até mesmo as horas e o resto das medidas crueis e ingratas, crescem os metros, desaparecem os espaços.

Deviam ter-me dito que a vida também cobra juros.

Até as estações fecham quando se querem abertas.

Linhas e fios, trapos e cestos, garrafas partidas e mãos soltas por aí. Canções e contos, corridas e desesperos. Mais um dia, mais um ano, mais um minuto.
?

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Dias

Nos dias em que as caras se abrem ao mundo em forma de vozes que saltam das gargantas outrora apertadas demais para poderem deixar escapar palavras, nesses dias em que as horas correm sem pressa ou sem vagar dependendo do que os olhos conseguem avistar e o coração sentir, nos chamados dias úteis, aqueles que fazem bem ao monte de átomos que somos, há pontes e jardins e praças e cores e pinceis e telas e desenhos e palavras pintadas nas ruas e ideias que voam e rodopiam tal qual a folha castanha embalada pelo vento.

Nas portas abertas onde homens de batas manchadas sorriem e olham e sentem, nessas portas que só se abrem a quem lá entra, há calor mesmo no mais frio dia do ano.

Gotas

Chegou o frio que congela as almas se é que elas existem, se não forem as almas que congelam será certamente algo que faz sentir. Entra por todo o lado e amolece o ser, aprisiona os gestos, confunde o querer...

Hoje o frio foi embora, está um belo dia de chuva!

E tu, já tiveste um coração nas mãos?

"uma vez apareceu-me um puto. tinha tido um acidente e naquela coisa de ver o que dá abriu-se o peito e olha. peguei nele e ainda vi se começava a bater, mas não valia a pena. quando o corpo não quer não dá. mas foi uma sensação estranha, ter ali o coração nas mãos, literalmente, estranho mas bom ao mesmo tempo. enfim, não se safou, quando o corpo não quer não se pode fazer nada"

D.Sebastião, Rei de Portugal

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

Fernando Pessoa

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Entrelinhas

É sempre fácil no meio do silêncio ouvir até uma gota de água a cair na terra, é fácil ouvir o grito do outro lado da rua. É fácil ver a luz, por mais ténue que seja, na mais prufunda escuridão.

Dificil é perceber as palavras no meio do barulho e ver a fraca luz de uma lanterna no mais claro dia de sol.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Passos

Tento perceber as caras e os gostos, os olhares e algumas palavras, mas já tudo me é estranho. As maneiras de ser, de estar e de querer de quase todos, os gestos e os sentires...

Aprecio e admiro os dois ou três resistentes que teimam em querer fazer algo de bom, seja lá isso o que for. Vejo ainda nos olhares de poucos o brilho de quem se acha capaz de construir um mundo melhor ao ritmo de pequenos gestos.

O mais são só comboios a passar, e corpos à espera de partir num deles. E lá ao fundo -sempre algo diferente ao fundo- há quem se vá entretendo a pintar a grande parede de tijolos velhos com um azul cor de céu.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Cores

Varia o tom, só isso. Ora amarelo, ora azul, vermelho até por vezes. O drama é sempre o mesmo, o drama ou a falta dele, nos ovos que teimam em perder a forma, no azul que por vezes teima em fugir. Na pasta encarnada que pode não ser bem o que se está à espera que seja.

Saborear, só isso e nada mais, dia após dia até ao dia em que todo o gosto, todos os gostos sejam perdidos. Dia longe, espero eu.