sexta-feira, 10 de julho de 2009

do ar

Na escola, por entre dois chutos na bola rota ouvia falar de medidas e números e distâncias. Metro, decimetro, centimetro. Segundo, minuto, hora. Fez-me sempre alguma confusão a história do ano-luz, como se fosse possível entender na altura que até a luz se move. Tudo tão certo e alinhado. Depois chovia em pleno Agosto e ninguém percebia nada.

Mas as medidas são só mais uma coisa que o homem inventou por ser incapaz de ver o mundo como na verdade é. A mania crónica de pôr tudo e mais alguma coisa em caixas quadradas demais, mesmo que a olho nú a maioria dos objectos nem tenham forma. Medidas, caixas, etiquetas, rótulos...

Como se três horas e meia alguma vez pudessem ser diferentes de três horas e meia, como se dois cêntimos fossem mais que duas reles peças de metal, como se os relógios pudessem parar as horas todas durante a noite e fazer a manhã tardar por dois dias, como se tudo isto fosse possível. Como se o mundo todo estivesse à distância de um sono mal dormido embalado por um roncar de motor...

Como se. Como se tudo fosse verdade para alguns sendo mentira para outros, como se fosse possível haver maneiras diferentes de olhar a lua em dias que se mostra cheia, como se fosse possível haver mais que um deus aos olhos de quem o acredita, ou até, como se algum dia pudesse o chão abrir-se em dois ao som de um qualquer leão imaginário a rugir.

Prefiro o caos das formas às caixas quadradas, que me desculpe a "Humanidade".

2 comentários:

kalikera disse...

Como "dores guardadas em caixinhas".

Tita disse...

Adorei este "As medidas são só mais uma coisa que o homem inventou por ser incapaz de ver o mundo como na verdade é!".

Ah, e na escola primária apanhei muita reguada por nunca ser capaz de fazer as malditas conversões...

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