domingo, 23 de agosto de 2009

da lanterna azul

As coisas nunca são o que são. A cada segundo deixam de o ser para depois se tornarem noutro algo qualquer. Como as ondas que batem na areia da praia. O centro do mundo era um lugar abstracto e sem nome. Agora[até quando?] o centro do mundo é um lugar pequeno e não muito lindo embora já tenha nome e cor e cheiro. Bratislava e a estação podre e velha e os pedintes e os panados oleosos e as sandes de frango com sabor a nada e um homem mal encarado a fazer de polícia e os aviões ali ao lado e centopeias quase gigantes e a barriga apertada por borboletas invisiveis e os abraços mais fortes que o fio com que um dia vi uma aranha pendurada no tecto. Depois há aquela coisa de ninguém estar bem com o que tem e estar sempre à espera do que há-de vir, a pensar no que já passou. Está tudo escrito nos livros e cantado nas canções, é só preciso ter olhos para ler e ouvidos para ouvir se bem que há quem leia sem ver e consiga perceber as palavras que te saem da boca sem que um único som se forme algures no cérebro. Adiante, há quem se junte em largos para ver vacas a arder, há quem prefira ver o sol arder, outros ainda gozam mais com pinheiros e eucaliptos. Gostos não se discutem. Mas resta sempre aquele fascínio pelo fogo nem que seja fogo colorido no céu escuro, ou então o outro que nem cor tem[pelo menos enquanto as mãos não rebentam] mas faz pum-pum-pum para alegria de todos[ou quase]. Pum-pum-pum, podia ser pão pão pão para alguém que o não tem, mas festa é festa e isto não pode acabar e afinal para um pão não há quem não tenha dinheiro, excepto quem o não tem, claro está. Agosto é um mês fodido. Mais uma vez aquilo das coisas mudarem a cada tic-tac. Agosto já foi diferente no tempo em que os dias corriam depressa e cheiravam a sardinha assada à hora de almoço. E depois havia sempre um dia[ou dois, ou três] em que o mar se achava maior e fazia os barcos de borracha andar pelas ruas e isto era sempre assim, certo. Era. Hoje ao almoço houve gripe A, a derrota do sporting[pena] e cancro[mais um], a Naíde está agora a saltar[todos sabemos que é boa mas há sempre a coisa da necessidade da medalha], logo à noite joga o benfica e por breves minutos o país entrará naquele estado de semi-hipnose-crónica[afinal há coisas que continuam iguais]. Falta só dizer que o mundo irá acabar a uma sexta-feira[juraram-mo a pés juntos], embora ainda não se saiba bem qual. Há coisas que só se descobrem com um pouco de atenção.

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