"Mundo puro e circular: quatro senhoras inventaram a diplomacia rotativa do bolo. Uma fez um toucinho-do-céu e deu-o a outra para agradecer um favor, esta passou o bolo a uma terceira por causa de uma festa, a terceira não o serviu na festa e, como devia um bolo a uma colega, deu-lho mas fazendo de conta que a obra era sua, e a colega finalmente, lembrou-se de fazer simpatia a outra amiga, um toucinho-do-céu a pensar no futuro. E a verdade é que a merda do bolo deu a volta a quatro frigoríficos em quatro dias, de travessa em travessa a secar a capa de açúcar, escurecendo a baba do ovo, perdendo o odor da amêndoa para, finalmente, reentrar em casa da mesma senhora que o tinha cozinhado e que, sendo diabética, não o podia comer, embora comesse, as nossas diabéticas comem doces até cegarem ou perderem as extremidades por amputação.
- Espero que goste, dona Natalina, tenho um fraco no ponto-rebuçado.
- Olhe, leve já o naperon, por acaso não é meu. É a única coisa aliás.
Universo que expande e encolhe, nódoa de chávena numa mesa de café."
Rui Cardoso Martins, E se eu gostasse muito de morrer
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