segunda-feira, 11 de maio de 2009

pico

e depois já esta tudo dito, tudo escrito, tudo inventado, tudo feito...

para quê correr e saltar e pensar e querer e esperar, se todos os dias o comboio chega à estação. mais hora menos minuto. que ás vezes há atrasos e bombas e atentados e gente parva que não paga e insiste em não sair. mais hora menos hora lá está ele... está o comboio e tudo o resto. igual, igual. igual. porque já nada de novo há para acontecer.

Ouvem-se gritos ao telefone pela manhã acabada de nascer, os olhos ainda turvos do sono mal acabado.

e não vale a pena pois não? amanhã, que amanhã há tempo e então amanhã pode ser que haja a tal vontade que hoje falta e oneco m não apareceu. também já está tudo inventado. dizem os inteligentes que até as canções já acabaram...


E já está tudo inventado não é verdade? Não falo dos satélites e do resto que nos vai querer controlar daqui a uns dias, das cameras e do grande irmão escondido no bunker de ouro a espreitar quem mija no canto da parede e a que horas chegas a casa, se bem que isso também está mais que feito.

Dizem que acabaram as canções e todos os dias nos mostram o filme do dia pelas oito da noite que agora empura o dia por volta das cinco, dizem que isto está mau para que no outro dia de manhã as ovelhinhas o repitam a uma só voz "Isto está mau, isto está mau...", se calhar o grande irmão não passa de um reles pastor. "as ovelhas gostam de companhia, vão-se sempre juntando umas ás outras.". o rebanho engrossa "isto está mau, isto está mau" e enquanto fala não ouve nem vê. Para quê? Ás oito saberão de tudo, de tudo o que quiserem que saibam. "isto está mau, isto está mau", e nos gabinetes cheios de mofo assinam-se resmas de papeis para tornar isto melhor.

Mais um decreto e não se pode faltar às aulas porque isso não pode ser considerado um direito. Não se falta e não há sermão nem responsabilidade e depois se houvesse agora também já não se chumba e as bicicletas não são prémios mas direitos. Criam-se assasinos de português, incapazes de somar e dividir. Passeiam-se com os afamados "Magalhães" debaixo do braço sem saber sequer quem deu o nome aquela máquina azul. Sem saber que houve tempos em que homens se faziam ao mar para matar e morrer. Sem saber que houve tempos em que nos diziamos donos de meio mundo. E agora? Esperamos ansiosamente que do outro lado do oceano haja alguém capaz de nos tornar a vida melhor. Ironias que também não hão-de perceber.

Fazem ouvidos moucos e sorriem, as ovelhas negras. Sorriem e riem e rebolam no meio do caminho sem medo de serem pisadas. Aprenderam a levantar-se depressa e fugir dos pés ansiosos. Também se tornaram maiores que as outras, pelo menos maiores aos olhos, mesmo que só a cor pareça distingui-las. Dizem que isto está bom, que gostam de chuva quando ela cai e de sol quando ele nasce. Acreditam que o impossível é só uma palavra inventada que não faz qualquer sentido, parar é morrer e as tangerinas têm um lugar especial no mundo a par com os girassóis. Dizem-se felizes e alimentam-se de algodão-doce.



. Somos agora escravos bem atentos à eleição de um novo mestre, descendente de escravos que souberam deixar de o ser.

Sem comentários:

Enviar um comentário