E se tivesses de escolher entre uma garrafa de ácido derramada sobre a pele ou outra de álcool vertida sobre uma qualquer ferida aberta?
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Dias cicatriz
Dos dias que ficam marcados no calendário como na pele a cicatriz de cor diferente para lembrar que a ferida existiu. Dias cicatriz, como a que tenho na mão. Como os dias em que a noite chega sem a hora de dormir mesmo que o corpo anseie o descanso. Dias em que na mesa os bancos vazios ganham outra cor pela falta dela mesma. Dias em que se é nada sobre um passeio sujo. Dias em que a areia molha os pés mas nada se sente. Dias assim, sem fim, nem começo, nem sentido, nem nada.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
"Lisboa não é a cidade perfeita"
O mondego é sempre da cor que se quer e os peixes para além de rir também saltam.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Tarde
Ah a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros.
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte... Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.
Àlvaro de Campos
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Pescadinha de rabo na boca
A distância nunca foi uma coisa física. Fecha-se mais uma roda. Mais uma roda dentro da roda gigante que...
Volta tudo ao início, ao primeiro estender de mão e palavras num qualquer dia de sol refém de uma primavera já distante -tão distante quanto próxima-, muda o verbo e mudam as horas, o resto é sempre igual, déjà vu infinito no bater dos sinos. Sempre igual... Sempre!
Volta tudo ao início, ao primeiro estender de mão e palavras num qualquer dia de sol refém de uma primavera já distante -tão distante quanto próxima-, muda o verbo e mudam as horas, o resto é sempre igual, déjà vu infinito no bater dos sinos. Sempre igual... Sempre!
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Cacos
O barulho é imenso e a mente como que fica demente demais, refém de todo o ruído que dança à volta. Na rua os cacos vão sendo amontoados num qualquer pedaço de chão.
Cacos. Só isso. Sem forma nem ser nem nada. Pedaços de loiça e vidro e barro e papel e gente... Tudo misturado e abandonado num pedaço de chão ao fim da rua.
Cheira mal a rua, cheira a cebolas podres. Mas não há cebolas à vista.
Ao fundo há um homem quase sem vida que se acha capaz de tornar a ver o chão que já foi praça e depois estrada e depois passeio pintado a pedras de calçada e que agora é só um qualquer pedaço de chão ao fundo da rua onde está um monte de cacos. Acha-se capaz também de transformar os cacos em coisas e algumas dessas coisas em gente. Chamam-lhe louco, alguns, quando o vêm a vasculhar o monte em busca daquela rodinha laranja que falta para completar o olho da boneca que até já tem nome. Ri-se de todos, e de si mesmo, ao olhar a grande lata de cola pousada mesmo ao lado das linhas e agulhas, haveres de um ser que nem sabe bem o que é. Ri-se e continua. Sem pressa nem grandes porquês.
O monte cresce, dia após dia, "mas um dia há-de não mais existir".
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Lugar
Do fogo, da chama, da fogueira, do quente, fica o lugar. O lugar no chão, o lugar no tempo, o lugar na memória, o lugar nos olhos que ainda vêm os pedaços de cinza esvoaçante, o lugar no nariz que cheira o plástico ardido, o lugar nos ouvidos que ainda ouvem as quatro letras com dois acentos, o lugar no espaço-tempo que é assim uma coisa inexplicável.
O lugar de onde se podia ver o sol nascer, de onde quem era capaz de ver o sol nascer via o sol nascer, o lugar casa com a vista de casa ali mesmo ao lado e a brisa leve da manhã a bater no sorriso nunca fechado.
O lugar que havia sem nada no bolso, nem truques na manga, nem nada mais que não fosse ele mesmo. Mas as pessoas grandes querem sempre ver o chapéu onde estava um elefante dentro de uma jibóia...