sábado, 9 de agosto de 2008

Momento

Tenho a perna dormente e há um desconforto enorme em tudo isto.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Manhã


e depois acordar na areia e não saber se a conversa existiu ou foi um só mais um sonho...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

#

"e dizem e falam, falam demais sabes? farto-me de as ouvir... porque depois pensam assim e assim mesmo e eu estou-me bem a cagar se os putos comeram a papa ou não. uma ilusão... tudo não passa disso. porque depois no fundo sinto-me a andar às voltas como os hamsters sabes? ando e ando mas acabo por nunca sair do lugar. e depois não sei porque já não tenho a certeza de nada. só os fantasmas, sempre os fantasmas atrás de mim. por mais que mude, por mais que fuja eles simplesmente não me largam. e aqui estou a dar voltinhas na roda... às vezes penso em saltar, mas é impossível fugir..."

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

(...)


"And if the dam breaks open many years too soon
And if there is no room upon the hill
And if your head explodes with dark forbodings too
I'll see you on the dark side of the moon"

Pink Floyd, Brain Damage

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Vozes

Disseram no outro dia que éramos iguais. Fiz de conta que não ouvi.

Depois pensei nas palavras e nos metros e nas pedras e nas varandas e nas viagens e nos comboios e nas pistas e nos carros e nos silêncios e nas horas perdidas a fazer nada.

Olhei-os de lado e ri-me contigo.

#23

- Não sentes, às vezes que isto não é teu? Que te limitas a ir andando e que por mais que faças acabas sempre parado no mesmo sitio....
- ...
- É como a história do hamster, que anda ali às voltas na roda. Anda, anda, anda, mas nunca dali sai. Sinto isso, sabes? Como se houvesse qualquer coisa a controlar-nos...

domingo, 27 de julho de 2008

Nadas...

No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de conseqüências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...

Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive).
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em todo o novo...

Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?

Gado vestido dos currais dos Deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, álacre, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer...

No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...

Álvaro de Campos

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Jardim

Num canto, girassóis, no outro uma roseira. Uma grande árvore no meio, daquelas que se não abraçam de uma vez só. Alguma relva, um banco verde e pedras com vista para o rio.

Enterrada na terra está uma caixa. Folhas e mais folhas. Brancas e lápis coloridos. Pendurado na árvore, um arco-íris pintado a mil cores num dia em que choveu miudinho.

Olhando de baixo, a árvore desenha-se núvem e dos ramos pende um pequeno trapézio que baloiça ao sabor do vento. Lá, no sitio onde não há tempo e o ar não sufoca nunca.

"Não vês que é de nós o jardim..."

#

Vagarosamente, como se aquele copo de leite quente agora já quase frio fosse toda a sua vida. Nem hoje, nem amanhã. Tudo o que pode existir no universo condensado na nata que se ia colando à colher ja tonta de tanta volta dada em torno do vidro grosso.

Cega, talvez, ou só de olhar preso ao infinito da parede meio suja. Ou então a parede já não era parede e sim um qualquer espelho da alma. Chorou em poucos minutos todas as lágrimas que em si cabiam.

Tirou do bolso o lenço amarrotado e limpou o que restava dos olhos feitos cascata. Do mesmo bolso tirou também a moeda que abandonou em cima da mesa. Deixou o leite, deixou o lenço. Encontrou numa cara à sua frente um sorriso, pegou nele e foi embora. Bateu com a porta, partiu o vidro, riu e correu.

Sintonia

Sem aviso, nem hora, nem cigarro.

sábado, 19 de julho de 2008

-



















..

domingo, 13 de julho de 2008

Cancro

Cancro de merda!

"Ah e tal, tens dois meses de vida...".

Claro que a morte é certa -sempre o foi para todos-, mas nunca o quiseste ver, nunca quiseste saber... E então, é agora, durante dois meses que vais aprender a cheirar uma flor? É agora que vais saber o que vale um "Bom dia!" e um sorriso? E a ver nascer o sol pela janela fosca do hospital mal cheiroso e quente.

Quando podias, não cheiraste, nem disseste, nem viste. Não o quiseste sequer, quanto mais tentar. Anos e anos que tiveste para... E agora em dois meses queres isso tudo. Agora que tens o sangue podre e te começam a cair os dentes arrancados por rios de baba.

Gostavas agora de dizer umas palavrinhas a alguém mas também não podes. Afinal, esse alguém não existe. Ou se existe, só existe para ti... Como lhe podes tu pedir uma visita? Podias telefonar, mas como poderias falar sem que te ouçam pelas paredes orelhudas? Podias também escrever, mas bem sabes que te iriam abrir a carta. Desesperas...

Ficas então calado com as palavras em ti. Belo castigo... Nem tudo é mau, vendo bem, só vai durar dois meses.

Dois meses passaram, e do outro lado, enquanto saceias mais um bichinho, há quem abra a caixa do correio todos os dias... "Bem que podia dizer alguma coisa..."

sábado, 12 de julho de 2008

Metáfora


Passaram quatro anos.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Há quem seja até mais que...

Quase chove. Cheira a terra, o ar. Olho à volta e vejo ninguém. Afinal a chuva quase molha e debaixo dos montes de betão e ferro não entram as leves gotas de água.

Sigo enquanto sinto. Soubessem eles o que perdem... Gente? Não creio!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

I already have ten thousand spoons...



"And for a minute there, I lost myself, I lost myself"
Radiohead, "Knives Out"

segunda-feira, 7 de julho de 2008

#22

Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.

Álvaro de Campos

sábado, 5 de julho de 2008

Arrasto

Uma tira de entremeada pode fazer toda a diferença quando se salta para um lago cheio de crocodilos.

Um passo ao lado da ovelha morta no meio da estrada também pode mudar a história. Tripas de fora, bombas dentro. É a vida, ou a morte... Afinal que mal pode fazer uma ovelha morta? E o pedaço de ferro redondo?

E as nódoas? Não são mais que manchas nas roupas.

("Cuidado, cuidado!!! Estão vidros no chão..."). Também estavam palavras no ar...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

4+4=8

Azul
Núvem
Céu
Rio
Mar

Algodão
Mel
Sorriso
Rasto

Fundo
Salta
Cai
Foge
Roda
Gira
Volta

Vento
Varanda
Flores

Luz e frio, vozes e caras, passos lentos que se arrastam vagarosos pelo chão e a erosão dos passos lentos que se arrastam pelo chão a deixar rasto no trilho que se forma pelos mosaicos já meio amarelados por tantas vidas que os calcaram...

Os olhos não vêm, olham. O coração não sente, bate. Os corpos não vão, seguem. Os ouvidos não escutam, ouvem.

tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tit-tac, tic-tac, tic-tac, .......................................

Flight lesson #1: Have you ever seen a chicken flying? Chickens have wings...

E é tudo tão mais simples quando uma simples frase se apodera da mente... "Basta querer.". E acabam as distâncias e as agendas e as horas e o resto. Porque sim! E os comboios são nossos escravos mesmo que a viagem se faça em vão... Mas nunca é em vão. Resta sempre qualquer coisa, quanto mais não seja uma dúzia de olhos gritando a uma só voz a palavra que não mais abandonará o ser.

8X10=80

#21

Sem pressa, cai o sol no mar deixando para trás um rasto de mel. Deve ser doce o rasto do sol. É por isso que alguns julgam que as nuvens não são mais que algodão doce a flutuar no céu...

Pode lá ser isso possível, se o algodão...

sábado, 28 de junho de 2008

(...)


Pecados mil
Cem prazeres vãos
Tenho bolhas nos dedos
Tenho calos nas mãos é ele que me chama
Se o bem corre perigo
Ou eu acabo com este
Ou este acaba comigo
Não
Não
Não posso ser eu
Não
Não
Não me deixam ser eu
Mas então
Quem é que eu vou ser?
Quero uma última vontade antes de nascer!...
Quero ser pouco
Ou quero ser rouco
Ou um pedaço de merda
Quer ser um pouco de gente
Eu imploro
Quero ser igual…
Depois das lágrimas
Do arrependimento
Surge a raiva que a não leve o vento! Mas eu sei cantar
Da minha maneira
E pelo que eu creio
Canto a noite inteira Mas eu sou bom
Eu perdoo tudo
Por vontade deles
Eu seria mudo
Quero ser muito
Quero ser tudo
Estar só
É tudo o que eu quero
Agora…

Manel Cruz, "Eu"

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Rádio

É quente a tua mão, ainda mais que leve. E faz-me falta nos dias em que quase chove e nas noites sem sono e nas tardes de sol e nas viagens sem destino. Porque há canções simples que continuam a fazer-se ouvir. Porque sim!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Janela


Porque a(s) vida(s) não tem(êm) que ser sempre cinzenta(s)...

terça-feira, 24 de junho de 2008

Morfina

Há quem se esvaia em sangue, há quem perca pedaços de si em dias que de bom pouco têm. Depois sobra o vazio e o espaço onde já ouve um bocado de perna e um pé.

E sobra tempo no branco. Paredes brancas, batas brancas, ideias em branco.

E se...?

Cordas

sábado, 21 de junho de 2008

Ouvi dizer

Ouvi dizer que para lá do azul do céu, por cima das núvens, mesmo ao lado da fábrica de impossíveis há um velhote que passa os dias sentados a matar o tempo. Uns pózinhos mágicos e as horas passam ao ritmo do algodão doce que vai tomando forma em volta do pau. Algodão doce, como os sorrisos. Ainda me lembro do tempo em que os sorrisos eram de algodão, do tempo em que trazias doces na mão... Ainda me lembro.

Ouvi dizer que lá longe as paredes são de vidro, como muitos dos tectos cá em baixo, e nos dias em que a luz do sol brilha forte demais, os vidros transformam-se em espelhos, espelhos daqueles que não há cá em baixo, espelhos onde se reflectem as almas abertas por um abraço bem quente.

Ouvi dizer que, depois, nos dias em que chove muidinho se fazem grandes festas, festas quase tão grandes como aquelas dos dias em que chove bem forte, mas mesmo assim pequenas quando comparadas às outras, as que acontecem sempre que cai do céu mais uma estrela em mil pedacinhos de luz incandescente.

Ouvi dizer que as ruas vão todas dar a uma grande praça e que a praça fica de frente para o mar e que, lá longe, o mundo tem um girar diferente. Então o sol nasce no mesmo sitio onde se pôe. E todas as semanas há um dia em que o sol se limita a não aparecer, como aqui acontece com a lua. Diz-se por lá que às vezes é preciso sentir falta, para dar valor...

Gostava de lá ir um destes dias. Hoje as portas já fecharam. Ouvi também dizer que o mundo acaba amanhã...

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Já deu

Em tons de amarelo, toca já quase velha canção, "Yellow", "look how they shine for...".

E já há lua e estrelas e céu. Ainda há um par de dias caía a chuva e as folhas com ela. Só algumas que as outras lá ficaram penduradas qual guarda chuva gigante...

Na rotunda larga os carros continuam a passar como se nada fosse, passavam há uns anos também, enquanto lá longe em Srebrenica as valas iam ficando um pouco mais cheias de corpos sem gente dentro.

Acabou de nascer uma violeta plantada numa terrina...

Óbvio?

"A lei da gravidade para animais domésticos tem variações que exigem o devido estudo porque, se os bichos caem todos à mesma velocidade - o aceleramento é constante e independente do peso do animal -, já a altitude determina a forma como ele aterra.

Do quarto andar o pior que acontece ao gato é partir a pata da frente ou fender o palato e expirrar um pouco de sangue ao bater com o queixo no chão. Mas, por exemplo, se um bichano cair do primeiro andar ele poderá, incrivelmente, os veterinários confirmam-no, partir a espinha e morrer ou ficar paralítico, o desgraçado, por não ter tempo de se virar por inteiro, o que é estranho, ou por fazer mal as contas e dar meia volta a mais. No entanto, do segundo andar e do quarto andar não lhes acontece nada. O intrigante fenómeno de uma queda mais alta ser menos perigosa levou o Raúl da Casa Azul a postular a seguinte hipótese:

- E se a queda segura de um gato for uma constante de andares de número par?

...

O certo é que um dia o Cubano, farto dos gatos, alterou o seu campo de estudos para os cães. Deixou cair um cãozinho de patas para o ar, do quarto andar para o pátio, e o rafeiro não se virou e morreu.

- Conclusão, cão não é gato.

O animal fez um barulho seco e almofadado, parou de ganir. O medo do cãozinho encheu o ar, nos dois segundos e meio da queda."

Rui Cardoso Martins, "E se eu gostasse muito de morrer"

terça-feira, 17 de junho de 2008

Da cicatriz no braço direito

Os mosquitos picam o corpo em busca de sangue quente. Enquanto isso, a chuva lava almas e ouve palavras perdidas no meio do nada. E as horas passam, assim como os dias e os comboios e as vidas por nós.

"Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degradados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!

Morra o Dantas, morra! PIM!"


José de Almada Negreiros, Manifesto Anti-Dantas

segunda-feira, 16 de junho de 2008

d'O Campo

Maior. Do tamanho de um sorriso bem aberto a encher a cara. Maior, sem que se possa medir. Maior. Só assim. Simples? Talvez não seja simples. Talvez tenha sido. Talvez...

Grito agora contra as paredes, contra o vazio. Ecos distantes chegam como resposta. Palavras distorcidas pelo tempo. Tempo-espaço. "Nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma", e o pó é só o resto de tudo. Muda a forma, resta a matéria. E no vazio restará também qualquer coisa... Ecos, mais uma vez, ecos de palavras distantes.

Meio metro pode ser longe demais, meio metro entre um copo de água e um corpo de gesso. Meio metro, distância infinita... E depois a dúzia e meia de quilómetros que se transformam em nada. Querer. Porque no mundo é tudo relativo... E do lado de fora isso vê-se muito bem.

Tive em tempos medo do papão e do lobo mau, do sebastião que comia tudo e de ser tostado num forno de lenha. Mas o sebastião não era canibal, o lobo mau gostava mais de chatear ovelhas branquinhas, o papão sentia-se confortável debaixo da cama e no forno apenas cabiam meia dúzia de pães. Sentido? Sim. Fazia.
"quero ver-te amanhecer..."

domingo, 15 de junho de 2008

Tal fosse um copo grande embora sem o fundo

"A rua quebra-me a força negativa.
Sorrir,
Não é pêra doce!"

Ornatos Violeta, Letra S

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Sonho?

- Dona Aranha, como vai?
- Como sempre, sob as linhas que teço...
- Não era bem isso...
- Feliz, então, acho.
- É bom saber, Dona Aranha, é bom saber...
- Tenho feito umas coisas engraçadas ultimamente...
- Pois, já notei.
- Mas sabes, no fundo são só fiozinhos de seda. Limito-me a esticar fios de seda.
- São mais que fios, mais que cordas...
- :)
- "Dona Aranha nada disto faz sentido.".
- Claro que faz, embora nem sempre seja fácil encontrá-lo, percebê-lo, sei lá...
- Mas...
- ...um dia, um dia.

Facto

As delicias do mar comem gomas em forma de ursinhos. E são vermelhas porque preferem as de morango. Já agora, são capturadas no oceano pacífico...

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Frio

Tenho frio. E as pessoas não aquecem, não me aquecem. Nem o sol. Nem o mundo nem nada. E olho à volta e pouco vejo, quase não sinto. Não sinto o mesmo, não quero o mesmo. Vejo-me depois perdido sem saber...

Sinto falta dos sorrisos de algodão e dos raios laranja a fugir do olhar. Mas os dias mudaram, o tempo mudou e o mundo também.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

manel cruz

"Há quem veja em Jeremias apenas mais uma vítima da sociedade
Muito embora ele tenha a esse respeito uma opinião bem particular
É que enquanto um criminoso tem uma certa tendência natural para ser vitimado
Jeremias nunca encontrou razões para se culpar

Porque nunca foi a ambição, nem a vingança, que o levou a desprezar a lei
E jamais lhe passou pela cabeça tentar alterar a Constituição
Como um poeta ele desarranja o pesadelo para lá dos limites legais
Foragido por amor ao que é belo e por vocação"

Jorge Palma, Jeremias, o fora da lei

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Jardim


Há quem não ponha açúcar no café.
E está-se tão bem num outro qualquer lado que não o de dentro. Sei lá eu porquê. Porque sim...
Mais que o sol, tão mais, tão mais, tão mais...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Com pequenas pintas nas asas...

se eu largar eu sinto a sua falta
se eu agarro ela perde a cor
ela não é dos meus dedos
é dos meus medos
e faço-me passar por uma flor
tento imaginar o que ela diz
à espera de aprender
à face da rua existe a lua
mas não é tua
à margem da estrada não há nada
mas já te agrada
tu és o teu mundo
tu és o teu fundo
tu és o teu poço
és o teu pior almoço
és a pulga na balança
és a mãe dessa criança
és o mal
és o bem
és o dia que não vem

agora pára de fazer sentido
não vês que assim estás a pisar fora da estrada
vê se agora paras de fazer sentido de uma vez
não vês que nada te dirá mais do que nos diz nada

vê que o meu coração ainda salta
quer e julga ser capaz
não o faça por meus medos
faça nos dedos
e eu fico para ver o que ele faz
sem imaginar o que eu não fiz
à espera de viver
à face da chama existe a fama
mas não te ama
à margem do nada não há estrada
já não te agrada
tu és o teu preço
és a tua glória
tu és o teu medo
és a parte má da história
vê que o sol ainda brilha
ainda tem por onde arder
não é mau
não é bom
são razões para viver

se eu largar eu vou sentir a tua falta

tu és tu sempre que tu és
és mesmo tu quando pensas que és outra coisa
e tu pensas que não
mas tu és mesmo bom a ser sempre quem és

daí o teu motivo ser inapagável
daí o teu desejo ser incontornável
o prazer é tão maleável
daí o seu valor ser inestimável

a razão de existir de um poeta é

Manel Cruz, Borboleta

Reflexo

E por um breve instante, tão breve quão breve pode ser a vida de um raio de sol, nesse instante em que a luz se mostra cruel, há mais certezas que dúvidas.

Enfim... Haverá quem se importe e diga, por exemplo, que as bananas estão verdes. E depois há quem goste, por exemplo, de bananas verdes.

E há quem goste de instantes sem sentido...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Porque...

Porque as palavras são só o que são, bolinhas de sabão, talvez. Bolinhas de sabão que se sopram e esvoaçam um pouco acima dos olhos até rebentarem em mil e um pedaços de nada.

Bolinhas de sabão que enquanto duram são lindas de ver. Rumo ao céu... E depois há dias em que o sabão acaba e não ha bolinhas para contemplar, dias em que não vale a pena soprar a àgua, dias...

Enfim...

Palavras. Reparo agora que a palavra "palavras" até que nem é feia. "Terrina" também não soa mal. Uma palavra como prenda. Porque sim, só porque sim!

domingo, 1 de junho de 2008

"as palavras é só bolinhas de sabão"



Terrina


sexta-feira, 30 de maio de 2008

Fio

Como um fio de seda que balança ao sabor do vento e das gotas de chuva que quase o partem. Frágil e resistente ao mesmo tempo. Vai e vem, roda, gira e torçe. Não parte. Estica e encolhe, desenrola e volta a enrolar qual novelo colorido.

Fio ponte com gente nas pontas... Ou talvez não. Fio ponte com gente mais que gente nas pontas.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Cerejas

Muitas vezes ouvi a canção. Dizia a voz que a vida é feita de pequenos nadas. É! E depois esses nadas bem pequenos fazem um todo até com bastante graça.

E do meio do nada aparecem palavras que não deixam esquecer o que sempre se soube, a normalidade é sempre um bocado relativa e sabe bem acordar com as unhas pintadas de vermelho e revirar os olhos e ir só porque sim.

E as pessoas humanas pouco percebem dos pequenos nadas. Porque as pessoas humanas sabem muito pouco. Nem descobriram ainda que se pode ver o sol nascer...

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Bom dia

Perdi-me enquanto deambulava. Deixei-me andar sem ver para onde ia, deixei-me ir ora virando à esquerda, ora à direita. Cansei-me e adormeci. Acho que adormeci.

Acordei agora, mas não sei onde estou... De qualquer modo também não tenho a certeza de querer voltar...

terça-feira, 20 de maio de 2008

#20

Cai a última gota de sol e a canção que ecoa por detrás dos olhos é a mesma com que tinha acordado pela manhã. Ouço-a agora pela primeira vez com os ouvidos.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Impossível?

domingo, 18 de maio de 2008

#19

Tocaram os tambores mal se viu o primeiro raio de sol. Foi duro o acordar nesse dia em que a cidade se pintou de um branco que feria os olhos dos transeuntes quase perdidos.

sábado, 17 de maio de 2008

Campos

E depois é estranho demais sonhar com campos de girassois. Mais estranho é acordar e o silêncio dominar a vontade.

E é nessas alturas em que queria ter-te ao lado para te acordar com um bom dia e um beijo. É nessas alturas em que sinto coisas confusas que deixo de saber sentir.

E do resto que falem os entendidos...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Luas

Reparo agora ao olhar para o céu que quase cinco luas passaram. E cinco luas depois, encalhado no tempo, pergunto-me no que pensarei daqui a duas mais. Se calhar é de mim, ou então as marés passaram a encher e a vazar um pouco mais depressa.

Vi ontem um monte de ossos, carne e tendões. Vi ontem tudo isso feito pé. Um pé lego. Peça a peça, da maior à mais pequena, tudo junto e bem ligado.

E vi gente a tentar sair da fila, mas sem primeiro aprender a caminhar fora dela. Cairam e eu ri só porque sim.

Sei sim que o pé jamais será pé, mesmo com todas as peças bem montadas, sei que nem todos serão capazes de dar o salto e continuar ao alto e sei que daqui a duas luas, numa noite bem amarela, poderei voltar a contá-las do zero.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

.

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem a meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei-de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente, reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

Álvaro de Campos

terça-feira, 13 de maio de 2008

Changes

Era simples demais quando quase chovia. Umas gotinhas de água aqui e ali, a refrescar o ser. Meia dúzia de nuvens acinzentadas a tapar o azul que logo depois haveria de voltar a brilhar.

Mas depois as nuvens deixaram de ser só cinzentas e passaram a ser negras. Em vez de quase chover, choveu mesmo. Tanto, tanto... Ficaram inundadas as casas e as ruas deixaram de se ver, assim como o azul azul que dantes feria os olhos. Mudou o tempo sem avisar. E eu que me recuso a andar de guarda chuva...

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Rodas

Pode não ser mau chorar, é até muito bom quando a lágrima corre pela linha do sorriso mais aberto que nunca. E depois perceber que o que tantas vezes se diz é tão verdade quanto o que se sente.

A distância como um fio de elástico que estica e encolhe à força da vontade e do querer. Porque descobri um dia que não há longe nem distância, que os metros são o que quisermos fazer deles e nada vale a pena se não se sentir um bocadinho.

O resto da história é simples. Porque a tangerina é bem pequena... E agora voltei a encontrar quem julgava ter perdido há uns pares de meses. Eu!