quinta-feira, 25 de setembro de 2008

#26

E agora todos terão computadores, algo indispensável para os putos do quinto ano, está visto. Um magalhães em cada mochila e seremos outra vez os melhores do mundo. Os maiores do mundo. Se esperarmos mais uns dias talvez possamos ver os nossos vizinhos do lado a distribuir uns colombos. Depois, num gesto simbólico até se poderia fazer uma conferência lá para os lados de Tordesilhas, mas desta vez em formato lan-party-ministerial.

- Viste Zé? Matei o cabrão do espanhol.
- Porreiro pá!

A sexta lingua mais falada do planeta. Quem diria... Talvez não fosse má ideia ensiná-la bem... E se se oferececem uns livros? Daqueles em papel que se podem riscar e dobrar e trazer debaixo do braço, dos que ficam com as páginas amarelas e por vezes gastas...

Seria isso bom? Pessoas mais inteligentes e pensantes... Gente com voz e sonhos.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Gotas

Chove e há poças de água no chão. Molham-se os pés por entre dois saltos mal medidos. Depois há quem diga que a vida é linda enquanto as joaninhas vão voando para a fotografia como que por invejarem a borboleta fotogénica.

O Eládio Clímaco anima a viagem de comboio rumo ao pôr do sol na praia quase deserta e as coisas simples são tão mais.

Surge então a lua-bolacha-trincada enquanto a espuma branca e amarga depressa se troca por algodão doce cor-de-rosa. O preto ganha mil e uma cores e por mais que se pinte uma casa velha, nunca ela voltará a ser nova.

"É bom ser gente feliz" e o amanhã não existe. Os ovos estrelados são bons, mas nem sempre a frigideira ajuda. Mexidos também não são maus, desde que sem queijo.

sábado, 20 de setembro de 2008

Palavras...

"Estive há dez minutos atrás na varanda do meu quinto andar, a observar a cúpula invisível entre o céu e o enorme lego de betão e a sentir-me um inquilino passageiro desta pensão de uma estrela perdida na imensa cidade negra a que damos o nome de universo.

Curiosamente parece que é o único sítio que temos para passar a longa noite que nos espera.

E é aí que eu saio para apanhar a frequência. Como que a comer um ponto e a cagar um verso. No prisma, a encaixar, provavelmente no de outros feito um filósofo de merda.

Mas a vida é isso mesmo, um monte de gente a fazer de conta que se entende e ninguém sabe dizer o que viveu.

Por isso nos pedem que caminhemos alegres para o precipício sem questionar, porque estaremos sempre longe. Mas longe rapidamente fica perto e perto rapidamente passa por nós. Eu não quero mandar-te para baixo, mas sei que me entendes, tu também tens medo de morrer, toda a gente tem. Só que normalmente inventamos montes de problemas para nos convencermos que estamos ocupados a resolver uma situação importante quando não tem importância nenhuma.

Entretanto o tapete rola e nós irritamo-nos com a inevitabilidade, e nos nossos sonhos dizemos:

- Torna-me imortal! Torna-me imortal! Eu não vou aguentar deixar de existir!

E é aí que eu entro para sair da frequência, seduzir-te com os meus sonhos, tu não vês como empreendo? E como eu mais um milhão de sonhadores leva com ele muitos braços dos outros, acéfalos, na lotaria dos ideais, descrentes, beijando o número do bilhete.

Mas quero dizer-te que a viagem é tua, não quero empurrar-te à força para a rua.

Se eu falhar vou passar de deus a carrasco, embalsamado e metido dentro de um frasco, para te lembrares da mentira, mas a verdade é que ganhamos sempre."

Manel Cruz, Ainda pode descer

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Definitivo




Richard Wright [1943-2008]

Os Pink Floyd acabaram. De vez.

domingo, 14 de setembro de 2008

Prioridades

"O nosso objectivo é que não exista nenhum concelho no país que não tenha pelo menos um campo relvado"

E depois os desportistas do futuro, com os seus milhões, irão transformar este país num num lugar melhor. Porque tudo tem um preço. Daqui a quinze aninhos seremos o país da europa com mais bibliotecas e melhores escolas, com menos pobres e melhores hospitais, o verdadeiro paraíso à beira mar plantado.

Entretanto é só esperar que se formem os craques da bola. Já agora, se não fosse pedir muito, era interessante que no meio de isto tudo aparece um bom defesa esquerdo...

Efémero

A estrela d'alva, visível ao amanhecer, é o planeta Vénus, também denominada de estrela da tarde, visível ao cair da noite.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Sete

as fachadas explodiram... passaram os anos e no fundo continua tudo igual. vieram guerras, perderam-se vidas em nome de um qualquer ideal...

e ainda não é pública a lei que as leis encerram... Quando?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Os heróis estão todos mortos...

Hotel pinheiro. Os bichos picam devagarinho por entre uns minutos de sono no colchão mais que duro...

Sonho uma janela e uma loja do outro lado da rua que sonhada é um rio de àguas turvas. Um toldo de riscas azuis e um cigarro à porta. Segura-o uma mão queimada pelo tempo ou talvez pelo fumo, pouco importa. A outra acena. Aí vou. Voo por cima da rua rio e sento-me no sofá com a estranha personagem.

Uma aranha sobe para o tecto, há mosca fresca na teia.

Muda de voz e de cara, muda de corpo também, a rua à frente, de rio passa a selva e de selva a deserto. O sofá transforma-se em banco e pouco depois só resta um pouco de chão...

Ouço com atenção as palavras que vai soltando no ar. Fala de estrelas e luas, de um tal de fio norte, diz que há pessoas a desaparecer dentro de cabines telefónicas e que um dia houve quem fizesse explodir uma baleia encalhada na costa com dinamite (desastre enorme...).

Pergunta-me o que vejo à frente. Descrevo-lhe uma casa grande. Bate-me com as palavras. Uma janela! À frente está uma janela, eis tudo. Aceno com a cabeça e digo-lhe adeus. Agradeço e salto.

Acordo uma e outra vez. Sonho dentro do sonho qual matrioska. Entre um acordar e outro toca no rádio uma música quase esquecida, "shards of glass, splinters like rain..." é tudo o que ouço. Volto a acordar e agora já não é um sonho. Pelo menos o sol brilha e há pessoas a discutir por causa de um pedaço de papel...

A genial falta de sentido

Era um redondo vocábulo
Uma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar
Pelos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio
Convocando farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincavam e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa

José Afonso, Era um redondo vocábulo

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Letras

"Não se mostra o trajecto
A quem parte para se perder
Não se dá boleia
A quem precisa de ir a pé"

Mesa, Boca do mundo