quarta-feira, 15 de abril de 2009

Pequenas coisas

Diziam-me em pequeno que haviam muitos cavalos na Hungria. Talvez por lá andem mas não os vi.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Infinito

adj.
Não finito; sem fim.
Ilimitado, eterno.
Absoluto.
Inumerável.

adj. s. m.
Infinitivo.

s. m.
O tempo ou o espaço.
O absoluto.
O que a razão humana não pode alcançar.

adv.
Infinitamente.
Excessivamente.
Muitíssimo.

domingo, 5 de abril de 2009

Sol

As dores nos pés e as sapatilhas apertadas, o sono e as linhas trocadas, a porta grande e o campo maior -maior que o alcançe da vista-, os cabelos agora já feitos brancos pelo tempo. E os dias? O correr dos dias lá no meio da palha certamente seria diferente. As ruas, o acaso, o mapa virado ao contrário que encontrar o norte nem sempre é fácil. O homem do instrumento mágico e a caixa de música e as mil e uma torres... Talvez tenha sido a vontade de chegar ao céu, a vontade de chegar mais longe ainda antes de haver cêntimos de Euro. E a cave escondida, as pedras velhas, os homens que aguentam casas às costas sem nunca se cansarem...

A neve numa bola de vidro.

E é tudo tão simples como na canção...

Da mochila às costas

Nada te espanta, nada te encanta
Nada te tomba ou te levanta
Sem passar dentro de ti
Nada te gera, nada te espera
Nao ha outono nem primavera
Sem que o sintas a surgir

Tu és a escala
A mão que embala
Tomas bem conta de ti
Tu és a escala
A mão que embala
Tens um rumo a seguir

E nada te atrasa, nada te arrasa
Nem que no céu percas uma asa
Vais pegar de novo em ti
Nada te usa, nada te escusa
Mesmo se o mundo inteiro te acusa
Só tu sabes pra onde ir

Tu és a escala
A mão que embala
Tomas bem conta de ti
Tu és a escala
A mão que embala
Tens um rumo a seguir

E nada te esmaga, nada te acaba
Nada te encolhe, nada te alarga
Nada te tenta, nada te inventa
Nada te pesa, nada te aguenta
Nada te falha, nada te empurra
Nada se ri enquanto te esmurra
Nada te esfria, nada te guia
Nada te ofende ou te desvia

Nada te pára

Jorge Cruz, Nada

sábado, 21 de março de 2009

Dez

Dez, dois, quatro, seis... É um bocado estranho isto de falar de números e números e conversões de metros em coroas e quilómetros em dias, anos-luz em algo que se entenda...

A distância que a luz percorre num ano? Como se não fosse do senso comum que a luz é uma coisa que simplesmente é... Anda lá agora ela a passear pelo espaço, do sol à terra, da terra à lua de uns olhos para os outros. A luz é quieta e a terra redonda e está quieta também e o sol é que gira.

Lembro-me da aranha e antes de dormir como papas de leite mesmo que só a fazer de conta, mesmo sem sono nem dormir nem cama nem lugar nem leite nem nada. Resta o pão.

Tem uma certa graça tudo isto.

Talvez agora seja já nove. Sejam. E de caminho, quantas partes tem um frango? Um frango assado...

Estações - Milan

quarta-feira, 18 de março de 2009

#29

E sem que ninguém o pense, pela noite letras vermelhas vão fazendo frases nas paredes que por acaso nem são de papel mas sim de madeira, primeiro timidamente, mais tarde, subitamente, ganhando proporções equivalentes a um banho de sangue.

Se bem que poucos alguma vez as entendam, que há coisas completamente independentes da lingua e um um pato-vampiro pode perfeitamente ser um chinês mal-cheiroso, lá estão a sorrir para quem passa.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Rae

Dizia a lili que estar vivo é o contrário de estar morto, talvez não fosse assim tão absurda a frase embora o pareça.

Mozart, está vivo ou morto? Shakespeare, Orwell, Saint-Exupéry, Cobain... Estes todos que se conhecem só das palavras e ainda mais alguns que pudémos abraçar antes de dormir e sussurrar meia dúzia de palavras ao ouvido. Mortos ou vivos?

E quantos mortos andam pendurados pelo mundo mesmo que respirem todos os dias, que o coração lhes bata a todos os segundos?

No meio disto tudo, os sonhos. Aqueles de dormir, e os outros de olhos abertos que fazem olhar para o lado e estender a mão mesmo que agora nada tenha que ver com vida e morte mas sim com outra qualquer coisa também quase surreal, como o facto de as formigas trabalharem para o formigueiro enorme e eu não achar grande piada a abelhas a não ser desenhadas em qualquer coisa, se não também podia falar de hexágonos perfeitos.

Porque hoje havia alguém que vendia girassóis na rua.

Estações - Wien

segunda-feira, 9 de março de 2009

Preço

Dois cêntimos. Valem quanto? Tanto quanto a vida dizem uns, mais que ela dirão outros. E o sol? Vale o quê? A algazarra nas ruas, o barulho dos autocarros, o poder ver um planeta estrela durante quase todos os dias que o ano tem, o saber em que estado está a lua -se bolacha trincada, se bola redonda e brilhante-, o sorriso do puto reguila às primeiras horas da manhã, a gorda do café que anda arrastando os pés tal a falta de força que tem -para viver também-, o travo amargo do café tantas vezes bebido só porque sim, o frio das pedras húmidas, tudo coisas que são quase nada para quem não repara.

Ouço uma velha canção que fala de gente que vive sem dar por nada.

Sim, que há quem viva sem saber da festa e dos foguetes, sem saber da primeira estrela que se mostra todos os dias, da cidade debaixo da cidade, da beleza das letras independentemente da forma com que as juntam, da distância que a luz percorre num ano e que comparados com a dimensão de um formigueiro à escala da formiga tudo o que os homens erguem soa a minúsculo. E as pontes? O cerco às cidades? Coisas, são tudo coisas...

Do fundo do tempo fala uma voz rouca e cansada, diz que o amanhã não existe, fala de meteoritos e bombas, carteiras roubadas e sorrisos. Sorrio também e adormeço embalado pelas palavras, afinal, nem todos tiveram o prazer de pisar um chão-obra-de-arte enquanto o tempo parava de dois lados da mesma rua.