sábado, 30 de maio de 2009

Manhã

"não sou luz da serra
nem sombra nem luz
nem sombra da noite
no alvor da madrugada
não sou coisa nem nada
talvez louco
o louco não tem número
o limite da soma é o vazio"

Manel Cruz, "Canto dos Homens Conto"

quarta-feira, 27 de maio de 2009

#31


[grito]



era isto.

Hoje

Uma biblioteca enorme,
Espaço,
Calor,
Pouco mais de um euro, não tão pouco como dois cêntimos,
Frango,
Batatas,
Frango,
Arroz,
Relva,
Garrafas,
Frio,
Chuva,
O velho bar,
Corredor,
Chão,
Noite,
Fogo,
Papel,
Gritos,
Música,
Palavras,
Portas,

E todo o vazio que se esconde algures no meio do ar,

E uma cara, uma voz, uma mão, um sorriso, um par de olhos,

Longe.

Restos


Oświęcim

segunda-feira, 25 de maio de 2009

domingo, 24 de maio de 2009

Estrada

Os milagres acontecem. Em dias estranhos. Em dias que depressa se transformam em noite e novamente em dia. Em noites em que as linguas se pintam de negro e deixa de haver longe. Em estradas onde carros se conduzem sem mãos e os postes têm o cuidado de se desviar.

#30

A inveja é, de facto, uma coisa fodida.

dos Rinocerontes cor de mel

Preto e branco.

As fotografias velhas espalhadas pelas paredes agora meio amareladas pelo tempo mas que já foram brancas, cal. As teclas do piano abandonado a um canto. Uma televisão que até mostra imagens coloridas mas que podiam ser só como dantes.

Preto e branco, preto e branco, preto e branco.

Dois gatos, duas cores.

Dois cães, duas ruas, duas casas.

Os ratos são cinzentos. Alguns, pelo menos, que depois há os ratos brancos e os outros de mil e uma cores.

Ratos de mil e uma cores.

Isto vai tudo dos olhos de quem vê...

E se as teclas do piano fossem pintadas de verde e rosa?

O som seria igual que isto há sempre dois lados, o de quem suja as mãos para fazer as cordas cantar e o de quem se limita a fechar os olhos para as ouvir. O som seria sempre diferente, o som será sempre diferente, o som é sempre diferente para quem se senta a ouvir. O verde e rosa de quem toca subitamente descolora. O preto e branco ganham cor.

Mas isto são só analogias de cores, sons e pedacos de carne a bater na madeira.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Estações - Bohumin

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Dias

Contudo, contudo,
Também houve gládios e flâmulas de cores
Na Primavera do que sonhei de mim.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária,
Também tive quem também me sorrisse.

Hoje estou como se esse tivesse sido outro.
Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.
Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.

Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.

Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse,
Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,
Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.
Sou imparcial como a neve.
Nunca preferi o pobre ao rico,
Como, em mim, nunca preferi nada a nada.

Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.

Álvaro de Campos