terça-feira, 11 de outubro de 2005

As Trupes, outra vez

Coimbra, apesar de ser a cidade dos estudantes nem sempre gostou muito deles. No século XIX, a cidade estava dividida em duas partes, a alta e a baixa, sendo que a alta “pertencia” aos estudantes, que por sua vez eram tidos como intrusos quando se aventuravam pelas ruas da baixa, pertencentes ao comércio, ou seja à classe trabalhadora.
Esta rivalidade entre estudantes e fútricas não vinha só das diferenças sociais, mas também de um pequeno pormenor: os estudantes tinham o hábito de se “atirarem” às lavadeiras do Mondego. É desse tempo que vêm as famosas serenatas. Sendo assim era perigoso andar pela baixa, e quando se aventuravam, as sessões de pancada eram intermináveis, pelo menos até ao momento em que chegavam as autoridades. Não que elas resolvessem alguma coisa, mas todos se viravam contra as forças policiais. Para proteger os estudantes foram criadas as Trupes, que tinham como função não só punir aqueles que se aventuravam a andar pela rua a horas menos próprias, mas também proteger as “fronteiras” da alta. Não é por acaso que as insígnias da praxe são a tesoura, a colher de pau e a moca. Se bem que o objectivo da tesoura e da colher de pau era a praxe punitiva (aos caloiros era rapado o cabelo, e aos doutores era aplicada a sanção de unhas), já a moca servia de defesa contra possíveis invasores. Nessa altura as Trupes poderiam actuar a partir das seis da tarde, hora em que a Cabra tocava pela última vez. Segundo o actual código da praxe as Trupes podem ser formadas a partir da meia-noite, junto à porta férrea. Os caloiros que forem apanhados na rua depois da meia-noite são rapados. Aos doutores é aplicada a sanção de unhas que consiste em apanhar com a colher de pau nas unhas tantas vezes quantas as matrículas (em número impar, quando em número par arredonda-se para cima) de cada elemento da Trupe. As horas a que os doutores podem andar na rua variam consoante a sua hierarquia na praxe. Os elementos da Trupe devem andar de cara tapada com a capa traçada de modo a que não se veja branco no traje. Os membros da trupe também não podem ser reconhecidos sob pena de a Trupe ser desmobilizada. A tradição é para ser mantida, e quem aceita a praxe tem de a aceitar tal como é. Com todas as suas virtudes e defeitos.

Dura Praxis, Sed Praxis
A Praxe é dura mas é a Praxe.

10 comentários:

Shootingstar disse...

Hummm, agora me questiono... e em Évora as trupes existem devido à serenata a quem??? Adorei um pouco de história de Coimbra. Confesso que não conhecia. Tenho uma amiga que estudou aí e que irá adorar ler este post de certeza :)))

Bruno disse...

Toda a Praxe deriva de Coimbra.. Dai em Evora também haver trupes! :) Desculpa estar a responder a outra pessoa no teu post! Gostei bastante de ter por ca passado! Tenho que passar por cá mais vezes! :)

kikas disse...

Adorei conhecer a verdadeira explicação do sentido da praxe...eu também tive mas como foi em Lisboa foi muito soft :-)
beijocas
kikas

Wakewinha disse...

Agora tudo faz mais sentido no que diz respeito às trupes! Obrigada pela simpática explicação via mail... ;)

Maria Cereja disse...

Mto bem:)
Gostei bastante desta explicação principalmente agora que vou passar a dar uns saltinhos regulares a coimbra e a dormir na alta;)

maria disse...

:)
"elas" andam aí!!!

Leonor disse...

olha que giro. gostei de saber. conta mais coisas destas.
abraço da leonor

Henrique Santos disse...

A contribuição de alguns blogs para o conhecimento da nossa vida é uma grata constatação.
Obrigado pela contribuição.
Gostei, e voltarei...
Ricky

maresia disse...

mas quando é que acaba a praxe e voltas aqui para contar???

WB disse...

http://notasemelodias.blogspot.pt/2014/07/notas-as-trupes-academicas-origens-e_2.html

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