sexta-feira, 27 de julho de 2007

Metros

Tenho dois metros quadrados na minha cidade. Dois metros, em locais diferentes, que são só meus, embora todos os dias outros por lá estejam ou passem. Pouco me importo, não os estragam. Nesses, tão meus, dois metros anda, a certas horas a tão procurada paz, tanta, tanta à espera de ser comtemplada.

É pena que os seres que vagueiam por lá nunca a sintam, sintam que a paz não se pode ver, gostava de lhes contar um dia como a podem encontrar mas acho que não me iriam querer ouvir. Não imagino as mulheres apressadas que levam os putos à escola a parar um bocadinho, mesmo que isso lhes tornasse o dia mais agradável.

A pressa, sempre a pressa. Não há tempo para nada nesta merda de mundo feito por adultos cinzentos vestidos com os seus fatos coloridos. Os pais não podem estar com os filhos por causa do emprego que tem que ser levado para casa que os prazos são para cumprir e o dinheiro precisa de aparecer no fim do mês para pagar a divida contraida para comprar entre outras coisas a centrifugadora que nunca usou para fazer um sumo que fosse para o pequeno almoço do filho. Não há tempo, não há tempo. Nunca há tempo, mas ele corre sem avisar até ao dia em que alguém se senta e vê que o tempo que nunca houve foi passado numa cadência de movimentos que em nada contribuiu para a sua felicidade, que por acaso, até não existe.

Milhões de pessoas de mão dada neste mundo só porque sim, a cantar o que lhe dão para ouvir porque sim, a dizer o que acham que os outros querem ouvir sem soltar um "foda-se" que seja. Cabecas de fósforo incandescentes que não param um pouco para pensar naquilo que os rodeia. Máquinas de carne e osso a vaguear por ai até chegar a sua hora.

Gostava que me entendessem quando digo que atortouo o tempo, gostava que soubessem que é possível ter longas conversas sem que uma palavra tome forma, gostava que soubessem que as cores não são da cor que vemos mas sim da cor que julgamos querer ver, gostava que percebessem que tudo tem um fim e que o nosso está bem próximo e que a vida acaba assim, só, assim, Um assim que pode durar segundos ou dias. Gostava que acreditassem que "o que não existe não tem fim" e pudessem sorrir pelo menos uma vez que fosse na vida sem se preocuparem com o restinho de alface que ficou preso no dente. Vivo num mundo de GTI's, esse mundo real, onde não há lugar para quem gosta. Eu gosto. Saí.

Os meus metros continuam lá à espera de quem queira paz.

2 comentários:

bEtA disse...

Eu até te perguntava onde são esses 2 metros ou até te dizia que é o mundo que ninguém estranha ou até concordava contigo em tudo o que disseste mas não o faço.
Estou com pressa, "foda-se"!

:p

marisa disse...

Também tenho dois metros desses, mas dentro de mim.Nem sempre lá existe paz para contemplar, mas por mais pressa que lá tenha ou por mais rotinas que lá repita, a paz aparece sempre entre uma coisa e outra, para me ajudar a dar algum sentido ás coisas...
(para ser sincera não é bem dois metros...é mais um metro e sessenta e cinco :P que existe dentro de mim!)

Enviar um comentário