sábado, 14 de outubro de 2006

Fim?

Sempre presentes. A meio da tarde num carro vagabundo, ao inicio da noite numa casa velha, mais tarde à hora de jantar e de madrugada nas mãos do Alvim.

Num tempo em que tudo tende a ser efémero sabe sempre bem saber que há quem não esquece, quem gosta, quem tem gosto a ouvir. E há sempre duas maneiras de ver as coisas. Como uma vez li, ou ouvi alguém dzer, qualquer coisa como "Até a rua mais sombria pode ser a mais bela do mundo, tudo depende da disposição de quem a olha"...

O som ficou, as palavras também. Ornatos Violeta, sempre presentes.

Filho de outra guerra no trilho de outra paz...

Eu sei, eu quis demais
E o sonho nada traz
Sonhar seduz a paz

Eu sei eu vi em meu crescer
Que eu vou sempre dar a mim
Imploro a luz e sigo sempre a sombra
Imploro a morte e volto a luz

Alguém pensou em mim a boca da varanda
Eu não senti que houvesse alguma razão para amar
Imploro a queda como quem não quer saber

É tempo de nascer devagar
Não quero ver o fim chegar sem eu nascer
Devagar eu não quero ver o fim sem eu nascer

Quando eu sonho eu levo a minha força até ao fim
E quando o sonho acaba cego eu olho fundo para mim
Não vejo nada alem da tão real ausencia de outra luz
E só por ela volto a minha cruz, a minha cruz

Eu vi meu pai nascer na mesma cama de outros homens
E hoje eu sei, eu aprendi
Já nada importa agora a luz que eu trago de onde vim
Se há luz la fora eu quero que haja luz em mim

É tempo de nascer devagar nao quero ver o fim chegar sem eu nascer
Devagar eu não quero ver o fim sem eu nascer

Vem ver quem vi nascer
É filho de outra guerra
No trilho de outra paz

Alguém entrou em mim
Entrego a minha espada
Eu não senti que houvesse alguma razao para amar

Imploro a queda como quem não quer saber
É tempo de nascer devagar
Não quero ver o fim chegar sem eu nascer
Devagar
Eu não quero ver o fim sem eu nascer

Nascer devagar

Ornatos Violeta, Nascer Devagar

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Aquecimento

O aquecimento para a latada começa amanhã. Recepcção ao caloiro do politécnico.

Quim Barreiros e Fernando Alvim. Adivinha-se uma bela noite...

domingo, 8 de outubro de 2006

Pedras

A cidade está cheia, de vida, de pedaços de vidas espalhados por todo o lado. Em cada ruela, para além das personagens míticas, há histórias à espera de serem contadas. A cidade começa também a ficar cheia de gente nova. Os futuros fazedores de história já enchem as ruas...

Há uns dias atrás foi dia de ir ao baú buscar as melhores, aquelas que ficam na memória para sempre. Curioso é ver que quase todas tiveram lugar numa qualquer noite mal planeada, passada num canto qualquer, onde a história, aquela, fica escrita para ser lida quando já não houver memória para a contar.

Não é difícil passar em certas ruas e ouvir as pedras a falar. Só assim é possível saber o que lá se passou há muitos anos atrás. As pedras falam para todos os que as quiserem ouvir. E ainda há muita história para contar.

domingo, 1 de outubro de 2006

#3

Um erro. Um simples erro e a vida nunca mais é a mesma. Um acto de egoismo puro que poderia ter morto alguém. Não esqueço, não porque não queira mas simplesmente porque não consigo.

E o que li, mesmo não tendo sido escrito para mim, só faz aumentar a culpa. Mas culpa de quê? Precisava de desligar por uns tempos, queria ter um botão off que me deixasse a hibernar por dentro, pois por fora liguei o piloto automatico. Quase tudo me passa ao lado, as palavras, as pessoas, tudo se transforma num imenso ruído, ondas sonoras sem qualquer sentido.

Sinto que ajudei a roubar um sorriso e só irei ter descanso quando o encontrar...

#2

Roubam-me Deus
Outros o diabo
Quem cantarei?

Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei?

Sempre há quem roube
Quem eu deseje
E de mim mesmo
Todos me roubam
Quem cantarei?

Roubam-me Deus
Outros o diabo
Quem cantarei?

Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei?

Roubam-me a voz
quando me calo
ou o silêncio
mesmo se falo

Aqui d'El Rei.
Aqui d'El Rei.


José Afonso, Epigrafe para a arte de furtar

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Mapa

há um sitio mágico escondido algures no tempo, uma espécie de buraco onde o tempo pára e onde tudo ganha uma dimensão diferente.

passo tantas vezes por lá, mas apesar de tudo ainda não consegui fazer um mapa para lá chegar quando quiser.

resta-me vaguear até voltar a encontrar o espaço no meio das horas. podia ser amanhã...

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

Lustro

Cinco anos passaram desde que as torres cairam. Muito se fala, pouco se diz. Terrorismo? Sim, de certeza. Resta saber quem são e onde estão os tais terroristas. Eu desconfio de alguém parecido com um macaco, não só fisicamente, mas também a nível mental.

Já agora, acheio bonito o gesto de terem sido lembrados os nomes de todos aqueles que sem terem tido qualquer tipo de culpa, foram apanhados pela queda. Poderiam aproveitar a bondade e fazer o mesmo em relação aos iraquianos e afegãos também apanhados numa guerra que não era a sua.

Também é curioso ver como é que dois livros servem de pretexto para este tipo de crueldade... Uma coisa é certa. não vou esquecer aquele dia tão depressa.

domingo, 10 de setembro de 2006

Há uma semana na minha cabeça...

Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.

Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.

Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.

Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.

Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.

Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.

Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.

Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo...

Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro as milhões.

E diz o inteligente
que acabaram as canções.

José Carlos Ary dos Santos, Tourada

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

"Avante!"

Rumei até à Atalaia para ver como era a festa. Quando há dois meses me lembrei de ir diziam “Aquilo é uma festa de comunistas para comunistas…”. Não liguei e fui lá na mesma. Eu que ando sempre a falar naqueles que se arrastam e fazem as coisas por fazer encontrei ali uma mundo diferente. Centenas de pessoas a trabalhar por uma festa, uma causa, sem receber nada mais do que umas palavras de apreço, sim porque a maioria comprou na mesma a entrada não por obrigação mas sim por solidariedade. Musica, muita música durante os três dias. E um grupo que recomendo a todos, “A Naifa”, um bom projecto com bons músicos e uma bela voz, com alma. Foi deles que saiu para mim o melhor momento da festa. Perante um auditório a abarrotar de gente, apesar do calor sufocante, com a Maria a fazer força para não chorar sempre que acabava de cantar uma canção tal era a força dos aplausos. Fim do concerto, encore com “A Tourada”. Um momento para recordar durante muitos anos. Porque para lá de todos os concertos é disto que é feita a festa. Emoções. A emoção expressa em saltos e danças quando tocava a Tal musica... A emoção de ver o Tim, a fazer uma perninha a solo antes do concerto dos Xutos, não ter mais nada que cantar e começar a “Por quem não esqueci” gritada a plenos pulmões por todos os que por lá estavam. E o Sérgio. O regresso num auditório pequeno para todos aqueles que lá queriam estar. A primeira música, “O primeiro gomo da tangerina”, um discurso engraçado antes de cantar a canção que eu e muitos como eu ansiavam ouvir há muitos anos atrás quando os “Amigos do Gaspar” nos ensinavam a crescer. E muitas, muitas mais cantadas a plenos pulmões por muita, mas muita gente. No palco principal os Xutos fizeram-se ouvir de uma maneira diferente, tal como a mãe de quem acabou com a festa, “Boss AC”, a cantar a “Saudade” de Cesária Évora, mais todos os outros que por lá passaram ao longo de três dias. Nenhum daqueles concertos foi como todos os outros que já vi. Há toda uma envolvente que transforma as coisas… Mas não só de música é feita a festa. Há tanta e tanta coisa. Livros, muitos livros juntos numa grande feira, mais música, mais uma feira, do disco, muito bem composta. Teatro, de palco e de rua, cinema, comida de todo o país, uma delícia… E as pessoas, o povo da paz como lhes chamou um dos meus amigos, velhos, novos, de todo o país, uma mistura de sotaques em todas as ruas… Sem muitos seguranças, sem polícia, sem todo o aparato que costuma ser visto noutros lados não vi desacatos. Curioso não? Camaradas e amigos por todo o lado, uma atmosfera fantástica, apesar de meros desconhecidos havia uma relação entre todos, tudo ligado no sítio onde tudo se oferece em troca de pouco… Grande festa é o que tenho a dizer. Não sei o que mostrou a TV, não sei o que disseram os rádios nem sequer o que veio escrito nos jornais, mas tudo isso deve ter sido pouco. Paralelamente a isto tudo, há a politica. Não me passou ao lado pois até o comício vi, ao sol. Ainda não me conseguiram converter, mas ganharam ainda mais o meu respeito. Pela organização, pela mobilização e pela simpatia. Para o ano penso lá voltar…