(Porque há sempre um dia que torna tudo simples, tão simples)
As pessoas são más. As pessoas são más e não querem ser boas. Dia após dia dou por mim a viver num mundo onde o ridículo se sobrepõe a tudo e todos. Em todo o lado, em tudo o que estou metido, em tudo o que vejo e participo ninguém quer fazer nada. Ou melhor não se importam de fazer desde que não tomem decisões. As pessoas de hoje preferem ser paus mandados do que assumir responsabilidades. Não há acção, não se pensa só se critica. E essas pessoas que não mexem uma palha são sempre as primeiras a criticar. Num mundo onde se esqueceu tudo o que é verdadeiramente importante por causa de umas moedas, sim porque hoje só o dinheiro comanda as pessoas, nesse mundo eu vejo muitas portas serem abertas à custa de um sorriso. É estranho para mim ver que o “Bom dia” já não é usado, é também estranho ver que cada vez mais um “Obrigado” teima em sair. As pessoas de hoje não existem, ou se existem escondem-se atrás de máscaras. Não falam a verdade sem beberem primeiro uns copos, porque não confiam em ninguém, e talvez não confiem porque ninguém pode confiar nelas. As pessoas não estão dispostas a mudar um bocadinho o fio da sua vida para ajudar alguém. Não perdem nem dez minutos do seu precioso tempo para dar uma mão. Esse tempo que depois é gasto a fazer coisas completamente fúteis. Fúteis porque não lhes dão prazer, mas sim reconhecimento. O fazer por fazer está instalado neste tempo. E eu não suporto isto. E continuo a tentar lutar contra a corrente, o que não é bom pois fico cansado e sem forças para fazer o que queria como queria. As pessoas podem mesmo deixar morrer as outras porque não abrem os olhos. Em vez de olhar para dentro, olham apenas para fora. E não sentem, não pressentem nada. Qualquer dia hão-de acordar, olhar para o lado e não encontrar ninguém. Mas as moedas estarão sempre na caixa.
Vi nesta queima, numa noite feita manhã, uma pessoa ser abandonada à sua sorte. Fiz o que podia, mas pude pouco. Falhei. “As pessoas não prestam”, dizia ela."Tens razão", disse eu.