sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Azuis

O espaço em frente para lá do sufoco da cidade que se deixou ficar do lado de trás dos carris. A ténue linha que separa os dois azuis, a silêncio das garrafas espalhadas pelo chão, o murmurar calmo das ondas e o brilho da manta de água visto lá do cimo das pedras que impedem a passagem para outro lado.

Toda a paz do mundo, ali, numa meia dúzia de metros quadrados. E até lá, longe de tudo, há uma cara branca e sorridente que faz atravessar a estrada para colar os olhos a um vidro e pensar no corrupio da cidade sufocante onde não deixo de voltar.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

9:23

Rumo à paz do fim da terra...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

"Há quanto tempo não te via!"

E nos dias em que o sol teimava em não brilhar, chegavas com todas as tuas histórias e mundos e vidas e sei lá que mais e punhas-te a perguntar o porquê de haver pessoas de bigode. Depois, quando se acababa mais um cigarro e respiravas fundo pensando em tudo e no nada ao mesmo tempo, quando naquele instante todo o mundo se apoiava em ti e te secava, depois sorrias e tudo voltava a ser igual.

Agora voltas com a tua cara séria de menina grande que parece presa a um qualquer futuro e tens medo de sorrir, mas não não és capaz de deixar de ser o tal bicho com asas... Ao primeiro espaço divagas e falas de mundos que só podem ser teus, deixas-te levar até que chegam novamamente as correntes que te prendem a alma cansada que trocaste por um beijo de boa noite todos os dias.

Eu olho e sei que ainda és tu, sei que ainda estás ai, por detrás dos olhos azuis que também sabem sorrir. Ainda um dia vamos ajudar a mover o mundo a sonhos. E desta vez não estamos sós...

domingo, 4 de novembro de 2007

Fugir

Quero fugir. Quero fugir sabes?

Pegava ainda hoje no pouco que tenho e ia embora para um qualquer lado desde que fosse longe. Não sei para onde, se calhar nem queria mesmo saber para não correr o risco que me fossem buscar. Precisava de voltar a ver o sol morrer à tarde sem casas a frente, precisava de não ter de acordar e fazê-lo só porque sim, precisava de desligar. Sem rumo, sem lugar, sem destino.

Ando cansado, cansado dos vazios que vejo e sinto nos olhos que todos os dias me aparecem a frente. Tão frios, todos tão frios, tão distantes. Lá aparece de vez em quando um outro mais brilhante qual excepção que confirma a regra, mas nada mais que isso. Olhos tristes em corpos que se arrastam... Tanto cinzento, tanto, tanto.

E é por isso que me vou deixando ficar perto do arco-iris, quando o vejo, quando o sinto, porque fujo sem mexer os pés e descanso nesse gomo laranja que poucos conseguem ver, é por isso que o vou procurando. Pela paz que se forma entre dois sorrisos mesmo que por breves segundos, por vezes algumas horas. Ainda quero fugir sabes? Para algures onde haja azul e gritos de gaivotas pela manhã...

Algo

Uma espécie de maneira de dizer palavras a que alguém chamou lingua. É bom (re)encontrar pessoas que falam a mesma.

- E então aquelas pessoas sonhavam e a nave mexia-se com a energia libertada pelos seus pensamentos, através dos tais psitrões.
- Uma nave movida a sonhos?
- Isso, é isso.
- :)

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Hoje

Milhares de pessoas rumando a lugares próximos, cidades afastadas, aldeias distantes... Todas numa correria infernal para ver pedras brancas ou negras, até mesmo casas, campas e jazingos e montes de terra. E lá vão elas e levam as flores e gastam o dinheiro e acendem as velas e queimam a cera e observam as fotos meio amarelas para se lembrarem das caras que o tempo lhes foi apagando da memória.

Terra e pó, nada mais que isso, lá, no fim de tudo. E o que fica é tudo o resto, ficam as palavras e os olhares e as casas cor-de-rosa e o cheiro a café pela manhã e os frascos de doce com canela. Para lá do que existe, para lá das pedras frias que são nada, resiste o ser em quem o lembra, talvez por nunca ter esquecido.

Cai a noite e céu reflecte a luz que ainda vai ardendo em copos de plástico vermelho, murcham as flores. Para o ano voltarão sem saber bem porquê. Não vou, não preciso. As flores dão-se em vida...

#10

-Porque é que se morre?
-Talvez por não se sonhar bastante...

Fernado Pessoa, O Marinheiro

Upstairs

domingo, 28 de outubro de 2007

Perspectiva

-Sobe um pouco, olha e vê se encontras.
Subo e olho, olho mas não encontro.
-São todos iguais.
-Ah! São nada.
-Sobe tu.
-Pois são...

sábado, 27 de outubro de 2007

Escolhas

Chega uma hora em que a confusão é tão grande que já ninguém sabe bem quem é o que é ou ou que anda a fazer. Chega o dia em que a confusão é ainda maior. Chega a vez em que a teimosia dos actos leva a um arrependimento que nem sequer o é. E em dias em que se perde mais uma vida mais ou menos próxima a terra gira na mesma e nada para. Segue tudo no seu ritmo incerto até ao infinito dos dias.

Entre o que achava que devia fazer e o que queria ou não fazer escolhi o não querer. Agora a confusão é grande. Já passou e a vida segue algures por ai. Entre as escolhas de pessoas não muito normais que confundem as ideias que surgem entre dias claros e escuros ao mesmo tempo.